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Roger Waters tira força de 'Dark Side of the Moon' em nova releitura prolixa

Artista pôs mais letras em reinterpretação do disco icônico do Pink Floyd, que se arrasta e larga o rock psicodélico

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The Dark Side of the Moon Redux

Roger Waters decidiu gravar uma nova versão de "The Dark Side of the Moon", o álbum que o Pink Floyd lançou em 1973 e que é obrigatório em qualquer lista dos dez maiores discos da história do rock.

À imprensa, o artista disse que a intenção era fazer um disco diferente, para evocar a memória do álbum que faz parte da vida dos fãs há 50 anos, mas sem muita fidelidade.

O cantor Roger Waters
O cantor Roger Waters - Kate Izor/Divulgação

Basta uma audição dessa versão "Redux" para entender que Waters criou um trabalho novo. Embora traga as mesmas dez músicas do original, a nova versão é diferente. Para alguns, será diferente demais.

Não há uma releitura fiel. De fato, destruiu algumas músicas representativas do rock psicodélico. Em especial, as consideradas mais revolucionárias, como "Time", "Money" ou "Us and Them". Todas perderam as "novidades" charmosas que marcam o disco clássico.

O dueto entre guitarras e sons de máquinas registradoras que transformou "Money" em hit agora é tocado só por instrumentos de verdade. Mesmo destino teve o tique-taque de relógios e campainhas de despertadores de "Time".

O novo disco é mais soturno. A começar pelo vocal grave de Waters, que causa estranheza na regravação de "Breathe (In the Air)" ou "Us and Them", eternizadas pela voz limpa de David Gilmour.

Os vocais são a grande ruptura. Waters inclui letras em quase todas as faixas. Algumas têm versos a mais, enquanto as instrumentais "Speak to Me", "On the Run" e "Any Colour You Like" recebem a voz de Waters, que canta textos longos de modo arrastado. "Cantar" chega a ser um exagero. Waters praticamente declama.

As letras novas não são grande coisa, poeticamente falando. Às vezes são frases soltas, como em "Money", que ganha linhas como "welcome to hell/ welcome to the rooftop", ou pequenas narrativas, como o reencontro com o passado na historinha enfiada em "The Great Gig in the Sky", talvez a faixa mais desfigurada.

Ao retirar a maior parte do trabalho inovador de sintetizadores do tecladista Richard Wright, Waters trocou fantásticas texturas eletrônicas por um acompanhamento musical mais tradicional. Disse adeus ao rock psicodélico.

Apontados esses defeitos, é um álbum muito bonito. Não fosse a comparação com o original, seria uma reinvenção de Waters na cena pop.

"On the Run" apresentou em 1973 algumas frases de sintetizadores que definiram um som hipnótico depois repetido por centenas de artistas pelo mundo. Na nova versão, restaram as linhas harmônicas mais básicas, destacando a letra que antes não existia.

O contraponto é "Brain Damage", que já no álbum original era o que mais se aproximava do formato de canção, seguido por Waters, ou a faixa que fecha o disco, "Eclipse", na qual reproduz a estrutura de versos curtos e gritados.

Um crítico maldoso poderia dizer que "Redux" parece um audiolivro com trilha sonora. A piada não se sustenta, porque há na nova textura instrumental um belo uso dos sintetizadores na recriação de sons orquestrais.

O bom trabalho da cantora síria Bedouine quebra o vocal de Waters. Falando de novos colaboradores, é cruel comparar o esforçado Jonathan Wilson com David Gilmour, que, além de ser um grande guitarrista, foi fundamental na construção da obra de 1973.

O que pega na releitura é o tom verborrágico. As letras acrescidas expandem a temática original, falando de morte e loucura, mas soam didáticas, como se Waters quisesse deixar explícito o que antes estava subentendido.

O trabalho tem méritos e será interessante ver como Waters tratará essas músicas no palco —ele chega ao Brasil no fim deste mês. Mas o novo disco não pode faltar na coleção dos fãs. Para os mais ranzinzas, é preciso ter "Redux", mesmo que seja para falar mal.

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