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Nem Bruna Marquezine salva 'Besouro Azul' de ser um filme genérico

Filme acena a temas sérios da mesma forma que usa referências pop, reduz brasileira e termina preso em boas intenções

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Besouro Azul

  • Quando Nesta quinta (17), nos cinemas
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Xolo Maridueña, Bruna Marquezine e Susan Sarandon
  • Produção Estados Unidos, 2023
  • Direção Angel Manuel Soto

Os filmes de super-herói andam tão saturados da própria fórmula que agora o público se acostumou a assisti-los pelo detalhe. O caso de "Besouro Azul" é emblemático: aos brasileiros, a produção já surge como um veículo para Bruna Marquezine, que faz sua estreia em Hollywood. Os americanos, por sua vez, veem o filme de Ángel Manuel Soto como um produto para a representação latina na indústria.

Os gringos são o verdadeiro alvo da produção, mas no fim isso não importa. De tão homogêneo, o filme dá a todos migalhas, seja nas referências a "Chapolin Colorado" ou na presença da atriz brasileira na tela. Uma ironia cruel, se pensar que diversidade, um valor que pede pelo específico, agora virou mera etiqueta simbólica com o público.

Besouro Azul
Bruna Marquezine, ao centro, em cena de 'Besouro Azul', de Ángel Manuel Soto - Divulgação

Mas esse raciocínio é um pouco injusto com as poucas boas intenções de "Besouro Azul". O filme evita ser desonesto, e até na premissa se encena como ingênuo. O longa é a típica história de origem, um caminho que hoje soa sincero no caminhão de sequências e eventos megalomaníacos do gênero.

A ingenuidade, aliás, define o protagonista Jaime Reyes, vivido por Xolo Maridueña, com boas intenções. Recém-formado na faculdade de direito, ele retorna à casa dos pais cheio de planos, mas encontra um cenário desastroso. O negócio da família fechou, o pai se recupera de um infarto e o governo está prestes a tomar o lar.

Para tentar reverter o cenário financeiro, Jaime logo encontra um trabalho de faxineiro, o que o leva para a mansão de Victoria Kord, a magnata armamentista vivida por Susan Sarandon. A empresária o demite, e sua sobrinha Jenny, papel de Marquezine, promete um emprego ao garoto na corporação.

Mas o azar de Jaime é crônico. Ao chegar no prédio da empresa, alguns dias depois, ele logo é enxotado por Jenny. A sobrinha roubou um estranho artefato das instalações da tia e, em apuros, confia ao garoto a proteção do objeto. Em casa, Jaime ativa o aparato sem querer, e este se revela um alienígena chamado Khaji-Da. O bicho escolhe o jovem como hospedeiro e o transforma no poderoso Besouro Azul —o que o faz alvo número um de Kord, que quer usar a tecnologia para criar um exército.

A trama do filme é a mais tradicional possível, portanto, e tem como único diferencial o fato de o protagonista ser de uma família de imigrantes mexicanos. Os Reyes inclusive vivem na periferia da cidade, onde reclamam dos efeitos da gentrificação e da falta de oportunidades.

Quando isso é abordado, sente-se o interesse do longa em contemplar os problemas sociais. Até mesmo a vilã Victoria é parte disso. Lá pelas tantas, descobrimos que ela é má porque o avô de Jenny, ao morrer, escolheu o irmão dela para assumir o negócio. Um caso fatal de machismo, como diz Jaime ao ouvir a história.

Esse comentário, além de constrangedor, define o quanto "Besouro Azul" está disposto a permanecer formulaico. Os temas sérios estão mais para objetos de cena, ocupando espaço para igualar alguma expectativa superficial de representatividade. A lógica é parecida com os acenos mais pop, que vão de "Chapolin" ao filme "Cronos", de Guillermo del Toro, por questão de afinidade nacional.

A direção econômica de Manuel Soto, nesse sentido, alimenta a fragmentação. "Besouro Azul" não é histérico como o desastre em movimento de "Flash", mas termina tão espalhado quanto.

Bom exemplo é a família Reyes. Sua história flerta com o trágico, mas seus membros boa parte do tempo servem de alívios cômicos estereotipados. Como a avó, que se revela uma filha da revolução para despertar risadas no público.

Essa trama não conversa com a vilã de Susan Sarandon, que na atuação parece trabalhar em um filme à parte. Seu trabalho lembra os exemplares do "hagsploitation", subgênero do horror em que atrizes veteranas se prestam ao papel de loucas desvairadas. Ou seja, o longa de novo mostra um desconforto com os mais velhos.

E Marquezine? A atriz brasileira trabalha em um espaço esquisito em sua primeira incursão por Hollywood. Por um lado, sua personagem tem amplo espaço, servindo de interesse romântico e motor da história. Por outro, a montagem em vários momentos a desfavorece, cortando cenas em que sua atuação está prestes a se impor —na primeira delas, lá na mansão da tia, a briga com Sarandon é picotada para o lado da mais jovem.

A situação sugere a falta de confiança, mas no fim é um bom resumo da obra. No interesse de diversificar, "Besouro Azul" quer mesmo é ser genérico.

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