Uma disputa entre bancos públicos e privados ameaça travar um empréstimo para a Odebrecht. Se o impasse não for resolvido, a empreiteira pode acabar em recuperação judicial —algo que tenta evitar a todo custo.
Apenas Bradesco e Itaú aceitaram conceder um novo financiamento de cerca de R$ 2,7 bilhões para que a holding da Odebrecht quite suas dívidas, mas, em contrapartida, querem ter preferência na hora de receber.
Hoje os primeiros da fila das garantias são Banco do Brasil e BNDES, que resistem a abrir mão desse direito. Os dois bancos públicos também não concordaram em entrar no novo empréstimo para a Odebrecht.
O Santander não topou injetar dinheiro novo, mas não é um credor relevante da empresa e não deve influenciar muito no acordo.
O grupo Odebrecht tem R$ 4 bilhões em dívida em diferentes empresas para pagar nos próximos 12 meses —a mais urgente delas é um bônus de R$ 550 milhões da OEC (Odebrecht Engenharia e Construção), que vence no próximo dia 26.
Mesmo após o vencimento, a OEC tem 30 dias para efetuar o pagamento, o chamado “período de cura”, antes de ser declarada oficialmente inadimplente.
A companhia, no entanto, tenta evitar o default para não manchar ainda mais a sua imagem e corre para fechar as negociações com os bancos dentro do prazo.
Pessoas que acompanham as discussões de perto dizem que o plano da Odebrecht é pagar o bônus e evitar a recuperação judicial, mas admitem que a venda de ativos atrasou e que a companhia precisa do acordo com os bancos para honrar as dívidas.
As garantias do novo empréstimo são as ações da Odebrecht na petroquímica Braskem. A companhia já havia empenhado os papéis em outro financiamento de R$ 7 bilhões que recebeu dos bancos quando a crise da Lava Jato estourou.
Desde então, os papéis da Braskem se valorizaram e abriram espaço para um novo empréstimo. Em meados de 2016, quando as ações foram entregues em garantia às instituições financeiras, estavam avaliadas em cerca de R$ 9,5 bilhões. Hoje, podem valer a R$ 14,5 bilhões.
Procurada, a Odebrecht informou que não considera que exista um impasse nas negociações com os bancos, mas apenas que elas são complexas por natureza. A empresa mantém sua expectativa de encerrar as tratativas antes do vencimento dos bônus.
Bradesco, Itaú, BB e BNDES não se manifestaram.
LAVA JATO
O impasse entre os bancos chega num momento em que a Odebrecht tenta virar a página da delação premiada. Com dificuldades para recompor sua carteira de obras, a OEC queimou R$ 888 milhões de caixa em 2016 para seguir operando. Os dados de 2017 ainda não foram divulgados.
A construtora conseguiu recentemente vencer sua primeira licitação pós-Lava Jato. Foi contratada pela estatal Furnas para modernização da planta da usina termelétrica Santa Cruz.
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