Descrição de chapéu Obituário Elliott Erwitt (1928 - 2023)

Morre Elliott Erwitt, fotógrafo símbolo da sagacidade em preto e branco, aos 95 anos

Fotógrafo era conhecido pelos retratos de famosos e o estilo bem humorado que chamava a atenção para questões sociais

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São Paulo

O fotógrafo Elliott Erwitt, considerado um dos grandes mestres da fotografia com sua estética sagaz e irreverente, morreu nesta quinta-feira (30), aos 95 anos, em sua casa em Manhattan.

A informação foi confirmada pela família na conta oficial do artista no Instagram e por seu genro, o também fotógrafo Rick Smolan, à revista Blind. A causa da morte não foi divulgada.

Com uma carreira de mais de sete décadas, Erwitt era conhecido pelos trabalhos na publicidade, mas fez seu nome sobretudo pelas fotos de cães —seja como seres independentes ou como companheiros do homem—, e de situações do cotidiano.

O fotógrafo Elliott Erwitt em 2017 - Erika Garrido/Folhapress

Mestre da fotografia em preto e branco, ele consagrou um estilo bem humorado do registro da vida, fazendo da leveza uma forma de chamar a atenção para temas sociais. Com mais de 20 livros publicados, suas fotos em preto e branco estão em importantes coleções ao redor do mundo.

"Cachorros não dão desculpas e não se incomodam. São seres simpáticos", disse Erwitt em entrevista à Folha em 2009, quando participou da feira SP-Arte.

"Muitos fotógrafos se concentram nas misérias do mundo, outros nas coisas mais belas. Eu só gosto de boas fotografias, não importa do que sejam, contanto que falem da condição humana."

A popularidade de suas fotos caninas deixou em segundo plano seus outros trabalhos —ele fotografou moda e política, além de celebridades como Humphrey Bogart, Jack Kerouac, Marilyn Monroe e Che Guevara para as revistas Life e Look. Também clicou propagandas de turismo para a França e a Irlanda.

Muitas de suas imagens ficaram famosas. Uma das mais célebres é o registro que ele fez de Jacqueline Kennedy durante o enterro de John F. Kennedy, em 1963 —a viúva do ex-presidente dos Estados Unidos foi fotografada segurando a bandeira do país dobrada.

Na política americana também se destaca uma foto sua de Richard Nixon, então vice-presidente do país, cutucando no peito o premiê soviético Nikita Kruschev durante uma exposição de produtos americanos em Moscou, em 1959. O registro acabou sendo reaproveitado pelo Partido Republicano nas eleições presidenciais de 1960, sem a autorização de Erwitt.

O fotógrafo foi cofundador da agência de fotos Magnum e um de seus membros desde 1953. A associação, criada por Robert Capa, nome central da fotografia de guerra, é considerada a mais importante cooperativa internacional de fotojornalismo.

Dos anos 1960 até sua morte, Erwitt foi amplamente exibido, tendo sido alvo de mostras individuais no Museu de Arte de Nova York, MoMA, e no Barbican, em Londres. Em 2002, ganhou uma grande retrospectiva no Reina Sofia, em Madri.

Elio Romano Ervitz nasceu em 1928, em Paris, filho de um judeu ortodoxo russo e de sua mulher de mesma nacionalidade. O casal havia fugido para a França depois da Revolução Socialista de 1917. Seu pai, Boris, um socialista convicto, culpava a mulher, Eugenia Erwitt, pelo êxodo.

A família se mudou para os Estados Unidos pouco antes da Segunda Guerra começar, depois de um período em Milão sob o regime fascista de Mussolini.

Erwitt, que começou a fotografar aos 16 anos, dizia que a timidez o tornou fotógrafo, dado que ele aportou em Nova York sem falar inglês.

"Meu dentista foi meu primeiro cliente, depois as casas e os filhos das pessoas, depois o baile de formatura do ensino médio", escreveu ele.

Depois de concluir o ensino médio, estudou fotografia e trabalhou em um laboratório fotográfico. Em 1949, conheceu Robert Capa e iniciou sua carreira antes de ser convocado para a Guerra da Coreia. Enquanto servia na França, fotografou soldados no quartel e ganhou um concurso da revista Life com a imagem.

Sua assinatura era o não convencional e o mundano, como quando fez suas primeiras fotos de cães, em 1946, para a revista do jornal New York Times. Uma destas imagens, de um chihuahua ao lado das sandálias de uma mulher, foi amplamente exibida.

"Decidi fotografar do ponto de vista de um cachorro porque os cães veem mais sapatos do que qualquer pessoa", argumentou.

Elliott Erwitt foi tema de diversas mostras no Brasil ao longo dos anos. Em 2005, a Leica Gallery realizou a mostra "Magic Hands", que fazia um recorde da obra do fotógrafo a partir das mãos que registrava.

Em 2017, o Centro Cultural Fiesp fez a exposição "Vida de Cão", que reunia 50 trabalhos de Erwitt dedicados aos cachorros.

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