“Olha, coisas que nascem tortas no Brasil são muito difíceis de consertar. Portanto, não faça concessões e pratique o que é certo desde o início.”
Foi essa a orientação que o presidente Ernesto Geisel deu a Roberto Teixeira da Costa, escolhido para criar, do zero, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), reguladora do mercado de capitais, em 1977.
Essas e outras histórias e diálogos com personagens da política e da economia brasileira são contadas por Teixeira da Costa no livro “Valeu a Pena! — Mercado de Capitais: Passado, Presente e Futuro”.
O mercado de capitais do Brasil, como qualquer mercado que se preze, é rico em episódios, compartilhados por protagonistas e coadjuvantes pelos restaurantes e cafés nos centros financeiros do Rio e de São Paulo.
Mas falta quem tenha a disposição —ou coragem— de colocar isso tudo por escrito.
A leitura do exemplar de Teixeira da Costa traz algumas dessas histórias, porém menos do que poderia.
“Valeu a Pena!” faz um apanhado do mercado brasileiro desde que Teixeira da Costa entrou nele, no fim da década de 1950. Depois de dois anos estagiando no Citibank, ele foi para a Deltec, uma empresa de investimentos internacional que chegou ao Brasil.
O autor ficou muito conhecido por sua defesa da utilização do mercado pelas empresas.
Não é exagero dizer que seu livro toca em todos os temas relevantes no setor em 60 anos —até as bitcoins estão lá.
Porém, em uma obra de apenas 220 páginas, a maior parte dos assuntos foi tratada de maneira superficial.
E ficaram faltando mais detalhes sobre os três anos dele no comando da autarquia. Um certo vaivém de datas, no período pré-CVM, também atrapalha um pouco a leitura.
Mas o livro pode ser um bom guia para quem deseja ter uma visão geral do mercado.
Antes de a autarquia surgir, o mercado funcionava sem fiscalização. Ou seja, a assimetria de informações imperava, os prospectos não eram esclarecedores, as emissões de títulos superavam os valores registrados; e as ofertas iniciais de ações (IPOs) privilegiavam aqueles que tinham ligações com os ofertantes.
Ninguém fazia ideia dos riscos que corria.
Isso tudo em meio a um “surto especulativo” que, segundo Teixeira da Costa, tomou o mercado em meados dos anos 1960. “Todos queriam participar do mercado de ações de qualquer maneira, sem nenhuma orientação técnica e sem um mecanismo neutralizador que pudesse coibir excessos.”
Novos produtos de investimento surgiram com a criação das corretoras e distribuidoras de valores e os bancos de investimento. E o país vivia o chamado “milagre brasileiro (1968-1974), quando o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 10% ao ano”.
Depois da euforia, veio o desgaste, com substanciais perdas para os investidores. E até mesmo intervenções do governo tentando interferir na formação de preços de ações. Esse retrato justifica o conselho de Geisel; e a necessidade de pôr ordem na casa.
Teixeira da Costa colocou de pé a CVM com estruturas que permanecem ainda hoje. Um presidente, um colegiado de diretores e um superintendente-geral. E diz que não houve interferência política nos nomes escolhidos por ele.
Mas tudo continuava, nesse início, ainda muito primário.
O autor diz que, enquanto estava à frente da CVM, foi pego de surpresa ao ser indicado para o conselho de administração do Banco do Brasil (!). Ele explicou ao então ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, que não poderia ser conselheiro de nenhuma companhia aberta.
Simonsen desculpou-se, disse que estava sob enorme pressão para o preenchimento do conselho do BB com políticos. E retirou a indicação. O tema indicações políticas e estatais é uma pedra no sapato do mercado até hoje.
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Lista feita com amostra informada pelas livrarias Curitiba, Fnac, da Folha, Saraiva e Argumento; os preços são referências do mercado e podem variar; semana de 8/4 a 14/4; entre parênteses, a posição na semana anterior
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