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Conselheiro da Ambev relata fusão entre Antarctica e Brahma

Marchi defende fusão como saída para evitar que duas empresas brasileiras acabassem nas mãos de capitais estrangeiros

Victorio de Marchi, conselheiro da Ambev e autor de De Duas, Uma: A Fusão na Mesa" - Marisa Cauduro - 3.mar.04/Valor/Folhapress
Joana Cunha
São Paulo

"De Duas, Uma: A Fusão Na Mesa" é mais um livro que conta a história da formação da Ambev, talvez o assunto mais frutífero para a inspiração de títulos de negócios no Brasil.

Esse tem o mérito de evidenciar o papel de Victorio De Marchi, personagem menos explorado em uma história tão batida.

Hoje conselheiro da gigante de bebidas, era ele quem comandava a Antarctica quando, em 1989, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira compraram a Brahma para revolucionar o mercado de cervejas no Brasil.

O prefácio de Nizan Guanaes resgata os primórdios do que seria a guerra publicitária entre a Brahma, "a Número 1", e a Antartica, "Paixão Nacional". Até que elas se uniram, em 1999.

No livro, Marchi faz a defesa da fusão como uma saída para evitar que as duas empresas centenárias brasileiras acabassem nas mãos de capitais estrangeiros num momento em que as altas taxas de juros impediam a expansão da indústria nacional para fora.

"Se Antarctica ou Brahma pretendessem comprar uma fábrica em outro país e financiá-la com o custo do empréstimo no Brasil, não teriam chance, pois um concorrente dos EUA, por exemplo, poderia ofertar o dobro do preço, uma vez que, ao fim de oito anos, a diferença de juros levaria aquele investimento ao mesmo patamar", escreve Marchi na sua introdução.

Foi assim que decidiram se unir para criar uma gigante capaz de competir com as multinacionais.

Marchi, então, contextualiza a gênese da fusão no momento econômico pelo qual passava o governo do ex-presidente FHC, superando o baque do violento ataque especulativo que o real sofrera no ano anterior.

Ele descreve o primeiro encontro que teve com, então diretor-geral da Brahma: a ideia de unir arquirrivais que juntas respondiam por quase todo o mercado de cerveja brasileiro surgiu, segundo Marchi, "quase espontaneamente".

E foi ali mesmo, após o almoço, que Telles em pé, com a xícara de café na mão, sugeriu o nome Companhia de Bebidas das Américas --em inglês, American Beverage Company, ou Ambev.

Quem provocou a união improvável de dois competidores com culturas tão diferentes foi a lógica de mercado, de acordo com Marchi.

Além de descrever os primórdios da Fundação Antonio e Helena Zerrenner --antiga controladora da Antarctica-- e a trajetória profissional de Marchi, em seu trecho mais interessante, o livro conta a evolução da cerveja e do guaraná no Brasil, com direito a reprodução da lenda indígena sobre o nascimento do produto e a alquimia da bebida.

O livro vale, sobretudo pelo registro histórico, inclusive com fotos, da indústria cervejeira. E traz detalhes como a ocasião em que a Antarctica quase adquiriu a Brahma, em 1902. Uma proposta chegou a ser apresentada com argumentos semelhantes aos que levaram à efetivação da junção de ambas quase um século depois.

Anos antes da fusão, as duas empresas que sempre protagonizaram um flá-flu já vinham se aproximando na defesa de interesses comuns, como a discussão de políticas industriais e tributação.

O livro ganha ritmo ao relembrar os momentos finais da negociação e a antecipação do anúncio, quando uma alta atípica nas ações da Antarctica na Bolsa sinalizou que havia vazado alguma informação sobre a megaoperação. Mas, na prática, ele não oferece bastidores profundos da negociação em si. Entrega, quando muito, detalhes curiosos, como a antecipação da notícia em comunicado pessoal a FHC.

Ainda que não tenha trazido um grande fato inédito, capaz de transformar a maneira como o brasileiro enxerga essa imensa operação, o livro a esclarece. Seu maior diferencial está, talvez, na elegância com que expõe e organiza a narrativa.


 

De Duas, Uma: A Fusão na Mesa

  • Preço R$ 52
  • Autor Victorio De Marchi
  • Editora Bella
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