Em seus textos de 19 e 26 de setembro, publicados na Folha, o professor Wilson Gomes aproveitou o caso da estudante negra trans da unidade de ensino onde ele trabalha, a Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, que denunciou uma professora por racismo e transfobia, para atacar o movimento trans.
Ele generalizou a reação da estudante como exemplo de um "radicalismo identitário" do movimento trans, que estaria invadindo a academia para caluniar, julgar e condenar docentes, e assim se equiparando ao que pratica o bolsonarismo. Repudiamos este posicionamento, que evidencia uma visão excludente com relação às pessoas trans que no texto de Gomes são postas como corpos estranhos às universidades.
Consideramos necessário contrapor as ideias do colunista, evidenciando alguns pontos. No lugar de exigir investigação sobre o ocorrido, Gomes preferiu caluniar a estudante, ironizando o erro de uso no pronome com a qual deveria ser tratada, ao mesmo tempo em que, em menos de 24 horas, absolve a professora de qualquer responsabilidade.
Ao escutar o áudio da aula em que ocorreu o conflito entre a aluna e a professora, tivemos uma interpretação muito diferente da feita pelo professor Gomes, entendendo que um educador, quando percebe o surgimento de um conflito em sala, deve imediatamente interromper o que está fazendo para refletir com a turma sobre o que está acontecendo.
Esses casos, em vez de serem adiados ou interrompidos bruscamente, com a saída da professora para procurar um funcionário capaz de tirar a aluna trans da sala de aula, poderia ter se transformado em recurso didático e permitido a produção de outros conhecimentos.
Nada disso foi feito pela docente nem pela instituição de ensino, neste que é mais um caso de violência contra a diversidade sexual e de gênero dentro da UFBA, na qual agressões racistas, misóginas e LGBTfóbicas, inclusive na Faculdade de Comunicação, são conhecidas e inclusive já foram documentadas no projeto intitulado Aceita!, realizado em 2017 a 2018.
Apesar de esse trabalho ter sugerido uma série de ações para a universidade, nenhuma delas foi implantada. Ou seja, ante a ausência de escuta e o silenciamento das instituições, a única saída encontrada tem sido, infelizmente, a de gritar e denunciar, nas redes sociais e na imprensa, as violações sofridas.
Enquanto isso, Gomes e outros docentes atacam as pessoas denunciantes, menosprezando o seu pensamento e estereotipadamente rotulando a resistência e a revolta trans como o que movimentos reacionários têm falaciosamente chamado de "identitarismo".
Artigo escrito em resposta às colunas de Wilson Gomes publicadas em 19 e 26 de setembro de 2023
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