A escolha do nome da empresa é o primeiro dilema do empreendedor, segundo especialistas em gestão de marca ouvidos pela reportagem.
Quem acerta sai na frente na hora de fazer com que as pessoas falem da sua empresa. É questão de dosagem: repetir fórmulas muito surradas, usar palavras genéricas demais (não funcionam como diferenciais) e ficar nas saídas óbvias são atitudes que apontam para o fracasso na criação do nome.
Por outro lado, excesso de originalidade, apego à própria ideia e criação de palavras que não querem dizer nada para o cliente são, também, atitudes que dificilmente levam a uma boa solução.
O momento da criação do nome deve vir depois de o modelo de negócio estar bem imaginado e colocado no papel, após definição do espaço que a empresa quer ocupar no mercado, da escolha de parceiros, do público-alvo e dos pontos de venda.
A decisão deve ser tomada com cuidado, já que o nome é a primeira palavra que clientes e parceiros ouvirão ou lerão sobre uma empresa.
MENSAGEM CERTA
Antes de tudo, o nome precisa reforçar de forma sintética e criativa elementos que definem a empresa, como seu posicionamento no mercado e seu
público-alvo. "Um posicionamento bem resolvido é o grande patrimônio das marcas", diz o consultor Jaime Troiano, da Troiano Branding. Para ele, o nome é a primeira ferramenta de marketing da nova organização.
OUTRAS OPINIÕES
Quando teve de escolher um nome para a sua livraria virtual, hoje a maior empresa de e-commerce do planeta, o americano Jeff Bezos, nascido no Novo México, pensou em várias alternativas: "Relentless.com", "Awake.com", "Aard.com", "Brows.com". Quase decidiu-se por "Cadabra" (de "Abracadabra"). Até que seu advogado o lembrou que ela poderia ser confundida com "cadáver". Ele partiu para Amazon: tinha a vantagem de começar com "A", ser fácil de pronunciar em inglês e outros idiomas, além de dar a ideia de algo vasto e abrangente.
SEM GENÉRICOS
Em qualquer ramo de atividade ou tipo de produto, é vital que a marca seja lembrada com facilidade. "Um nome improvável, que surpreenda, sempre marcará mais do que os óbvios", diz o francês Marcel Botton, fundador da Nomen, principal agência de criação de nomes de empresa e marcas da França. Ele e sua equipe já bolaram cerca de 1.800 nomes, alguns célebres, como o do Vélib, serviço de compartilhamento de bicicletas na região de Paris.
PRONÚNCIA SIMPLES
Fuja de nomes difíceis de serem pronunciados, e, por consequência, memorizados. Hoje, quando na maioria dos casos um dos primeiros contatos da empresa com seu público pode se dar por uma busca na internet, é fundamental que o nome seja simples na fala e na escrita. Nomes muito longos também podem ser dispensados. Nos seus primeiros tempos, em 2003, a marca Skype era conhecida como "Sky-Peer-to-Peer". Mudou logo em seguida, quando os fundadores perceberam que o nome precisava ser mais conciso.
BOA SONORIDADE
Palavras difíceis de serem pronunciadas sempre são ruins para batizar uma empresa. "Se além de um bom som elas conseguirem vender bem a ideia do ramo do seu negócio, com atitude será ótimo", diz Jaime Troiano. Uber quer dizer "através de" em alemão. Mas é uma palavra fácil de ser pronunciada em vários idiomas. Nada mal para uma empresa especializada em mobilidade, que atua em 84 países. Adidas nasceu da mistura entre o apelido "Adi", diminutivo de Adolf, com a primeira sílaba de "Dassler", nome e sobrenome do fundador da marca de artigos esportivos. É sonoro e fácil de pronunciar em qualquer língua. Lembre que nomes estrangeiros podem gerar pronúncias erradas. Isso pode confundir, mais do que ajudar o seu negócio.
LICENÇA POÉTICA
No caso de consultorias, construtoras ou escritórios de advocacia, a clássica utilização de nomes e sobrenomes dos proprietários ainda é muito valorizada porque coloca em evidência a reputação dos sócios, emprestando a credibilidade da pessoa para o negócio. Mas essa fórmula pode não funcionar em outros ramos de atividade. E mesmo para consultorias e escritórios de profissionais liberais, é desejável que o nome, o sobrenome ou o conjunto de nomes soe bem e seja fácil de pronunciar e de lembrar, reforçam os especialistas.
CORREÇÃO DE ROTA
Blue Ribbon Sports foi o nome da antecessora da Nike, nos tempos em que a empresa era apenas uma importadora de equipamentos esportivos japoneses nos EUA. O nome atual foi inspirado na deusa grega da vitória e ajudou a tornar a empresa célebre.
Outro gigante também mudou seu nome: o Google. Em 1996, o americano Larry Page e o russo Sergey Brin, lançaram o BackRub, motor de buscas nos servidores da Universidade de Stanford. Um ano depois, rebatizaram a empresa com uma referência a "googol", termo da matemática que designa o algarismo "um" seguido de cem zeros. Em 2015, a empresa matriz do conglomerado passou a chamar-se "Alphabet" e o Google passou a ser uma das suas unidades. A ideia é explorar novas atividades sem o risco de vincular o nome célebre a eventuais insucessos
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.