Descrição de chapéu Filmes

Documentários vencedores de Sundance lidam com memórias dolorosas

'20 Days in Mariupol' registra destruição da guerra na Ucrânia, e chileno 'La Memoria Infinita' mostra luta contra Alzheimer

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Los Angeles

A chilena Maite Alberdi, indicada ao Oscar por "Agente Duplo", de 2020, e o ucraniano Mstislav Chernov, autor de algumas das imagens mais fortes da guerra na Ucrânia, ganharam os principais prêmios de documentário no Festival Sundance, que terminou no domingo (29) na cidade de Park City, em Utah.

Cena de '20 Days in Mariupol'
Cena de '20 Days in Mariupol', de Mstyslav Chernov, exibido no Festival Sundance - Evgeniy Maloletka/Sundance Institute

"La Memoria Infinita", que narra a vida de um casal enquanto um deles sofre de Alzheimer, recebeu o grande prêmio do júri para documentário internacional.

Já "20 Days in Mariupol", sobre a tomada da cidade portuária pelas forças russas menos de um ano atrás, foi eleito melhor documentário internacional pelo público.

"Espero que este filme não apenas traga conscientização e apoio da sociedade internacional, mas também sirva de registro permanente da invasão russa e dos possíveis crimes de guerra cometidos em Mariupol", disse Chernov na entrega dos prêmios no festival.

Chernov é correspondente de guerra da AP, a Associated Press, a AP, e cobriu conflitos no Iraque, Síria e Afeganistão nos últimos dez anos. Quando seu próprio país foi invadido, em fevereiro do ano passado, ele começou a filmar. Hoje, Mariupol está nas mãos russas, e os quase três meses de batalhas deixaram ao menos 25 mil mortos.

Durante 20 dias na cidade, Chernov e seus colegas da AP, o fotógrafo Evgeniy Maloletka e a produtora Vasilisa Stepanenko, capturaram imagens que circularam o mundo, como a da grávida carregada numa maca após bombas destruírem um hospital maternidade.

O documentário mostra como a fábrica de fake news russa opera, acusando de "montagem" as reportagens do ataque ao hospital. Quando Chernov vai atrás da grávida no dia seguinte, em um novo hospital, os médicos detalham como ela não sobreviveu. Seu nome era Iryna, e ela tinha 30 anos.

"Disseram que ela gritava ‘me matem’ quando a trouxeram aqui. Ela sabia que seu bebê estava morto", diz uma médica. "Fizemos tudo o que podíamos. Sua bacia estava completamente em pedaços."

Chernov e seus colegas foram os últimos jornalistas a deixar Mariupol, graças a ajuda de militares ucranianos, após dias sitiados no hospital. Eles filmam bombas atingindo prédios residenciais e médicos sem eletricidade tentando em vão salvar crianças mutiladas por estilhaços, como Ilya, 16 anos, Kyryl, 18 meses, e Evangelina, 4 anos. Por fim, mostram a vala comum atrás do hospital na qual muitas foram enterradas.

"Nos sentimos culpados de deixar a cidade porque não havia sobrado nenhum jornalista", disse Chernov. "Eu achava que tinha que fazer algo mais com aquelas 30 horas de filmagens. Queria contar ao público uma história maior, dar o contexto, mostrar o tamanho."

A chilena Maite Alberdi também trabalha com um registro doloroso das memórias em seu documentário "La Memoria Infinita", seguindo a vida íntima de um casal que está junto há 25 anos.

Ela é Paulina Urrutia, uma atriz que chegou a ser ministra da Cultura no governo de Michelle Bachelet, e ele é Augusto Góngora, um jornalista que cobriu o golpe de estado de Pinochet em 1973 e lutou contra o sistemático apagamento da consciência coletiva nos anos pós-ditadura.

Cena de The Eternal Memory
Paulina Urrutia and Augusto Góngora em cena de "The Eternal Memory", de Maite Alberdi; o filme foi exibido no Festival Sundance - Courtesy of Sundance Institute

Quando suas memórias começam a escapar por conta do Alzheimer, sua mulher faz de tudo para tentar ajudá-lo e acalmá-lo, muitas vezes trazendo as lembranças de sua carreira como um dos mais famosos comentaristas culturais do Chile. Ela grava a relação dos dois, mesmo sem ele muitas vezes a reconhecer.

"Augusto está com Alzheimer faz dez anos. E desde o diagnóstico, eles passaram a ficar o dia inteiro juntos. Paulina o incorporou em sua rotina diária e se recusa a deixá-lo isolado", disse Alberdi, que acompanhou o casal por quatro anos.

O filme mistura registros das câmeras de Paulina e da diretora, além de imagens de Augusto trabalhando na TV e cenas antigas que ele mesmo filmou da família em férias ou construindo a casa atual onde moram.

"Paulina sempre diz que o único jeito de evoluir como sociedade é se todo mundo tomar conta de outro ser humano em algum ponto de suas vidas", disse a diretora. "Meu documentário mostra que não existe apenas um jeito de ser um casal, ou um jeito apenas de experimentar o amor."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.