'Alice', de Lewis Carroll, vira dança, ilusionismo e acrobacia com Momix

Depois de Curitiba, grupo criado nos Estados Unidos se apresenta no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em São Paulo

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Curitiba

Na noite desta quinta-feira, do lado de fora do teatro Guaíra, em Curitiba, estudantes caminhavam em direção à universidade e um pipoqueiro empurrava seu carrinho. O cotidiano se impunha, arrastado.

Do lado de dentro do principal teatro da capital paranaense, estava prestes a começar "Alice", um banquete de imagens nonsense do Momix, grupo criado nos Estados Unidos que une dança, ilusionismo e doses moderadas de acrobacia.

Cena do espetáculo 'Alice' que faz referência à lagarta azul, uma das personagens de Lewis Carroll - Divulgação

No palco, em contraste com o ritmo monótono das ruas, bailarinos davam vida a Alices com mais de três metros de altura, a um grupo de ameaçadores coelhos brancos, a monarcas que se confundiam com cartas de baralho e a tantos outros personagens.

Com coreografia de Moses Pendleton, que fundou o Momix em 1980, "Alice" foi ao Guaíra para sua primeira apresentação na temporada brasileira. Em seguida, a companhia vai passar por Rio de Janeiro, Belo Horizonte e, por fim, São Paulo.

Era um desejo antigo de Pendleton levar para a dança figuras baseadas em "Alice no País das Maravilhas" e "Alice Através do Espelho", obras clássicas concebidas pelo inglês Charles Lutwidge Dodgson, conhecido pelo pseudônimo Lewis Carroll.

"Gosto desse universo ligado ao surrealismo e ao humor, um mundo em que as regras estão descoladas da realidade", afirma o coreógrafo.

O repertório amplo de movimentos, que aliam o balé clássico à dança contemporânea, a inventividade das projeções visuais e os figurinos inusitados caracterizam os espetáculos do Momix. São atributos que se amoldam à literatura do absurdo de Carroll.

Para essa criação, porém, Pendleton visitou outras fontes além dos livros. No cinema, ele se inspirou na Alice dos estúdios Disney, uma produção de 1951, e na de Tim Burton, de 2010. Nas artes visuais, recorreu às pinturas de Salvador Dalí.

Nesta turnê brasileira, a 16ª vinda do grupo ao país, oito bailarinos e quatro técnicos dão corpo a essa miscelânea delirante.

Por meio deles, encontramos a Lagarta, formada pelo encadeamento de grandes bolas azuis, como aquelas usadas para ginástica. O movimento sinuoso do inseto, só possível pela capacidade física e pela agilidade dos integrantes do Momix, está entre os principais momentos do espetáculo.

Outra passagem notável é a contradança das lagostas, cuja beleza se apoia, em grande parte, nos figurinos que se desdobram em novas formas e funções. Esse trecho é encenado ao som de "The Lobster Quadrille", da banda Franz Ferdinand. Aliás, todas as músicas fazem referência aos personagens do livro, como "White Rabbit", da psicodélica Jefferson Airplane.

"Um dos aspectos mais desafiadores do espetáculo é a quantidade de vezes que precisamos trocar de personagem. Sou Alice, depois o coelho, em seguida Alice novamente e daí por diante. São cerca de 15 mudanças ao longo de uma hora e meia", diz a bailarina Seah Hagan.

Aos 24 anos, ela integra a companhia há seis. "Atuamos como dançarinos ilusionistas. Não é só o corpo humano em ação, mas as projeções visuais, a luz, a música", conta Hagan em um dos camarins do Guaíra uma hora e meia antes da apresentação.

Desta vez, Pendleton não veio ao Brasil –aos 75 anos, ele tem viajado cada vez menos. O coreógrafo falou à reportagem numa chamada de vídeo da sua casa de campo em Litchfield, no estado americano de Connecticut. É onde fica o espaço de que mais gosta, o jardim, um recanto obsessivamente registrado pela câmera de Pendleton. "O ato de fotografar me ensina a ver, o que é muito útil na criação das coreografias."

A trajetória do Momix, que já veio ao Brasil com espetáculos como "Opus Cactus", "Botânica" e "Alchemia", está fortemente ligada ao fascínio de Pendleton por plantas e bichos. Nesse sentido, o novo "Alice" conjuga o nonsense de Carroll e os mistérios da natureza. O país das maravilhas de Pendleton é o seu jardim.

Alice

O jornalista Naief Haddad viajou a convite da Dell’arte Soluções Culturais

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