O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou nesta quinta-feira (7) que intervirá no mercado vendendo US$ 20 bilhões até o final da próxima semana para conter a disparada do dólar e usará todos os recursos disponíveis caso a volatilidade cambial se agrave.
Nesta quinta-feira (7), o dólar comercial registrou alta de 2,25% e fechou cotado a R$ 3,925. O dólar à vista subiu 3,03%, para R$ 3,938.
Ilan garantiu que o BC poderá vender dólares [por contratos de swap] em volumes acima daqueles registrados na gestão de Alexandre Tombini, ex-presidente do BC no governo Dilma Rousseff. Também poderá fazer operações de compra de dólares com recompra prevista (linhas de leilão) e até usar recursos das reservas cambiais.
O presidente do BC destacou que o balanço de pagamentos do país é “muito bom” e a conta corrente está equilibrada. Lembrou ainda que os investimentos estrangeiros alcançaram 3,4% do PIB. Ou seja: para ele, o país tem um colchão mais do que suficiente para enfrentar essa situação.
Ilan também negou que o Copom (Comitê de Política Monetária) poderá realizar uma reunião extraordinária para elevar os juros com o objetivo de conter a desvalorização do real ante o dólar, e afirmou que a política monetária não serve a esse propósito.
“A política monetária é separada da política cambial. Não há relação mecânica entre as duas. A política monetária não será usada para controlar a taxa de câmbio”, disse.
O discurso de Ilan serviu também de resposta aos rumores dentro do próprio governo de que ele poderia deixar a presidência do BC diante de pressão do Palácio do Planalto por medidas de gestão da crise.
“Sigo trabalhando com todo afinco junto com a equipe até o final do ano”, disse Goldfajn.
Neste momento, a equipe econômica trabalha para tentar identificar os fatores que influenciam na desvalorização cambial.
Na manhã desta quinta, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, disse que o real enfrenta uma desvalorização que também afeta os demais países emergentes. Brasil, Chile, Argentina, Colômbia, Turquia, dentre outros perdem investidores com a nova política comercial dos EUA e a tendência de alta de juros pelo Banco Central americano.
Embora o governo insista em defender que a disparada do dólar se deve a uma crise externa, integrantes da equipe do presidente Michel Temer avaliam que a greve dos caminhoneiros aumentou a incerteza que contamina a política e a economia, pressionando ainda mais o câmbio.
Nos bastidores, a avaliação de assessores de Temer é de que as negociações com os caminhoneiros não só enfraqueceu o governo como elevou o risco do país no médio e longo prazo.
Banqueiros e grandes gestores de investimentos consultados pela Folha concordam. Para eles, ficou a imagem de que “o piloto sumiu” e o governo é suscetível a pressões.
O resultado foi que, em duas semanas, investidores estrangeiros sacaram cerca de R$ 12 bilhões em investimentos na Bolsa migrando para lugares mais seguros com boas taxas de retorno.
Segundo um gestor que não quis se identificar, esses recursos fizeram encolher o colchão de liquidez da economia pressionando um pouco mais o câmbio.
Técnicos da Fazenda querem avaliar se esse movimento não é o início de um ataque especulativo. Só depois disso, será possível decidir o tamanho do “remédio” a ser aplicado pelo BC.
A debandada dos estrangeiros não foi o único fator para a escalada do dólar. Nesta quinta-feira (7), muitas empresas brasileiras começaram a sofrer quedas de suas ações. Primeiramente foram alvo companhias como Vale, Suzano, dentre outras que atuam em negócios atrelados ao câmbio e à cotação internacional de commodities.
Mas rapidamente essas vendas migraram para empresas de outros setores da economia. O efeito manada foi liderado por grandes fundos de investimento que, para não perderem mais do que previam, venderam ações de empresas como Localiza, Magazine Luiza, dentre outras. A Bolsa chegou a cair 6% ao longo desta quinta, mas terminou em queda de 2,98%.
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