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O que é o 'weirdcore', que faz do bizarro uma tendência e atrai de Björk aos novinhos

Miscelânea visual de elementos sem relação, como cogumelos, olhos e asas, ganha espaço na música, na moda e na decoração

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Ilustração sobre sobre o movimento estético do 'weirdcore'

Ilustração sobre sobre o movimento estético do 'weirdcore' Silvis

Martina Colafemina
São Paulo

"Belo como o encontro casual entre uma máquina de costura e um guarda-chuva numa mesa de dissecação." Esta mesma frase que o poeta francês Conde de Lautréamont usou para definir o surrealismo também poderia ser usada para descrever o "weirdcore", como é chamada em inglês uma nova tendência que faz sucesso nas redes sociais com colagens estranhas.

São imagens e vídeos que reúnem, por exemplo, diferentes espécies de cogumelos com o plano de fundo padrão do Windows XP, uma paisagem californiana tomada por um céu azul e montanhas esverdeadas. Nesta tendência, não há nada que não possa ser unido. A ideia, afinal, é evocar a sensação de absurdo.

No TikTok, já são 325 mil publicações rotuladas com a tag "weirdcore", que soma seis bilhões de visualizações. No Brasil, o pico de interesse pelo tendência se deu em setembro, de acordo com a plataforma. O Pinterest, rede social voltada para design, diz que quem mais se interessa por essas colagens é a geração Z —isto é, os nascidos entre a segunda metade dos anos 1990 e os anos 2000.

Ilustração sobre sobre o movimento estético do 'weirdcore'
Ilustração sobre sobre o movimento estético do 'weirdcore' - Silvis

Agora, no entanto, o "weirdcore" tem saído das telas verticais e se espalhado pelo trabalho de artistas como Björk e Melanie Martinez, além da moda e até da arquitetura.

Em seu último álbum, "Fossora", Björk dá um passado adiante em relação à miscelânea característica de sua obra ao cantar sobre temas como a morte da mãe e feminilidade enquanto cogumelos pulsam no ritmo música e também inspiram seus figurinos em videoclipes.

Já Martinez, em "Portals", seu disco mais recente, se apresenta com quatro olhos, pele rosada e asas de mariposa. No clipe de "Death", sobre morte e renovação, ela morre, ressuscita com esses atributos visuais e sobrevoa uma espécie de umbral cheio de cogumelos e povoado por humanos com cabeças de coelhos.

A cantora Melanie Martinez em apresentação no último Lollapalooza, em São Paulo
A cantora Melanie Martinez em apresentação no último Lollapalooza, em São Paulo - Divulgação

Para Sofia Martellini, especialista em moda do WGSN, uma agência internacional especializada em prever tendências, o "weirdcore" reflete uma busca de aconchego por parte da geração Z, mas de uma maneira diferente das gerações anteriores. Se para os mais velhos o conforto vinha da sensação de se encaixar, o que era traduzido em ambientes e roupas neutras, para os novinhos o importante é chocar.

O movimento teria se acentuado diante de crises globais simultâneas, como a econômica e a sanitária, causada pela pandemia de Covid-19. Martellini diz que, enquanto os millenials —isto é, os nascidos nos anos 1980— reagiram à quarentena se vestindo de maneira sóbria e com uma paleta de cores associada à sobriedade e ao conforto, a geração Z buscou o absurdo.

Na prática, eles preferem, portanto, as roupas de brechó, por serem peças que naturalmente vêm com algum defeito e não costumar ter um caimento tão bom quanto uma peça nova, como numa maneira de atacar à ditadura da padronização gerada pelas redes sociais, que incentivam a todos a terem os mesmos comportamentos.

A designer de interiores Ana Weege, que levou um ambiente "weirdcore" para sua estreia na Casacor há dois anos, reforça a ideia de conforto. Ela usou elementos como um abajur de cogumelo, um banco em forma de espiga de milho e um espelho que distorcia a imagem de quem se posicionava à sua frente.

"Na época, falava-se muito sobre ambientes tranquilos, mas para mim o orgânico não é o espaço todo branco e bege. Na verdade, tons neutros me repelem. Tenho a sensação de que não posso sentar no sofá porque pode sujar. Eu não me sinto acolhida", diz ela.

Em sua composição, a designer deu preferência às cores primárias —vermelho, azul e amarelo—, tradicionalmente mais associadas a produtos infantis. Isso porque, para ela, a tendência do "weirdcore" também se relaciona com o resgate da infância.

As trilhas sonoras dos vídeos no TikTok com colagens "weirdcore" acentuam a tentativa de volta ao passado, por meio do descontentamento com o tempo presente. "Esse não parece o lugar certo/ e vamos tentar de tudo/ só para sermos crianças mais uma vez", diz "I'd Rather Sleep", ou prefiro dormir, da banda britânica de indie pop Kero Kero Bonito, uma das mais virais.

O cantor americano Jack Stauber, outro nome popular nas trilhas sonoras do "weirdcore", faz o mesmo. Em "Baby Hotline", ou linha direta do amor, ele canta sobre a dor e a impaciência de estar apaixonado entre teclados que lembram a abertura e a trilha sonora de um desenho animado.

A extravagância chegou ainda às passarelas. A última coleção de inverno da Collina Strada, uma grife americana cujas roupas vêm embaladas por discussões como a crise climática e sustentabilidade, trouxe peças com estamparias que imitam a pele de animais, o "animal print".

As modelos ainda vestiam réplicas de cabeças de animais nas passarelas, mais ou menos como fez Kylie Jenner, irmã mais nova da socialite Kim Kardashian, ao usar um tomara que caia de veludo preto com uma cabeça de leão pregada do lado direito do vestido. Isso em um dos principais eventos do calendário internacional da moda, a Semana de Alta-Costura de Paris, que aconteceu em janeiro.

"Está em nosso inconsciente coletivo buscar por formas meio distorcidas e escorridas. Parece infantil, mas não é imaturo. É algo que parte de lembranças que queremos trazer para a nossa casa e para a nossa vida para além de porta-retratos e lembranças de avós", diz Weege, a designer de interiores.

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