Descrição de chapéu
Filmes

'Meu Amigo Robô' é fábula doce e sem diálogos sobre amizade

Animação espanhola acompanha jornada solitária de cachorro e robô, que precisam passar um ano separados após acidente

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Meu Amigo Robô

  • Quando Em cartaz nos cinemas
  • Classificação 10 anos
  • Produção Espanha, França, 2023
  • Direção Pablo Berger

"Meu Amigo Robô" é um filme que segue receitas de sucesso de todos os tipos. A animação espanhola, dirigida por Pablo Berger, adapta a HQ americana "Robot Dreams", de Sara Varon, no mesmo estilo de ilustração 2D do original. Sua história também se encaixa como fábula, um formato popular para públicos infantis, embora ela aconteça por quase um ano na vida dos personagens.

Em outras palavras, a produção é do tipo que encanta rápido o público, o que por sua vez converte em prêmios. O longa levou melhor filme na principal mostra paralela do Festival de Annecy —o mais importante de animação— e disputa agora cinco categorias do Annie Awards, premiação americana tida como fundamental ao mercado.

Cena do filme 'Meu Amigo Robô', de Pablo Berger - Divulgação

Toda essa atenção dada ao filme acontece sobretudo pelo teor de sua história, que versa sobre a solidão com ternura e sem diálogos. Nela, acompanhamos a jornada de um cachorro antropomorfizado, que vive sozinho em Nova York e sofre com a falta de amigos.

Ao invés de procurar amizades, porém, ele compra um robô de companhia, convencido por um anúncio na televisão —seu único entretenimento na cidade.

A decisão, por mais doida que pareça, dá certo. Depois de ativado, o robô enche os dias e as noites do cachorro com seu sorriso simpático e a disposição para todo tipo de programa. Os novos amigos passam o verão passeando pela cidade, movidos pelo empenho do animal em saciar a curiosidade do ser robótico pelo mundo.

Aqui e ali há incômodos, em especial quando se vê companheiros do robô sofrendo na mão de seus donos, mas o desconforto é rápido.

Os problemas só começam no último dia da temporada, quando a dupla decide ir à praia e, por descuido, a areia acaba enferrujando o robô. Com os membros travados e sob o peso de seu maquinário, ele fica preso no lugar, que só vai reabrir daqui um ano. O cachorro fica desesperado e tenta de todas as formas recuperar o amigo, mas logo é obrigado a aceitar o longo tempo de espera para reavê-lo.

O filme então passa a acontecer por meio de duas perspectivas, que sofrem por diferentes razões. Enquanto o cachorro agoniza com a falta de amigos e a culpa do abandono, o robô sofre pela imobilidade e pela preocupação de que o amigo perdeu o interesse por ele.

A trama, enquanto isso, marca a passagem de tempo nas estações e nos pequenos contratempos, que exploram a seu jeito a dor dos personagens.

O que chama mesmo a atenção em "Meu Amigo Robô", porém, é como esses obstáculos são usados pela animação. O estilo de desenho, cartunesco e muito simples, é a base para Berger brincar com a narrativa, que passeia entre delírios e pesadelos. Em especial do lado do robô, que aos poucos ocupa o protagonismo do filme com seu isolamento.

Um dos momentos mais inspirados da produção acontece no inverno, quando o robô é soterrado pela neve. Com alguma paciência, vemos a praia ser coberto pela nevasca, embranquecendo a areia e o parque ao fundo.

Até que de repente o personagem cai para fora do quadro, como se houvesse um vazamento na parte de baixo da tela. Nesse momento, ele aproveita a ocasião para girar a tela e entrar em um novo cenário, que lembra o campo ensolarado de "O Mágico de Oz" —perfeito para fugir da sua realidade gelada.

Tudo não passa de uma alucinação do protagonista, que está congelado embaixo de toda a neve. Mas aí se vê a liberdade do filme, que navega por situações passageiras para debulhar a amizade da história.

O bonito disso é que a trama mostra como o comprometimento dos dois personagens com o outro deriva do medo de ficar sozinho. Tanto o cão quanto o robô passam o filme desejando se rever, mas o tempo revela aos poucos que eles na verdade estão se afastando. A amizade, por mais bonita que seja, recusa a efemeridade que é natural ao mundo.

Ou seja, "Meu Amigo Robô" é uma fábula sobre como a solidão nem sempre significa que estamos sozinhos. As viradas da história, que merecem ser preservadas, tiram uma bela poesia disso. Mas o filme se torna especial no uso da canção "September", que ganha um significado inesperado no clímax do reencontro dos personagens —sobretudo por mostrar o que restou da relação deles.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.