Olhar passado de aplicação compromete investidor

Visão de curto prazo e ganhos anteriores são entraves para quem investe, diz estudo

Danielle Brant
São Paulo

Ter grande aversão a perdas, analisar só ganho passado e olhar só o curto prazo são alguns dos comportamentos do investidor brasileiro que podem comprometer a capacidade de formar patrimônio, indica estudo elaborado pela equipe da Itaú Asset Management, gestora de recursos do Itaú Unibanco.

O levantamento, coordenado por Fernanda Lattari, especialista em portfólio da empresa, compilou 36 vieses de comportamento que podem atrapalhar o investidor.

A ideia de reunir essas informações surgiu a partir de conversas com clientes. 

“Percebemos que, por mais que mostrássemos um produto ou serviço interessante para investimento de longo prazo, existiam barreiras para esses investidores aceitarem aquele planejamento”, afirma Lattari.

Esses comportamentos não têm muita diferença conforme a categoria social do investidor, diz. 

“É um padrão de comportamento a ilusão de que você sabe de tudo e, com base nisso, faz movimentações com muita frequência porque pode ganhar sempre. Não, você pode estar destruindo valor.”

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O maior problema encontrado é o “retrovisor” —o desempenho passado das aplicações. Considerar apenas o ganho passado é um dos vieses de comportamento mais perigosos, porque, dessa forma, o investidor minimiza riscos presentes e futuros para aquele ativo.

De acordo com o estudo, esses vieses podem influenciar até o preço de ativos

“Todo o mundo quer comprar um ativo só porque ele teve uma performance muito boa recentemente. Por causa disso, muita gente aplica naquele negócio, mas talvez ele esteja mais caro porque estão todos comprando”, afirma Rodrigo Noel, também especialista em portfólio da Itaú Asset Management.

O próprio gestor de recursos pode acabar contaminado pelos comportamentos dos investidores. “O gestor submetido a um efeito manada pensa: ‘Se eu errar, todo o mundo vai errar, não tem problema’”, diz Lattari.

Mas há formas de evitar esse contágio.

“O gestor mais preocupado olha o balanço de risco do cenário e aspectos técnicos. Será que não é perigoso todos estarem no mesmo lado? Ele pode se posicionar antes da manada, sair antes da manada ou ficar contrário à manada”, diz Lattari.

“O importante é ter consciência de que não basta olhar o retorno passado para tomar a decisão. Tem que olhar mais para a frente do que para trás. Ainda mais se a gente considerar que o juro caiu recentemente e que até então não precisava ter uma renda fixa de prazo mais longo para cumprir seu objetivo. Mas daqui para frente não vai ser mais assim.”

A queda dos juros vai forçar a uma diversificação. Mas a migração para renda variável vai depender principalmente de uma educação financeira. “O investidor ainda é muito traumatizado com a renda variável”, diz Noel.

 

Estudo compila principais erros cometidos por investidores

1 . Investidor analisa a qualidade da decisão pelo resultado obtido por um investimento no passado, sem considerar os riscos presentes e futuros
Por que está errado
Ganho passado não significa ganho futuro. O investidor pode tomar como referência um desempenho fora da curva da aplicação

2. Indivíduo superestima seus conhecimentos e acha que está tomando decisões sensatas, mesmo em meio ao caos e a informações pouco claras
Por que está errado
​O excesso de confiança pode fazer o investidor se desfazer de uma aplicação com ganho menor do que teria se esperasse mais ou mesmo com prejuízo

3. O famoso efeito manada, quando o investidor acompanha o comportamento da maioria com medo de ficar de fora da tendência de mercado
Por que está errado
Nadar conforme a maré pode ser um desastre se o investidor estiver participando de uma pirâmide ou entrando antes do estouro de uma bolha

4. Indivíduo segmenta mentalmente o patrimônio; ao compartimentalizar cada decisão, não enxerga seu portfólio de maneira mais ampla
Por que está errado
Quando segmenta muito o orçamento, pode não perceber que é melhor financeiramente resgatar uma aplicação do que tomar um empréstimo

Fonte: Itaú Asset  Management

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