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Facebook dificulta distinção entre conteúdos amador e profissional, diz pesquisador

Saída da Folha da rede social é destaque em congresso de imprensa

Giuliana Miranda
Lisboa

A saída da Folha do Facebook e o posicionamento das empresas de jornalismo profissional frente às constantes mudanças no algoritmo da rede social foram destaque nesta quinta (7), no segundo dia do Congresso Mundial da Imprensa, realizado em Cascais, Portugal. 

Em uma apresentação para editores e profissionais da imprensa de diferentes países, o pesquisador da Harvard Business School e da Universidade de Oxford Grzegorz Piechota chamou a atenção para a dificuldade de distinguir a origem dos links que são apresentados aos usuários. 

“No Facebook, o conteúdo amador é misturado ao conteúdo profissional em diferentes maneiras. E não há interesse em distinguir claramente entre eles”, avalia. 

Mark Zuckerberg, fundador do Facebook - AFP

“Se você não é um profissional, como você vai notar a diferença entre esses conteúdos? Se o design é o mesmo, se a marca aparece da mesma maneira. Não surpreende que 50% dos adultos que consomem notícias na rede social basicamente não se lembram da fonte desses artigos”, completa Piechota.

O editor-executivo da Folha, Sérgio Dávila, apresentou as motivações e o planejamento estratégico que levaram à decisão da Folha — maior jornal brasileiro no Facebook, com quase 6 milhões de seguidores— de interromper a publicação de conteúdos na plataforma em 8 de fevereiro de 2018. 

O jornalista destacou as mudanças no algoritmo da rede, que passaram a dar cada vez menos destaque ao material produzido pela imprensa profissional. 

“Nós acreditamos que negócios sustentáveis não podem depender de parceiros assim, que mudam do jogo constantemente e obrigam você a se adaptar a esse novo conjunto de regras”, disse. 

Segundo o jornalista, a decisão de sair do Facebook “não foi fácil”, mas foi bastante debatida entre os profissionais de diferentes áreas do jornal. 

“A mudança no algoritmo [anunciada por Mark Zuckerberg em janeiro de 2017] foi só a ponta do iceberg. Nós já havíamos notado mudanças desde muito antes. A página no Facebook, que antes representava 25% do total do nosso tráfego, já não estava nem mais entre as quatro primeiras fontes de tráfego quando paramos de atualizá-la”, explicou. 

Segundo o editor-executivo, o jornal apostou na diversificação das fontes de tráfego e hoje já recuperou os pontos de audiência perdidos com a decisão de sair da rede social. 

“Nossos leitores sabem onde estamos. Quando as coisas ficam feias, as pessoas querem uma fonte confiável, e eles vão a elas”, disse Sérgio Dávila, chamando a atenção para o recorde de visitas da Folha nas recentes crises brasileiras. 

Dávila aproveitou ainda para criticar a postura da gigante tecnológica. 

“Um dos principais problemas é que o Facebook não quer ser chamado de empresa de mídia”, diz. “Eles só querem as partes boas, com a difusão do conteúdo e dos lucros com a publicidade. Não querem lidar com as responsabilidades, com o escrutínio da sociedade. Eles só querem pegar os lucros dos anúncios e serem deixados em paz.”

Chefe da divisão de parcerias de notícias do Facebook na América Latina, Claudia Gurfinkel falou em seguida e reconheceu que muitas das críticas feitas pelas empresas de jornalismo têm fundamento. 

Ela diz que a rede social percebeu, “tarde demais”, o impacto da difusão de notícias sobre seus usuários. 

A representante do Facebook, no entanto, chamou a atenção para os aspectos mais positivos da rede. 

“A habilidade do Facebook em disseminar uma quantidade incrível de informação rapidamente teve aspectos bons e ruins. A parte boa é houve uma nova oportunidade para as vozes que não tinham a liberdade ou não tinham os meios para serem difundidos. No lado ruim, abriu-se a porta para mais participantes, mas nem todos com as mesmas preocupações éticas ou de qualidade”, disse. 

 Claudia Gurfinkel falou ainda sobre as medidas recentes de combate às fake news.

“Estamos criando novos produtos para evitar a difusão de notícias falsas e estamos ajudando nossa comunidade a tomar decisões informadas. Também estamos trabalhando com empresas de checagem de dados independentes para identificar e reduzir o alcance dessas notícias falsas na nossa plataforma”, enumerou. 

 O encontro anual da Associação Mundial de Jornais acontece até esta sexta (8) em Portugal, e a importância e o papel das grandes empresas de tecnologia e sua relação com a imprensa é um dos principais pontos de reflexão do evento.

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