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'A Viagem de Ernesto e Celestine' é infantil sem parecer infantiloide

Singelo e sem grandes pretensões, filme prega a liberdade ao representar uma nação onde a música virou crime

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A Viagem de Ernesto e Celestine

  • Onde Em cartaz nos cinemas
  • Classificação Livre
  • Produção França, 2022
  • Direção Julien Chheng e Jean-Christophe Roger

Em meio a tantas cartas marcadas, por vezes o Oscar sabe revelar algumas joias escondidas em categorias como animação e filme internacional. Foi assim em 2014, quando "Vidas ao Vento", do mestre japonês Hayao Miyazaki, perdeu para "Frozen". Mas também havia no páreo a pepita "Ernest e Celestine", uma joia rara da animação francesa que talvez não tivesse saído por aqui sem esse empurrãozinho. Quase dez anos depois, o filme ganha uma continuação tão simpática quanto a original.

É o tipo de filme que se blinda com o requinte da sua estética aquarelada, enquanto narra uma história infantil universal, protagonizada por um urso e uma ratinha, sem subestimar o espectador pequenino nem o adulto.

Cena do filme 'A Viagem de Ernesto e Celestine', de Julien Chheng e Jean-Christophe Roger
Cena do filme 'A Viagem de Ernesto e Celestine', de Julien Chheng e Jean-Christophe Roger - Divulgação

Nesse filme, a moral da história —siga a profissão dos seus sonhos— pode até reavivar sonhos que os pais podem ter calado na infância. Mas para as crianças é uma jornada divertida, de Ernesto, um urso que só quer consertar seu violino para seguir como músico de rua e sustentar sua vida bucólica ao lado da melhor amiga, a roedora Celestine.

O afeto entre os dois é mais compreensível para quem viu o filme anterior ou conhece a série de livros infantis que servem de inspiração.

Mas não é qualquer instrumento, trata-se de um "Stradivariurso", que só pode ser consertado pelo mestre Octavius, na terra natal de Ernesto, a "Charabie". No quesito trocadilhos, a aproximação entre o francês e o português permite piadas bem similares, com truques de linguagem que espelham estereótipos da cultura russa e árabe nesse mundo dos animais.

Mas Ernesto guarda alguma mágoa desse passado e, após teimosia da amiga, acaba voltando a uma Charabie bem diferente daquela que deixou.

Agora sob o jugo da lei Ernestof, como o urso é chamado por seus compatriotas, nada no território pode emitir uma nota musical além da nota dó. Nem os semáforos ou os passarinhos, constantemente afastados por policiais a mangueiradas.

Agora, a música é crime e vai preso quem ouse tocar uma melodia em público. É o que faz Ernesto, por inocência, ainda sem saber que foi seu próprio pai o autor da norma absurda, desde que o filho fugiu do seu destino como juiz para virar um artista de rua.

Enquanto isso, o mascarado gatuno Mifasol segue tocando o terror pela cidade com seu saxofone, enfrentando o autoritarismo como líder de um bando de músicos procurados.

A música, claro, é metáfora de qualquer manifestação de liberdade —burguesa, como costuma ser na França. Um exercício que se dá no contexto de outras tantas normas sociais e leis que a animação trata com justa rebeldia. Ernesto volta a um país para consertar um instrumento, mas percebe uma sociedade doente, com adultos reprimidos que condenam os filhos à infelicidade.

Agradável pelo conjunto e pelo tom libertário, o filme não consegue, nem pretende, ser mais que uma diversão passageira. É rápido e indolor, com apenas 1h15, e não tem o mesmo impacto emocional do primeiro filme, quando Ernesto e Célestine enfrentam os preconceitos de suas respectivas espécies, ou raças, para ficarem juntos.

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