Eva Soban celebra carreira em exposição que traz as formas e cores da arte têxtil

Esculturas de crochê e macramê transformam ambiente de galeria de São Paulo em floresta de tecidos para tratar de amor

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Obra de Eva Soban em exposição na galeria MaPa, em São Paulo Divulgaçao galeria MaPa

Ítalo Leite
São Paulo

Os cômodos brancos da galeria MaPa, localizada em São Paulo, foram tomados pela floresta artificial de tecido de Eva Soban. Esculturas de crochê e macramê se espalham pelo chão, teto e paredes, compondo a exposição de arte têxtil que celebra a carreira da artista, em exibição até o próximo dia 28.

A artista Eva Soban com sua obra "Floresta Negra", em crochê, de 2010
A artista Eva Soban com sua obra "Floresta Negra", em crochê, de 2010 - Claudio Barboza

Inspirada na relação entre os sentimentos humanos e o exterior ao ser, a exibição é uma imersão em um meio ambiente feito de algodão e polipropileno da artista brasileira de origem eslava. Troncos cilíndricos de tecidos e formas irregulares de crochê, emergindo do chão como estalagmites de cavernas, constroem a atmosfera da exposição.

Organizada por Xenia Bergman, a mostra é um convite para o labirinto artístico de Eva Soban e a materialização da arte têxtil, também conhecida como tapeçaria, atividade de inspirações milenares em que há a utilização de tecidos para a formação de esculturas e instalações.

Conforme Soban, a tapeçaria tem origem ligada à criação de tecidos pelo ser humano para sobreviver às intempéries da natureza.

Com o passar dos anos, inúmeras culturas ao redor do mundo, como a judaica e a árabe, firmam uma produção de tapetes, dando à atividade selo de decoração, aponta Bergman, a organizadora.

No Brasil, a tapeçaria tem sua germinação na década de 1920, ao lado de outros gêneros do modernismo, como a arquitetura e o design. O país seguiu o fluxo do mundo e passou a desenvolver uma tapeçaria que ia além do utilitarismo para se tornar arte.

Mas é na década de 1970, com outros expoentes como Norberto Nicola e Jacques Douchez, que Eva encontra a tapeçaria e a constrói como arte. Imprimindo profundidade e abstração às obras, a artista participa de três edições da Trienal de Tapeçaria no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM, em 1976, 1979 e 1982.

Trazendo esse histórico, Eva recria seu paraíso de tecido feito de questionamentos, introspecções e desejos sobre o amor, a natureza e a vida. Ao todo, a exposição na galeria MaPa reúne 12 obras que formam a cena de uma mata e esculturas que falam de amor e autoconhecimento.

Em "Alquimia", de 1981, Soban monta uma escultura feita em tecelagem manual para formar a figura de um homem meditando, composta na fibra natural juta. A obra fez parte da 3ª Trienal de Arte Têxtil do MAM e contempla idealizações da artista sobre destino, crença e vida.

Na série "Floresta Negra", de 2010, Soban traz uma instalação feita de esculturas cilíndricas em crochê na cor preta que evocam árvores de uma mata fechada, na qual os visitantes podem tocar e passar por entre os elementos materiais.

A obra foi feita após uma viagem da artista à Patagônia, onde visitou uma floresta que a fez sentir a dualidade sobre morte e vida em meio à natureza.

Outra série que recria a percepção de natureza de Eva é "Petrificadas", de 2015, na qual a artista constrói estruturas semelhantes a estalactites e estalagmites, formações minerais encontradas em cavernas, aludindo ao início e fim de relações afetivas.

A organizadora aponta a relação entre o tecido e o texto escrito como uma das inspirações na arte têxtil. Uma das obras de Eva exemplifica essa alusão. Na série "Cartas de Amor", de 2016, a artista forma esculturas em cordas grossas, em linho, algodão e seda, que se enroscam como a escrita.

A artista conta que a ideia para a obra surgiu ao tentar escrever uma carta saudosista para os netos que haviam viajado para fora do país.

Eva Soban em seu ateliê
Eva Soban em seu ateliê - Instagram @eva_soban

Artista e organizadora falam sobre a importância da materialidade e da autoria na arte em uma realidade já composta por questionamentos em relação a projetos feitos por inteligência artificial.

"Quando um artista faz algo, há a energia dele ali materializada, cria-se uma existência, ao contrário de uma reprodução, que só aperta o botão só", afirma Soban.

Apesar do propósito da exposição ser a reunião das obras da carreira da escultora, Soban salienta que a mostra também é uma exibição sobre uma artista em atividade no presente, que proclama a celebração da vida.

"Eu tenho um trabalho contemporâneo. Sou uma pessoa mais velha e não é por isso que meu trabalho é velho. Estou mostrando um trabalho consistente, que tem não só história, mas também força por estar sendo feito hoje", afirma Eva.

Tal vivacidade é sentida na paixão com que a artista fala sobre sua obra e o processo de trabalho, definido como manual e vagaroso. O resultado é visto nas esculturas expostas, que condensam a carreira da artista sem dar um ponto final na trama criada por Eva.

EVA SOBAN

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