Criptomoeda é só ponta do iceberg, diz especialista

Especialista destaca importância do Blockchain, tecnologia em que se baseia a bitcoin

Pendrive funciona como a carteira para guardar bitcoin - AFP
Ricardo Ampudia
São Paulo

Em meio ao frenesi do bitcoin, o canadense Don Tapscott, autor de Blockchain Revolution e diretor do Blockchain Research Institute que iniciou suas atividades no Brasil no fim de janeiro, se apressa em desfazer a confusão entre a tecnologia e as criptomoedas, que considera só uma pequena parte do seu potencial.

Ele diz que a grande oprotunidade do blockchain ainda está fora do radar das discussões sobre uma possível bolha de bitcoin e aponta a rastreabilidade de cadeias de produção como o próximo setor a ser modernizado.

Montadoras de eletrônicos espalhadas pelo mundo, por exemplo, poderão usar uma rede distribuída e altamente criptografada para rastrear e controlar o caminho de cada peça dos seus aparelhos.

Uma grande rede de supermercados, quando tem algum problema com comida, seria capaz de rastrear de onde veio a carne, qual foi a alimentação daquele animal e detectar o problema na origem, usando blockchain. Acho que esta será a próxima grande coisa.

Blockchain é a tecnologia em que se baseia a bitcoin. É uma espécie de livro-caixa global em que as operações não podem ser apagadas.

Em dezembro de 2017, a rede de hipermercados Walmart anunciou uma aliança de segurança alimentar em blockchain, desenhada pela IBM em parceria com a Universidade de Tsinghua, na China, e a rede JD.com, um dos maiores e-commerces daquele país, para compartilhar informações de venda, armazenagem e fornecimento, permitindo o rastreio de produtos alimentícios. O projeto-piloto foi montado para acompanhar o caminho de produtos com carne de porco.

A transportadora dinmarquesa Maersk também já usa o sistema de blockchain da IBM para rastrear a documentação de cargas marítimas da fábrica ao comprador final.

A Foxconn, montadora de Taiwan responsável por produtos da Apple, também deu seu passo na tecnologia, em março de 2017, criando uma financeira capaz de gerar empréstimos às subsidiárias usando tecnologia blockchain, em parceria com a Dianrong, dispensando bancos como intermediários.

Em São Paulo para palestra na 11ª Campus Party, Tapscott comenta que a reação dos bancos e governos ao bitcoin e similares vem da ignorância e do medo de perder o papel na vida financeira dos seus cidadãos e a regulamentação existente já é o bastante para proteger o consumidor.

Se você está cometendo fraude, todo país tem leis antifraude. Se você está vendendo assassinatos em bitcoin na deepweb, existem leis para assassinato em qualquer país, basta aplicá-la, diz.

Antes de chegar a São Paulo, Tapscott esteve em Davos, para atuar como consultor do Fórum Econômico Mundial. Após um ano de frenesi em torno das criptomoedas, governos e bancosquerem entender melhor o que está por trás do hype e encontrar soluções para regulamentação. Bancos estão se mexendo rápido agora, porque viram uma ameaça surgindo e não uma oportunidade. Os governos, por sua vez, podem ter um papel muito positivo ou muito negativo, não há meio-termo."

Ao passo que o Canadá tem feito testes pilotos de financiamento estudantil usando o blockchain Ethereum, países como Coreia do Sul ameaçaram proibir a oferta de criptmoedas no mercado e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) brasileira proibiu os fundos de investirem em bitcoin, por não o considerarem um ativo financeiro.

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