Descrição de chapéu The New York Times

Antonio Meneses foi músico para os músicos com sua interpretação concentrada

Violoncelista, morto em agosto, deixava claro de forma tranquila que era o servo da música, e não o contrário

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Adam Nossiter
The New York Times

Antonio Meneses tinha 10 anos quando ele e seus quatro irmãos foram recrutados para a Orquestra do Teatro Municipal do Rio. Seu pai, um trompista no Rio de Janeiro, decidiu que seus filhos deveriam tocar instrumentos de cordas para aumentar suas chances de emprego.

Aos 24 anos, Meneses havia superado as expectativas de seu pai. Ele havia vencido dois importantes concursos internacionais de violoncelo, incluindo o Concurso Tchaikovsky em Moscou, e estava a caminho de gravar obras de Johannes Brahms e Richard Strauss com Herbert Von Karajan e a Filarmônica de Berlim. Mais tarde, ele foi recrutado por Menahem Pressler para se tornar o último violoncelista no maior trio de piano do final do século 20, o Beaux Arts Trio.

O violoncelista Antonio Meneses - Adriano Vizoni/Folhapress

Meneses, que se tornou um dos principais violoncelistas de sua geração e uma figura importante na vida musical de sua terra natal, o Brasil, morreu em 3 de agosto em Basel, Suíça. Ele tinha 66 anos.

Sua morte, em um hospital, foi confirmada por seu agente, Jean-Marc Peysson. A mídia brasileira informou que a causa foi um câncer cerebral.

Com sua interpretação séria e concentrada, seu tom cantante, sua técnica segura e sua dedicação absoluta ao texto musical, Meneses se destacou como um músico para músicos.

Ele era procurado por maestros como Zubin Mehta, Claudio Abbado e Andrew Davis, e por recitalistas como a grande pianista portuguesa Maria João Pires, com quem gravou obras de Brahms e Franz Schubert. Com a pianista Cristina Ortiz, sua compatriota, ele gravou um memorável disco de Heitor Villa-Lobos.

A linha serena e pura que ele produziu em "O Canto do Cisne Negro" nessa gravação é característica, descomplicada e lírica ao mesmo tempo. Essas foram as qualidades que chamaram a atenção de Pressler, segundo Peysson.

"O Meneses tem uma técnica infalível, um som de beleza especial e uma busca pela musicalidade que o tornam um artista como poucos", disse Pressler sobre ele. (Pressler faleceu no ano passado.)

Meneses era um parceiro ideal na música de câmara, disseram aqueles que trabalharam com ele, por causa de suas qualidades discretas. "Ele tinha uma solidez, uma certeza, uma fidelidade musical", disse Peysson em uma entrevista. "Quando algo estava no lugar" após um ensaio, "ele respeitava isso. Seus colegas sempre se sentiam tranquilos. Ele não tentava coisas novas."

Em entrevistas, Meneses deixava claro de forma tranquila que era o servo da música, e não o contrário. "Não é o instrumento em si", disse com leve exasperação em 2013 a um entrevistador de televisão romeno que estava exaltando as habilidades de Meneses no violoncelo antes de uma apresentação do concerto para violoncelo de Edward Elgar. "É apenas algo que você usa para produzir música."

Meneses deixou sua terra natal aos 16 anos para estudar na Alemanha com o grande violoncelista italiano Antonio Janigro, e viveu pelo resto de sua vida na Europa. Mas ele frequentemente voltava ao Brasil, onde seus irmãos eram músicos profissionais de cordas, cumprindo o que ele chamava de "sonho" de seu pai para a família. Lá, ele tinha uma presença marcante como defensor tanto de Villa-Lobos quanto de novas obras de compositores brasileiros, e como uma estrela internacional.

"O que me impressionou nele foi seu cuidado com o som", disse o compositor João Guilherme Ripper, ex-presidente da Academia Brasileira de Música, em uma entrevista do Rio de Janeiro. "Havia um tipo de perfeccionismo nele."

Em Nova York, ele foi especialmente apreciado por ajudar a rejuvenescer o Beaux Arts Trio, que existia há mais de 40 anos quando Meneses se juntou a ele em sua última década em 1998.

"Ele cria uma bela linha cantante, delicada de uma maneira apropriada para o repertório de trio, e absolutamente segura", escreveu o crítico Paul Griffiths em dezembro daquele ano no The New York Times em uma resenha da estreia do trio reconstituído.

Antônio Jeronimo de Meneses Neto nasceu em 23 de agosto de 1957, em Recife, no nordeste do Brasil, o filho mais velho de João Jeronimo Meneses e Rivanice Vieira de Meneses. Seu pai tocava na Orquestra Municipal do Rio e era primeiro trompa na orquestra da ópera do Rio. Antônio ganhou um violoncelo de criança antes de chegar à adolescência. Aos 14 anos, ele já tocava com a Orquestra Sinfônica Brasileira. Janigro, em turnê com a orquestra, ouviu-o tocar e o levou para Düsseldorf para estudar.

Em 1977, Meneses ganhou o primeiro prêmio no Concurso Internacional de Música ARD em Munique, o principal concurso de música clássica da Alemanha, e em 1982 sua interpretação das Variações Rococó de Tchaikovsky lhe rendeu a medalha de ouro no concurso Tchaikovsky em Moscou. Ele brincou mais tarde que recebeu o prêmio por capricho de um "burocrata" que comentou que o caminho estava livre para ele porque "a URSS não tinha disputas diplomáticas com o Brasil."

Sua carreira decolou depois disso, e Karajan logo o recrutou para gravações com a Filarmônica de Berlim. Meneses se aposentou abruptamente da vida de concertos em julho após seu diagnóstico. Ele é sobrevivido por sua esposa, Satoko Kuroda; um filho, Otávio, de seu primeiro casamento, com a pianista filipina Cécile Licad; e três irmãos, Eduardo, Ricardo e João. Seu outro irmão, Gustavo, um violinista, faleceu em 2021.

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