Descrição de chapéu câmbio dólar

Dólar recua e fecha abaixo de R$ 3,70 em dia com intervenção maior do BC

Descolada do exterior, Bolsa cai a menor patamar desde o início de fevereiro

Anaïs Fernandes
São Paulo

Em dia marcado por uma maior intervenção do Banco Central no mercado de câmbio, o dólar se desvalorizou ante o real nesta segunda-feira (21), mas especialistas apontam que o alívio temporário não significa que haverá um movimento contínuo de queda da moeda americana.

O dólar comercial fechou em baixa de 1,36%, cotado a R$ 3,688. O dólar à vista recuou 0,9%, para R$ 3,71. 

Descolada do exterior, a Bolsa brasileira também caiu, pelo terceiro pregão seguido. O Ibovespa, índice que reúne as ações com maior liquidez, perdeu 1,52%, a 81.815,31 pontos —nível mais baixo desde 9 de fevereiro. O giro financeiro foi de cerca de R$ 20,9 bilhões, inflado pelo vencimento de opções sobre ações.

Na sexta-feira (18), o BC anunciou que ofertaria nesta segunda 15 mil contratos adicionais de swap cambial no leilão realizado entre 9h30 e 9h40, totalizando US$ 2 bilhões. A operação equivale à venda de dólares no mercado futuro. 

Até então, o BC fazia leilões diários de 5.000 contratos. 

A autoridade monetária já vinha realizando a chamada rolagem cambial, em que renova operações antigas na tentativa de evitar um aumento ainda maior da demanda por dólar. Nesta segunda, o BC vendeu todos os 4.225 contratos de swap tradicionais que vencem em junho, somando US$ 5,6 bilhões.

"O mercado parece estar respeitando tanto a intervenção do BC quanto a indicação que ele deu de que poderia atuar ao longo do dia se necessário", diz Cleber Alessie, da corretora HCommcor.

Nos últimos seis pregões, a moeda americana registrou valorização de 5,5% sobre o real, com a percepção no exterior de que os Estados Unidos podem elevar os juros mais vezes do que o esperado inicialmente. O movimento geraria uma fuga de dólares hoje aplicados em países considerados mais arriscados, como o Brasil, para o mercado americano.

O dólar avançou ante 16 das 31 principais divisas globais. Mercados emergentes lideraram valorizações de moedas locais: o peso colombiano teve alta de 1,65%, enquanto o rublo russo subiu 1,10%, e o peso argentino, 0,74%.

Apesar da atuação mais firme do BC, a trajetória de alta da moeda americana não deve se alterar no longo prazo. Isso porque pesam também incertezas no cenário nacional a respeito das eleições de outubro.

"O mercado respeitar o anúncio do BC não quer dizer que o dólar vai começar a despencar", afirma  Alessie.

Economistas ouvidos pela pesquisa Focus, do Banco Central, divulgada nesta segunda, elevaram pela quinta vez seguida a previsão para o dólar neste ano. O levantamento do BC mostra agora que eles veem a moeda americana a R$ 3,43 no fim de 2018 e a R$ 3,45 em 2019, ante R$ 3,40 antes para ambos os anos.

Mais cedo nesta segunda, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirmou que o Tesouro também pode atuar em conjunto com o BC para trazer mais equilíbrio ao mercado, se necessário, apesar de reconhecer que o movimento de alta do dólar é global e não poderá ser contido pelo governo.

O banco suíço UBS reduziu sua projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Em relatório divulgado nesta segunda, aponta que a previsão de crescimento para este ano passou de 3,3% para 2,7%.

O CDS (credit default swap, termômetro do risco-país) recuou 2,96%, a 196,738 pontos.

AÇÕES

A Bolsa brasileira segue descolada do cenário externo. 

Os mercados europeu e americano reagiram, em geral, bem ao anúncio de que Estados Unidos e China colocaram em modo espera uma potencial guerra comercial. 

O Dow Jones, principal índice de Nova York, subiu 1,21%, enquanto o S&P 500 teve alta de 0,74%. O índice de tecnologia Nasdaq avançou 0,54%. 

Na Europa, o FTSE 100, de Londres, subiu 1,03%. A Bolsa de Paris ganhou 0,41%. O mercado não abriu na Alemanha devido a um feriado.

Por aqui, das 67 ações que compõem o Ibovespa, 44 caíram nesta segunda, 21 subiram e duas ficaram estáveis.

Segundo Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos, a baixa ocorre porque o movimento de estrangeiros saindo da Bolsa "ainda está bem forte".

"Eles começaram a fazer isso na quinta-feira [17], após o Banco Central anunciar que manteria a Selic [em 6,5% ao ano]. Houve uma recuperação na sexta à tarde, mas, com o vencimento de opções, eles começaram a vender tudo de novo", afirma.

O dia foi marcado pelo vencimento de contratos de opções sobre ações que movimentaram R$ 8,137 bilhões. Desse total, R$ 5,006 bilhões corresponderam a opções de compra, enquanto R$ 3,131 bilhões foram de opções de venda.

Chinchila aponta que, com estrangeiros desmontando posições, o setor bancário tem tido perdas significativas.

Os papéis do Itaú Unibanco recuaram 1,37%. As ações preferenciais do Bradesco caíram 1,43%, e as ordinárias se desvalorizaram 3,23%. O Banco do Brasil teve queda de 2,39%, e as units -conjunto de ações- do Santander Brasil perdem 0,7%.

Pesaram também no índice os papéis da Vale e da Petrobras.

As ações da mineradora recuaram 3,23%, em sessão negativa para os preços do minério de ferro na China.

Apesar do avanço do petróleo no exterior, os papéis da Petrobras caíram 2,34% (preferenciais) e 3,35% (ordinários). 

Investidores temem uma eventual interferência na atual política de preços da Petrobras. A alta dos combustíveis fez com que caminhoneiros organizassem paralisações em pelo menos 17 estados do país nesta segunda e levou o Palácio do Planalto a marcar uma reunião com diversos ministros para discutir o tema nesta tarde.

"O governo já deu a entender que poderia mexer em impostos, mas o mercado fica bastante receoso sobre medidas políticas e econômicas, o que leva alguns investidores a realizarem lucro", diz Chinchila.

Para Fabrício Stagliano, analista-chefe da Walpires Corretora, com a Bolsa brasileira descolada do exterior, são as perspectivas locais, sobretudo no cenário político, que devem ditar os rumos do mercado acionário. 

"O que vai determinar se a Bolsa volta aos patamares de alta são as questões relacionadas à eleição, quem vai assumir a Presidência e se vai continuar com as reformas ou não. Tudo depende disso para a gente voltar a colar no mercado lá fora", afirma. 

As altas do índice foram lideradas por Magazine Luiza (+4,22%) e Gol (3,73%).

Com a Reuters
 

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