Descrição de chapéu The New York Times Filmes

Desempregados pelas greves em Hollywood buscam outros meios de sobreviver

No fogo cruzado por meses, operários da indústria não têm dinheiro para mantimentos e alguns perderam suas casas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brooks Barnes Nicole Sperling
Los Angeles | The New York Times

Katie Reis é técnica de iluminação de Hollywood há 27 anos, montando equipamentos para filmes como "Independence Day" e programas de TV como "Contratempos". Mas ela não recebe salário desde maio, quando as duas greves —dos roteiristas e depois dos atores— fizeram as câmeras pararem de funcionar.

Reis, 60 anos, desde então, foi rejeitada em empregos no Target e no Whole Foods, grandes redes de supermercados americanas. Agora, ela está procurando trabalho temporário em um shopping.

Katie Reis, técnica de iluminação com 27 anos de experiência, que não recebe há meses e que não foi aceita para outros trabalhos em redes como a Target e Whole Foods
Katie Reis, técnica de iluminação com 27 anos de experiência, que não recebe há meses e que não foi aceita para outros trabalhos em redes como a Target e Whole Foods - Philip Cheung/The New York Times

Seu filho Alex, um estudante do último ano do ensino médio, não pôde comprar sapatos novos para o início das aulas. "Se eu usar o fundo da faculdade de Alex, provavelmente tenho mais quatro, cinco meses", disse ela. "Mas depois não tenho mais nada."

As greves dos roteiristas, recentemente encerrada, e dos atores têm virado de cabeça para baixo a vida de centenas de milhares de membros da equipe —o equivalente aos operários da indústria do entretenimento— e muitos estão desesperados por trabalho.

Presos no fogo cruzado por mais de cinco meses, eles zeraram suas contas de poupança que, em alguns casos, já estavam menores devido à pandemia. Alguns não têm dinheiro para comprar mantimentos. Alguns perderam suas casas.

A International Alliance of Theatrical Stage Employees, por exemplo, que representa 170 mil membros da equipe na América do Norte, estima que seus membros da Costa Oeste sozinhos perderam US$ 1,4 bilhão em salários entre maio e 16 de setembro, a data mais recente para a qual os dados estavam disponíveis. A grande perda de horas trabalhadas, por sua vez, prejudica o financiamento de planos de pensão e assistência médica.

Mesmo que as empresas de entretenimento e o sindicato dos atores cheguem a um acordo em breve —o que se tornou menos provável após o colapso das negociações nesta semana— a produção não deve voltar ao normal até janeiro, no mínimo, em parte devido ao tempo necessário para reunir equipes criativas, um processo complicado pelas festas de fim de ano.

A pré-produção (antes que qualquer pessoa se reúna em um set) para novos programas pode levar até 12 semanas, enquanto filmes levam cerca de 16 semanas.

"Estou tentando controlar meu pânico porque não vai acabar quando as greves terminarem", disse Dallin James, cabeleireiro que depende de estreias de tapete vermelho e outros trabalhos relacionados a estúdios para cerca de 75% de sua renda.

Dallin James, que trabalha como cabeleireiro em Hollywood
Dallin James, que trabalha como cabeleireiro em Hollywood - Philip Cheung/The New York Times

O Writers Guild of America, sindicato que representa 11.500 roteiristas, chegou a um acordo preliminar com os estúdios em 24 de setembro e logo encerrou sua greve de 148 dias. Os roteiristas comemoraram seu novo contrato como o equivalente a ganhar um Super Bowl, descrevendo os aumentos salariais e as melhores condições de trabalho que conseguiram como "excepcionais".

O sindicato dos roteiristas disse na segunda-feira (9) que seus membros ratificaram o contrato com 99% dos votos.

O sindicato dos atores, o Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists, parecia estar chegando a um acordo próprio após entrar em greve desde 14 de julho, abrindo caminho para que as linhas de montagem de Hollywood voltem a funcionar. Mas as negociações entre o sindicato e os estúdios fracassaram após uma sessão na quarta-feira (11), criando mais incerteza.

Os atores pediram aumentos salariais, incluindo um aumento de 11% no primeiro ano de um novo contrato; um acordo de compartilhamento de receitas para programas e filmes em streaming; e garantias de que os estúdios não usarão ferramentas de inteligência artificial para criar réplicas digitais de suas semelhanças sem pagamento ou aprovação.

Isso causa emoções contraditórias para os trabalhadores do entretenimento que não tiveram voz nas greves e que não receberão aumento salarial quando voltarem ao trabalho.

"Eu entendo por que eles tiveram que entrar em greve", disse James. "Por outro lado, e nós? Não fomos realmente considerados em tudo isso. Parece que somos danos colaterais."

A Aliança dos Produtores de Cinema e Televisão, que negocia com os sindicatos em nome das principais empresas de entretenimento, não respondeu a um pedido de comentário para esta matéria.

Mais de 2 milhões de americanos trabalham em empregos direta ou indiretamente relacionados à produção de programas de TV e filmes, segundo a Motion Picture Association, uma organização comercial. Eles incluem escritores, atores e outros profissionais criativos "acima da linha", juntamente com executivos de estúdio.

Mas a grande maioria contribui de maneiras mais humildes. Eles são decoradores de cenários, operadores de câmera, carpinteiros, pesquisadores de locação, pintores, figurinistas, artistas de efeitos visuais, dublês, faxineiros, funcionários de folha de pagamento, assistentes e motoristas.

Um filme de super-herói de grande orçamento pode facilmente empregar 3.000 pessoas, com o elenco com menos de cem, incluindo figurantes creditados.

Gabriel Sanders, veterano operador de microfones boom que começou a dar aulas de ginástica e yoga para complementar a renda após as greves em Hollywood
Gabriel Sanders, veterano operador de microfones boom que começou a dar aulas de ginástica e yoga para complementar a renda após as greves em Hollywood - Audra Melton/The New York Times

"É desesperador —nossas equipes estão realmente sofrendo", disse a atriz Annette Bening, que preside o Entertainment Community Fund, uma organização sem fins lucrativos que fornece assistência financeira de emergência e outros serviços para trabalhadores da indústria.

"Essas são pessoas trabalhadoras, que têm muito orgulho. Elas não estão acostumadas a estar em uma posição de ter que pedir ajuda. Mas é onde estamos agora."

Com seu marido, Warren Beatty, Bening tem sido uma das doadoras famosas para o fundo, que distribuiu mais de US$ 8,5 milhões para cerca de 4.000 trabalhadores de cinema e televisão desde a greve dos roteiristas. Isso equivale a US$ 560 mil por semana, em comparação com cerca de US$ 75 mil por semana antes das greves.

A organização também realiza workshops online para ajudar os trabalhadores de Hollywood a lidar com avisos de despejo, entre outros tópicos.

"Isso terá um impacto duradouro", disse Bening. "Ainda esperamos um aumento significativo de consultas nos próximos meses, mesmo quando o trabalho for retomado."

Bening, indicada ao Oscar quatro vezes e estrela do próximo filme da Netflix "Nyad", sobre a nadadora de maratona Diana Nyad, tem participado de piquetes com outros atores nos últimos meses. Ela disse que a greve dos atores era "imperativa" dada a deterioração das condições de trabalho e níveis de remuneração na era do streaming.

Outras organizações sem fins lucrativos de Hollywood também têm distribuído dinheiro e realizado campanhas de arrecadação de alimentos, incluindo o Motion Picture & Television Fund e a SAG-AFTRA Foundation, uma instituição de caridade que fornece assistência financeira a artistas trabalhadores.

A fundação, que está associada ao sindicato dos atores, mas é administrada de forma independente, tem processado mais de 30 vezes o número habitual de pedidos de ajuda de emergência —mais de 400 por semana.

A partir de 1º de setembro, os trabalhadores da área de Los Angeles inscritos no Plano de Pensão da Indústria Cinematográfica puderam sacar até US$ 20 mil cada um por dificuldades financeiras. Até 8 de setembro, os trabalhadores haviam sacado cerca de US$ 45 milhões, segundo um documento compilado pelos administradores do plano e visto pelo The New York Times.

Um porta-voz do plano disse que não havia informações atualizadas disponíveis.

O fechamento dos estúdios foi sentido com mais intensidade na Califórnia e em Nova York. As greves custaram à economia da Califórnia mais de US$ 5 bilhões, segundo o governador Gavin Newsom. Mas as greves também escureceram os estúdios em todo o país, bem como no Canadá e na Inglaterra. A Geórgia, por exemplo, possui 280 mil metros quadrados de estúdios de som.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.