'MDB é o pior que a política brasileira já produziu'

Empresário que apoiou Lula nos anos 80 afirma que PT e MDB são sócios na geração da crise

Lawrence Pih foi presidente do Grupo Pacífico, de processamento de trigo; hoje é investidor - Eduardo Anizelli / Folhapress
Joana Cunha Alexa Salomão
São Paulo

Um dos primeiros empresários a apoiar o PT, nos anos 1980, --e que abandonou o partido no mensalão —, Lawrence Pih, 75, acredita que o ex-presidente Lula participará da campanha presidencial deste ano apoiando outro candidato. Se ele mesmo concorresse, não teria mais condições de se reeleger.

O empresário considera que o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles é o melhor nome para governar o país porque não tem "telhado de vidro", embora não acredite que ele seja capaz de ganhar a eleição.

Na opinião de Pih, qualquer político que tenha o nome envolvido em alguma suspeita de corrupção não conseguirá governar porque ficará refém do Congresso, como aconteceu com Michel Temer.

Pih considera o MDB a pior coisa que a política brasileira já produziu e diz que o partido é responsável por grande parte da crise atual.

Para ele, a retomada da economia que está em curso não é sustentável e o alto volume de dívida no mundo sinaliza uma nova e profunda crise global, para a qual o Brasil não está preparado.

 

Folha- Quais é a expectativa do sr. com a prisão de Lula?

Lawrence Pih - Lula pode ser preso, mas provavelmente será solto antes do término da campanha presidencial. E fará campanha com um apoio provavelmente maior que o atual. Ele não é elegível, mas terá papel preponderante nestas eleições. O resultado eleitoral é imprevisível e ainda corremos o risco de, dependendo de quem vença, tenha dificuldade para governar.

Como assim?

Qualquer pessoa que tenha qualquer vínculo com corrupção, seja suspeito ou investigado terá dificuldade de governar porque será refém do Congresso.

Das opções que já estão colocadas até agora, quais lhe parecem mais adequadas?

O [ex] ministro da Fazenda Henrique Meirelles. Ele não tem telhado de vidro, que eu conheça. Foi presidente do BankBoston. Ninguém chega a ser CEO de uma empresa desse porte sem qualificação. É um homem que entende de mercado e tem trânsito político. Não pertence a um grupo, e por isso tem mais acesso no Congresso do que alguém como Geraldo Alckmin, que por ser do PSDB, pode dificultar o trânsito. Creditou-se a ele e ao [ex-ministro] Antonio Palocci o resgate da confiança no país no primeiro mandato Lula.

Alguém que ficou dentro da J&F, holding do Banco Original, Eldorado, JBS, empresas que envolvidas operações suspeitas, não tem telhado de vidro, como sr. diz?

Eu acho que a consultoria dele é técnica, e não política, mas não tenho detalhes. A área política foi operada por outras pessoas. Ter se juntado a esse grupo não seria bem-visto, mas até hoje não há indício de participação. Me parece que ele não teve. Posso estar enganado no futuro.

E como o sr. vê a questão da baixa popularidade dele?

Aí está o obstáculo. Não estou dizendo que será eleito. Estou dizendo que, na conjuntura atual, é o melhor candidato. Ele não é carismático como o Lula, mas não é um manipulador como Temer. É a pessoa melhor para o Brasil, mas nem sempre o povo escolhe o melhor.

Por que manipulador?

Ele manipulou tudo. Está no MDB desde o início. A história do Temer tem quatro décadas e ele sempre teve influência no partido, nos caciques do MDB. E o MDB é o pior partido que existe na história recente do país. É um partido sem ideologia, que sempre quer estar ao lado do poder. Sempre situacionista e nunca oposição. E estão lá para fazer negócios.

O MDB é o grande responsável pela situação do Brasil hoje. Pela falta de ética, falta de programa, de um fisiologismo nas bancadas, dos negócios. Foi um dos grandes responsáveis por destruir o Brasil, junto com o PT, nos últimos dez anos. O Brasil está onde está em função destes dois partidos. Há coadjuvantes. Mas os maiores são MDB e PT, pela força política e pelo tamanho.

Mas o sr. apoiou o PT lá atrás.

Eu apoiei o PT no auge da ditadura. Até acredito que foi uma reação um pouco emocional. Eu me formei em filosofia. Tive a oportunidade de conhecer um pouco a elite econômica do Brasil porque sou empresário e conheci o modus operandi do empresário brasileiro. E me perguntei: 'essa elite econômica e política vai levar o país adiante?' E a resposta era não.

Qual era o único partido que tinha um programa naquele momento? Estou falando de 1986. Na época, o PT. A minha maior vontade era chacoalhar a elite do Brasil. Sendo muito mais jovem, os conceitos eram um pouco diferentes.

Houve um processo de amadurecimento meu. Aprendi coisas que eu desconhecia naquela época. Eu não imaginava que o PT se lambuzaria como qualquer outro partido na corrupção como fez.

Tanto que me afastei em 2005, depois identifiquei que o PT era igualzinho aos outros partidos. E pior, ainda tinha o viés econômico que nos levaria aos níveis que se vê na Venezuela de hoje.

O sr. criticou Temer, mas muitos empresários elogiam a gestão dele. Qual a sua avaliação do governo Temer?

Em alguns aspectos trouxe avanços. Tornou o custo Brasil um pouquinho menor. E isso é um objetivo de qualquer governo. Mas para o Brasil ser competitivo, tem que enfrentar o mundo lá fora. Os Estados Unidos reduziram imposto de renda para empresas de 35% para 21%. A Argentina vai reduzir de 35% para 25% até 2020. O Brasil concorre com países que têm postura mais amigável às empresas.

O recurso que existe no mundo para investimento é limitado e ele procura o local mais favorável. Imagina a Argentina com 25% de imposto de renda para pessoa jurídica e aqui 34%. Vai mexer na alocação de recursos.

Uma multinacional vai investir onde? Estamos numa encruzilhada.

Novos movimentos e partidos não têm chance de vencer a eleição e trazer renovação? O Novo, por exemplo?

Não acredito que tenham estrutura para avançar.

Qual o seu cenário pós-eleição, então?

Entre os candidatos que têm chance de ganhar, e com o Congresso que se vislumbra em 2019, não tenho esperança de que vai mudar alguma coisa. Pior ainda: com a estrutura atual basicamente intacta, vamos enfrentar uma crise mundial grave pela frente.

Crise? A expectativa hoje é que quando chegar na boca da urna, a economia pode até estar bombando. O sr. não tem esse cenário?

Por que estará bombando? A economia brasileira não está saudável. A Pnad Contínua está mostrando aumento de emprego sem registro e queda do emprego registrado. O que quer dizer isso? Eu dou risada quando ouço as bobagens que saem do Planalto, de ministros falando que está tudo bem. Não tem credibilidade o que eles falam. Este ano estão falando que pode crescer 3%. Se chegar a 2% é muito. E estamos a beira de uma crise global. Na realidade, ela já está atrasada.

O que leva o sr. a prever uma crise global neste momento?

Eu olho dados e os dados mostram que antes de as recessões atingirem as economias em momentos históricos, houve um crescimento de dívida substancial. Dessa vez a crise vai ser pior do que 2008 e 2009 porque os governos e bancos centrais não têm mais munição. A precificação no mercado está fora da realidade. E, como os bancos e governos não têm mais instrumentos fiscais nem monetários, você não pode baixar juros abaixo de zero por muito tempo. E nós estamos extremamente mal preparados.

Na medida em que sobe o juro americano, você pode ter certeza absoluta de que o juro brasileiro vai subir. O fato de o juro estar tão baixo e a economia não mexer muito no Brasil significa que o relaxamento monetário no Brasil não está tendo muito efeito.

Como é que pode baixar juros de 14,25% para 6,75% e a economia não fazer quase nada? Desemprego subindo? Isso porque o governo injetou um monte de dinheiro de fundo de garantia, um monte de recursos. E qual é o resultado? Pífio. O que levaria alguém a acreditar que vai ter 3% ou 3,5% de crescimento neste ano? É um sonho. Ilusão.

Depois que o sr. vendeu o Moinho Pacífico para a Bunge, disse que iria investir em outros setores.

Por enquanto, eu estou prevendo uma crise. Global. Não tem como eu pensar em investimento neste momento. Em nenhum lugar do mundo, muito menos no Brasil. A incerteza do Brasil é maior ainda do que no mundo, em função da instabilidade política.

RAIO-X

FORMAÇÃO 

Graduado em filosofia pelo Lafayette College (Estados Unidos)

Mestre em filosofia pelo Four-College PhD Program, pela Universidade de Massachusetts

TRAJETÓRIA

Foi presidente do Grupo Pacífico, de processamento de trigo; hoje é investidor

LIVRO

Autor de "Réquiem para um Capitalismo em Agonia"

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