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Cyndi Lauper diz que foi inclusiva e debateu temas como Aids antes de ser moda

Aos 70 anos, artista rememora sua carreira enquanto prepara uma turnê, que terá passagem pelo Rock in Rio em setembro

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Amanda Hess
Nova York | The New York Times

Aos 70 anos, Cyndi Lauper diz não ter mais nada a provar. Ela acaba de anunciar sua última turnê, a "Girls Just Wanna Have Fun Farewell Tour", que terá apresentações nos Estados Unidos de outubro a dezembro, além de uma passagem pelo Rock in Rio, em setembro.

A artista, que não faz uma grande turnê há mais de uma década, diz que está treinando como uma atleta. Trabalha com um treinador vocal quatro dias por semana e tem uma rotina que inclui fisioterapia, musculação, yoga e aeróbica. "Quando você é um artista, tem que ser um atleta. Não pode brincar por aí. Quando tem 20 anos, talvez, mas quando envelhece não mais", diz. "Quero estar forte nos palcos."

Mulher branca posa para foto em roupa com mangas longas
A cantora Cyndi Lauper - Thea Traff/The New York Times

Ao preparar as apresentações, ela diz que rememora toda sua vida. Como quando dançava pela casa ao som das músicas dos Beatles, com a irmã mais velha cantando as partes de Paul McCartney, e ela, as de John Lennon —sua primeira lição de harmonia e estrutura musical.

Cantando músicas de outros artistas em bares, Lauper batalhou para encontrar seu lugar. Tentou imitar Janis Joplin e Gene Pitney, mas não se deu bem. Ela simplesmente não era boa em ser ninguém além dela mesma. Foi quando começou a escrever e arranjar músicas para si mesma que fez sucesso, inclusive porque passou a cantar sobre as mulheres de sua vida —a mãe, a tia, a avó.

Tudo mudou quando Lauper conheceu Robert Hazard, que havia escrito o protótipo de "Girls Just Want to Have Fun". Mas a faixa era um rock sob a perspectiva de um homem, que Lauper recriou de forma alegre, denunciando o sexismo e elevando a voz. "Cantei alto porque estava anunciando uma ideia", diz.

E então veio o clipe. "Aquele vídeo era o que hoje chamamos de ‘inclusivo’", afirma. Além do lutador profissional ítalo-americano Lou Albano, Lauper apresentou sua mãe, seu advogado, seu empresário, as secretárias da gravadora e um grupo racialmente diverso de cantores e dançarinos.

Era 1983, e a MTV ainda estava em seus primórdios. Foi uma feliz coincidência que seu álbum de estreia, "She’s So Unusual", ou ela é tão diferente, tenha sido lançado quando a rede estava crescendo e Lauper via sua imagem pública como uma forma de arte visual —sua maquiadora era uma pintora, e sua estilista era uma vendedora de roupas vintage.

Quando sua carreira artística decolou, Lauper parecia ter sido alçada à fama como um símbolo feminista incontornável. Ela se recusava a dizer sua idade aos jornalistas e insistia para que reconhecessem a política por trás de suas escolhas estéticas.

"Eu usei o espartilho para desfazer o poder da opressão das mulheres", dizia. "Sei que provavelmente perdi negócios porque falei muito sobre Aids, por exemplos, mas precisava me posicionar, como qualquer bom italiano, e defender minha família."

Em 2008, Lauper fundou a True Colors United, para ajudar a combater a falta de moradia entre jovens LGBTQ+. Em 2022, criou o fundo Girls Just Want to Have Fundamental Rights, para apoiar o acesso ao aborto e movimentos feministas.

Mulher branca posa para foto deitada em um sofá
A cantora Cyndi Lauper - Thea Traff/The New York Times

Em 1985, ela venceu o Grammy de melhor artista revelação após o lançamento de "She’s So Unusual". O álbum —e músicas como "Time After Time" e "All Through the Night"— quebraram recordes. Mas algo estranho acontecia. Ao redor, ela via cópias sua por toda parte.

"Quando fiquei famosa, senti como se o mundo inteiro simplesmente tivesse sugado tudo que eu tinha —as joias, as cores, os espartilhos. Eles usaram tudo. Depois cuspiram e disseram: 'Próxima!'"

Na década de 1980, Lauper foi muito comparada a outras artistas —principalmente a Madonna, que lançou seu álbum de estreia no mesmo ano—, sob a insinuação de que não havia espaço para todas. Em programas de auditório ou nos pátios das escolas, celebridades e fãs se viam obrigados a escolher uma das duas. Hoje, entre suas seguidoras, está Nicki Minaj, que a sampleia em "Pink Friday Girls".

Lauper lançou mais 11 álbuns após sua estreia —entre eles um de blues, outro de country e ainda um de dança. No início dos anos 2000, foi para a Broadway, estrelando "A Ópera dos Três Vinténs" e escrevendo a música e as letras do musical "Kinky Boots", que o levou a vencer o maior prêmio do teatro americano, o Tony, na categoria de melhor trilha sonora.

Mas nem tudo que queria ela conseguiu fazer, e agora terá a chance durante sua turnê —desde usar o vestido preto com asas de borboleta do qual ela sai, como se estivesse num casulo, até uma espécie de saia mecânica que se assemelha a um globo, que gira lentamente enquanto ela canta.

Pode parecer extravagante, mas Lauper diz não ter medo de nada. Numa indústria que exige a busca desenfreada do novo e a ausência de identidade, ela garante que nunca esteve disposta a abandonar a si mesma e não será diferente agora.

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