Descrição de chapéu LGBTQIA+

Quem tem medo das pessoas trans na academia?

Ante o silenciamento das instituições, a única saída é denunciar, nas redes sociais e na imprensa, as violações sofridas

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Jaqueline Gomes de Jesus

Psicóloga com pós-doutorado em ciências sociais e história, é professora do IFRJ e da UFRRJ. Autora, entre outras publicações, do livro “Transfeminismo: Teorias e Práticas”.

Leandro Colling

Ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos da Trans-Homocultura (ABETH)

Em seus textos de 19 e 26 de setembro, publicados na Folha, o professor Wilson Gomes aproveitou o caso da estudante negra trans da unidade de ensino onde ele trabalha, a Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, que denunciou uma professora por racismo e transfobia, para atacar o movimento trans.

Ele generalizou a reação da estudante como exemplo de um "radicalismo identitário" do movimento trans, que estaria invadindo a academia para caluniar, julgar e condenar docentes, e assim se equiparando ao que pratica o bolsonarismo. Repudiamos este posicionamento, que evidencia uma visão excludente com relação às pessoas trans que no texto de Gomes são postas como corpos estranhos às universidades.

Bandeira do movimento trans - Diego Padgurschi/Folhapress

Consideramos necessário contrapor as ideias do colunista, evidenciando alguns pontos. No lugar de exigir investigação sobre o ocorrido, Gomes preferiu caluniar a estudante, ironizando o erro de uso no pronome com a qual deveria ser tratada, ao mesmo tempo em que, em menos de 24 horas, absolve a professora de qualquer responsabilidade.

Ao escutar o áudio da aula em que ocorreu o conflito entre a aluna e a professora, tivemos uma interpretação muito diferente da feita pelo professor Gomes, entendendo que um educador, quando percebe o surgimento de um conflito em sala, deve imediatamente interromper o que está fazendo para refletir com a turma sobre o que está acontecendo.

Esses casos, em vez de serem adiados ou interrompidos bruscamente, com a saída da professora para procurar um funcionário capaz de tirar a aluna trans da sala de aula, poderia ter se transformado em recurso didático e permitido a produção de outros conhecimentos.

Nada disso foi feito pela docente nem pela instituição de ensino, neste que é mais um caso de violência contra a diversidade sexual e de gênero dentro da UFBA, na qual agressões racistas, misóginas e LGBTfóbicas, inclusive na Faculdade de Comunicação, são conhecidas e inclusive já foram documentadas no projeto intitulado Aceita!, realizado em 2017 a 2018.

Apesar de esse trabalho ter sugerido uma série de ações para a universidade, nenhuma delas foi implantada. Ou seja, ante a ausência de escuta e o silenciamento das instituições, a única saída encontrada tem sido, infelizmente, a de gritar e denunciar, nas redes sociais e na imprensa, as violações sofridas.

Enquanto isso, Gomes e outros docentes atacam as pessoas denunciantes, menosprezando o seu pensamento e estereotipadamente rotulando a resistência e a revolta trans como o que movimentos reacionários têm falaciosamente chamado de "identitarismo".

Artigo escrito em resposta às colunas de Wilson Gomes publicadas em 19 e 26 de setembro de 2023

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