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Cineasta chilena tenta o Oscar pela segunda vez com seu filme sobre Alzheimer

'A Memória Infinita', de Maite Alberdi, acompanha vida de casal que combateu a ditadura de Pinochet e lida com a doença

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São Paulo

O nome de Maite Alberdi chama a atenção na longa lista de indicados ao Oscar deste ano. Ela é a única latino-americana na disputa, concorrendo na categoria de documentário, numa edição marcada por nomes como America Ferrera, atriz filha de hondurenhos lembrada por "Barbie", e o filme "A Sociedade da Neve", produção espanhola sobre a queda do avião do time de rúgbi uruguaio Old Christians Club nos Andes.

A documentarista estará no tapete vermelho da premiação por um longa que também foi feito no seu país natal, o Chile. "A Memória Infinita" lida com o tema difícil da doença de Alzheimer, mas só desperta reações apaixonadas ao invés de lágrimas de tristeza. Na sua estreia no Festival Sundance do ano passado, por exemplo, ele venceu o prêmio do júri.

Disponível no Paramount+, o filme evita o caminho da lamúria para retratar os seus protagonistas, o jornalista Augusto Góngora e a atriz Paulina Urrutia. No lugar, Alberdi cria uma narrativa que ela define como uma história de amor.

A Memória Infinita
Cena do filme 'A Memória Infinita', de Maite Alberdi - Divulgação

Essa trama foi desenhada pela diretora desde o começo do projeto, quando conheceu o casal durante uma aula que deu em uma universidade. Os dois são famosos no Chile. Enquanto Augusto foi um dos que lutou contra a ditadura de Augusto Pinochet na imprensa, Paulina foi ministra da Cultura da presidente Michelle Bachelet nos anos 2000.

O casal se conheceu e manteve um relacionamento desde 1997, mas se casaram só em 2016. Dois anos antes, porém, Augusto recebeu o diagnóstico de Alzheimer, que virou de cabeça para baixo a vida do casal.

Alberdi já sabia de tudo isso quando viu os dois na universidade. O que chamou mesmo a sua atenção foi ver os amantes muito unidos, com Augusto acompanhando Paulina em uma dinâmica de casal. Daí surgiu a ideia do filme. Mas Alberdi só conseguiu a autorização para acompanhá-los por causa de Augusto.

"Eu acho que ele foi quem se convenceu mesmo de que era uma boa ideia", diz a diretora por videoconferência. "Ele era um jornalista que se acostumou com uma câmera o acompanhando por toda a sua vida e entendeu a importância do meu trabalho. No caso do Alzheimer, a decisão final foi dele também."

Mas "A Memória Infinita" não se limita à vida do casal ante a doença e a morte de Augusto —que aconteceu depois do fim das filmagens, em maio do ano passado. O documentário intercala esses registros com imagens de arquivo da trajetória profissional dos dois e da história da resistência chilena contra a ditadura.

O resultado é um filme que retrata uma paixão que sobrevive às tragédias da vida, tanto coletivas quanto pessoais. Esta é uma forma de mostrar a resistência do que Alberdi define como a memória emocional.

Maite Alberdi
A diretora Maite Alberdi - Divulgação

A ideia é parecida com o trabalho anterior da diretora, que rendeu sua primeira indicação ao Oscar. "Agente Duplo", de 2020, fazia um registro da vida dos moradores de um asilo no Chile para denunciar o abandono familiar. O documentário, com tons melodramáticos, parece um suspense de investigação.

O filme acabou perdendo a estatueta para "Professor Polvo", mas o nome de Maite Alberdi marcou os votantes da maior premiação de Hollywood. Apesar da atenção toda que conquistou dos americanos, porém, ela diz que seu interesse de contar histórias como a desses dois filmes continua intacto, em especial as que vêm do Chile.

"Meus filmes são guiados pela representação da fragilidade e como entendemos os diferentes momentos da vida como parte de quem somos", afirma Alberdi. "A meu ver, a memória interna é a resposta para tudo."

A Memória Infinita

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