Descrição de chapéu tiktok

Quem é Luan Pereira, que impulsiona o agronejo com vídeos de comédia no TikTok

Amigo de Ana Castela, cantor usa as redes sociais para tentar se consolidar no subgênero do sertanejo que exalta o agronegócio

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O cantor Luan Pereira

O cantor Luan Pereira Rubens Cavallari/Folhapress

São Paulo

Mesmo tendo passado parte da infância longe da roça, em Suzano, na região metropolitana de São Paulo, Luan Pereira sempre se viu como um menino do mato. Rodeado de amantes da música sertaneja, o garoto se vestia de caubói, montava num cavalinho de madeira, agarrava um violãozinho e trotava pela casa ao som de duplas como Gino & Geno e Chitãozinho & Xororó.

Aos cinco anos, ele se mudou para Rosana, na divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul e Paraná. Cresceu entre a casa dos pais e o sítio de um tio, onde atazanava as galinhas, tentava aplicar vacina em boi e tocava violão. Quando chegou à adolescência, começou a se arriscar no microfone, cantando em barzinhos.

Hoje, aos 19, ele veste chapéu e botina por onde vai na tentativa de se consolidar como um dos principais nomes do agronejo, vertente do sertanejo que exalta a figura do fazendeiro e o agronegócio.

O cantor Luan Pereira
O cantor Luan Pereira - Rubens Cavallari/Folhapress

Tem dado certo. Esta semana, Pereira emplacou duas músicas entre as 50 mais ouvidas do Brasil no Spotify, com uma delas, "Moletom", que canta com Gustavo Mioto, ocupando as dez primeiras posições.

Pereira afirma que representantes do agronegócio estão entre os principais incentivadores de cantores como ele, Ana Castela e a dupla Leo & Raphael, os protagonistas do agronejo.

"A galera apoia muito porque batemos no peito falando que viemos da roça e defendemos a essência caipira", diz. "[O agronegócio] alimenta, traz o pão de cada dia, a carne que a gente come, o algodão das roupas. Tudo o que a gente come, veste e respira é agro. Por isso que gosto de pregar isso nas minhas músicas."

Ainda que o agronegócio seja constantemente associado à direita e a Jair Bolsonaro, a quem os principais cantores de sertanejo apoiaram nas eleições, ele rejeita qualquer relação com política. "Não me envolvo em assunto político. Tenho opiniões que guardo para mim porque não é meu foco pregar isso. Não me sinto bem falando. Para evitar que as pessoas me entendam errado, não me envolvo", afirma.

Pereira despontou primeiro nas redes sociais, especialmente no Instagram, onde publicava vídeos cantando músicas famosas com seu vozeirão rouco.

"Cheguei a 20 mil seguidores quando postei um vídeo cantando Felipe Araújo. Viralizou", relembra. "Chegou muita gente no meu perfil —compositores, pessoas verificadas, cantores e influenciadores dizendo ‘não desiste’. E também tinha gente tacando o pau, dizendo ‘que voz ruim, ele força para cantar, faz careta’. O pau torando, e eu nem aí."

Foi a partir de um viral que, em 2020, ele chamou atenção de seu empresário, Fernando Scabora, um dos principais executivos por trás do agronejo. Então, Pereira gravou sua primeira música. Mas o resultado ficou ruim, diz Scabora.

"Era uma música romântica. A gente não curtiu o estilo que o Luan estava incorporando, usando um cachecol, com o cabelo penteado para cima. Ele é um cara da roça, que anda de botina. Pensamos ‘vamos partir para outro caminho’", relembra.

Pereira se lançou em janeiro de 2021, com "Do Mato Pro Mundo", sobre a paixão de duas pessoas do campo. "Bruto e jeca de tudo/ eu, você e a viola no meio do mato, isolados do mundo/ pra mim a gente tinha tudo/ mas você recusou meu jeito xucro", diz a letra da canção.

Mas sua carreira só despontou com "Pira nos Caipira", um misto de eletrônico, sertanejo e funk que viralizou no TikTok com dancinhas e vídeos sensuais. O hit foi produzido por DJ Chris no Beat, que levou Ana Castela à fama com "Pipoco", uma das músicas mais tocadas do ano.

Pereira decidiu então incorporar sua figura de agroboy às batidas de funk em letras cheias de sensualidade e ostentação. É o caso de "Botadona Bruta", "Ela Pirou na Dodge Ram", em parceria com MC Ryan SP, e "Roça em Mim", ao lado de Zé Felipe e Ana Castela, de quem é amigo.

É uma aposta que encontra resistência no meio. No ano passado, Jads, da dupla com Jadson, afirmou em um podcast sobre música sertaneja apresentado pelo pesquisador André Piunti que Tião Carreiro estaria se revirando no túmulo por causa da mescla do funk com o universo agro.

Pereira diz que seu trabalho estende uma "bandeira branca para a música". "O sertanejo pode gravar com funk e com o pop, sim. Mas eu sou sertanejo, doa a quem doer. Nunca vou deixar de falar do mato e do campo nem parar de tocar viola."

Para Piunti, autor de livros sobre sertanejo, é questão de tempo até que os mais conservadores embarquem na onda de Pereira e Castela. "Quem não gosta não tem o que fazer. Na Festa do Peão de Barretos, nesta semana, vão estar todos lá, dos mais novos aos mais velhos. Vai tocar funk em rodeio tradicional? Vai, porque tem público."

Apesar disso, Castela, tida como a maior representante do agronejo, tem se afastado do funk e apostado na sofrência. É, segundo o empresário dela, Rodolfo Alessi, uma estratégia para levar as músicas da cantora à televisão e ao rádio. Ela já canta "Sinônimos", com Chitãozinho & Xororó, na abertura de "Terra e Paixão", novela rural da Globo que estreou em maio.

Música à parte, na avaliação de Piunti, o pesquisador, o que faz Pereira se destacar é sua presença ativa nas redes sociais. Além de publicar vídeos cantando, o artista grava esquetes de comédia, fazendo piada com os versos de suas músicas, sempre com um trecho delas tocando no fundo.

Exemplo disso é o vídeo em que ele brinca com "nomes de mulheres que partem corações", visto mais de 25 milhões de vezes no TikTok. "Ele tem uma veia cômica. Não na música, mas no comportamento. Pode-se dizer que ele é a primeira grande cria do TikTok no sertanejo", diz Piunti. "Já tem muita gente copiando."

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