Mostra resgata e traz arte dos maias, incas e astecas para os dias de hoje

Exposição gratuita vai até março em Madri, na Espanha, com quase 700 obras e cerca de 300 artistas

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Madri

Como o mundo se apropriou e ressignificou a arte da América pré-colombiana nos tempos modernos? É essa resposta que busca dar a exposição "Antes da América - Fontes Originárias na Cultura Moderna", em cartaz na Fundação Juan March, em Madri, na Espanha.

"Sudamérica", óleo de 1958 pintado por María Freire, que está na exposição Antes da América, em Madri - Reprodução

Com cerca de 300 artistas modernos e contemporâneos e quase 700 obras, a mostra traça em quatro blocos cronológicos as formas como aquela cultura antiga, colorida e geométrica dos maias, incas, astecas e demais povos originários do continente se transformou em matéria-prima dos mais diversos objetos, desde quadros e esculturas a arquitetura e objetos domésticos.

Muitos dos trabalhos são latino-americanos, incluindo brasileiros, mas há espaço para a América do Norte e a Europa, uma vez que a arte pré-colombiana não ficou restrita ao continente. Ao contrário, ganhou o mundo, como atesta, por exemplo, um quadro de serpentes do mestre da pop art Roy Lichtenstein.

Segundo o curador Rodrigo Gutiérrez Viñuales, "a proposta subjacente é ampla, não apenas pelo espaço e tempo que abrange, mas também do ponto de vista conceitual".

"Parafraseando André Breton, propõe estabelecer ‘vasos comunicantes’ entre diversos lugares e tempos. Aspira estabelecer conexões entre objetos, ideias, movimentos e outros fatores, que originalmente operaram de forma às vezes isolada, e encontrar novos significados em um contexto mais amplo."

Aberta na última sexta (6), "Antes da América" segue gratuitamente até 10 de março na fundação. A Juan March, inclusive tem um histórico de exibições brasileiras. Já houve mostras exclusivas de Tarsila do Amaral, em 2009, Lina Bo Bardi, em 2018, e agora prepara-se uma de Burle Marx para o início de 2026.

Esculturas contemporâneas que representam serpentes pré-colombianas na exposição Antes da América, em Madri - Dolores Iglesias/Fundación Juan March/Divulgação

A mostra atual começa com o bloco "Registro e Reinterpretação" (1790-1910), no qual os visitantes das culturas pré-colombianas se esforçam mais em copiar edificações ou desenhar ídolos, de um ponto de vista arqueológico, como se fossem naturalistas registrando a flora de um mundo distante.

A segunda parte, "Reinterpretação e Identidade" (1910-1940), utiliza a linguagem e o repertório das antigas civilizações para construir algo novo, especialmente de uso cotidiano, como têxteis, móveis, utensílios para a casa, cerâmicas e mesmo as primeiras capas de livros e anúncios publicitários.

"Identidade e Invenção" (1940-1970) apresenta a escola de Joaquín Torres García, importante artista uruguaio que, junto de seus vários discípulos, experimenta várias simbioses entre as formas geométricas pré-colombianas e as linguagens de vanguarda.

Cartaz de show da FluxOrchestra no Carnegie Hall, em Nova York, em 1965, que está na exposição Antes da América, em Madri - Reprodução

O último salão, além de dois anexos em pisos inferiores, traz "Invenção e Conceitualismos" (1970-2023), um apanhado dos últimos que inclui projetos estéticos em pintura, escultura, desenho, trabalho gráfico, arquitetura, cinema, fotografia, cerâmica, instalações, videoarte, têxteis e outros objetos.

"O fim da exposição significa regressar ao início: ao tempo de expedições do século 19, a coleção de objetos, sua diáspora além das próprias fronteiras e sua descontextualização", anota o catálogo da mostra. "Esse retorno é possível graças a uma montagem em que cerâmicas e outros objetos contemporâneos coexistem com peças antigas que fizeram parte desse processo. Algumas das criações atuais questionam essas práticas e as denunciam, reconectando-se com a proposta do início. Através da inventividade e de propostas conceitualistas baseadas na arte pré-colombiana, os artistas de hoje garantem o futuro do passado."

Antes da América

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