Herdeiros de Tarsila trocam farpas após certificação de autoria de tela da artista

Família da pintora, rachada em duas, questiona por um lado e defende por outro a veracidade da tela 'Paisagem 1925'

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São Paulo

Após uma pintura de Tarsila do Amaral antes tida como falsa ser certificada como verdadeira nesta semana, os herdeiros da artista estão trocando farpas por meio de cartas públicas.

Tarsila morreu em 1973 e não deixou filho nem marido. Ela tem 57 herdeiros, rachados entre os que estão ao lado de Tarsilinha do Amaral, a sobrinha-neta da artista que esteve à frente de seu legado por 20 anos, e os que se alinham à sobrinha-bisneta Paola Montenegro, a responsável pelo espólio desde 2022.

Tela de Tarsila do Amaral datada de 1925 que teve autoria confirmada por herdeiros e perito - Filipe Berndt/Filipe Berndt

A reportagem questionou o número exato de herdeiros que estão do lado de Montenegro e se há quem fique neutro, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Em comunicado divulgado nesta quarta (21), 27 herdeiros do lado de Tarsilinha —com ela, somam 28— repudiam a certificação da autoria da pintura "Paisagem 1925". Eles dizem que "um pequeno grupo de pessoas, dentre elas herdeiras de Tarsila do Amaral, não possuem legitimidade para afirmar a autenticidade de obras sem submetê-las ao colegiado que elaborou o catálogo raisonné" da pintora.

Elaborado por um grupo de especialistas e publicado em 2008, o catálogo raisonné é o livro referência sobre as obras de Tarsila, mas nele não consta a nova tela "Paisagem 1925", que seria desconhecida dos familiares e estaria fora do Brasil na época da feitura da publicação.

A carta afirma ainda que Paola Montenegro é despreparada para comentar o processo de autenticação da pintura. Diz também que a Tarsila do Amaral Licenciamento e Empreendimentos S.A., conhecida como Tale, não possui autorização para tanto —a empresa, chefiada por Montenegro, cuida do legado da pintora.

Por fim, acrescenta que não houve discussão prévia sobre a veracidade do quadro com os 28 herdeiros que assinam a carta. "Essa tentativa irresponsável de divulgar uma obra de Tarsila, não indicada no catálogo, põe em risco a credibilidade conquistada durante anos de árduo trabalho [de fazer o raisonné], podendo sujeitar pessoas de boa-fé a adquirirem obras não autênticas", afirma o documento.

Em resposta, herdeiros aliados a Montenegro divulgaram nesta quinta (22) uma carta afirmando que a certificação de "Paisagem 1925" amplia e enriquece o legado de Tarsila, "com a inclusão de mais um quadro, com reflexos importantes para o patrimônio cultural brasileiro, definidor das características da artista".

A nota afirma que a Tale tem o direito de certificar a autoria de obras atribuídas à Tarsila e promover uma nova catalogação de seus trabalhos. "A carta recém-divulgada de alguns herdeiros [aliados de Tarsilinha] apenas expressa o descontentamento com a modernização em curso na empresa e semeia o descrédito sobre esse valioso patrimônio cultural."

Também confirma a dissolução do colegiado que preparou o catálogo raisonné e chama de informais as certificações de trabalhos da artista feitas no passado.

A validação de "Paisagem 1925", argumentam, é fruto de um processo técnico e científico liderado pelo perito Douglas Quintale que teve o apoio da Universidade de São Paulo e de um laboratório de análise de obras de arte da Universidade Federal Fluminense.

Ainda de acordo com a carta, um dos compromissos da nova gestão do espólio é, "em respeito ao legado artístico e cultural de Tarsila do Amaral", tomar "para si o trabalho de documentar, autenticar e divulgar as obras da maior pintora brasileira".

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