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Cifras & Letras

Autor holandês defende a utopia do dinheiro para todos

Rutger Bregman diz que renda mínima universal incentiva o empreendedorismo

O historiador holandês Rutger Bergman, autor de "Utopia para Rrealistas" - Danilo Verpa/Folhapress
Filipe Oliveira
São Paulo

Se não mudarmos a relação que temos com o trabalho e o dinheiro, os arqueólogos do futuro ficarão espantados ao estudar nossa civilização, diz o historiador holandês Rutger Bregman, 30.

Quem, nos próximos séculos, tentar entender como nosso mundo funcionava vai se deparar com uma religião estranha que fazia bilhões de pessoas se trancarem em cubículos por horas fingindo fazer algo importante, enquanto escreviam relatórios que ninguém iria ler e enviavam emails para quem não gostavam, diz ele à Folha durante visita ao Brasil para lançar o livro "Utopia para Realistas".

Sua solução para esse e outros males de nosso tempo é largamente discutida em sua obra: dar dinheiro de graça para todos, ou seja, um programa de renda mínima universal.

Entre as razões que aponta para que a ideia vire realidade, além de desobrigar pessoas a trabalharem com o que não querem, está a defesa de que distribuir dinheiro diminui a criminalidade, melhora a saúde da população e permite a todos investir em si mesmos.

Um grande desafio para conseguir isso é o valor moral associado ao trabalho e o medo de que, dando o mínimo para sobreviver, as pessoas se tornariam preguiçosas.

A crença de Bregman vai no sentido oposto, em vez de não nos dedicarmos a nada, partiríamos em busca daquilo que realmente importa para nós.

"Precisamos de liberdade para fazer escolhas. A renda mínima será como 'venture capital' [investimento para startups] para o povo, dará a todos a oportunidade de tomar riscos. Isso vai gerar uma onda de empreendedorismo", diz.

No livro, Bregman cita uma série de exemplos de como moradores de rua, índios e populações em regiões vulneráveis se desenvolveram ao passar a receber dinheiro sem que fosse pedido nada em troca. Para ele, quanto menos burocracia e exigências, melhor.

Bregman diz ver com admiração o Bolsa Família: "O programa poderia ser expandido para os ricos e a classe média, para que se tornasse um direito de todos os cidadãos, não um favor", afirma.

O tema da renda mínima universal vem ganhando força no Vale do Silício, principal polo tecnológico dos Estados Unidos, conforme avançam sistemas de produção baseados em inteligência artificial e automação e aumenta o temor de que eles irão eliminar uma série de postos de trabalho.

Porém Bregman diz que esse não deve ser o principal fator para que se conclua que necessitamos de um salário mínimo para todos. "Você não pode menosprezar a capacidade do capitalismo de gerar novos trabalhos inúteis", diz.

A categoria, que ganha um capítulo no livro, para Bregman inclui trabalhos que, segundo ele, movimentam dinheiro de um lado para o outro, sem gerar nada de útil para a sociedade. A crítica ácida vai para atividades como investimentos no mercado financeiro, áreas jurídicas de corporações e publicidade.

Ele conta que decidiu escrever sobre novas metas para a humanidade por sua percepção de que, como beneficiária de muitas conquistas do passado, sua geração na Europa têm dificuldade para encontrar novos objetivos.

No livro, Bregman não se preocupa muito em explicar questões práticas, do tipo por onde começar, quanto cada um deveria receber e quais seriam os efeitos disso na economia.

"Todas as grandes conquistas da civilização, como o fim da escravidão, o voto universal, os direitos das mulheres, foram utopias em algum momento. Intelectuais e escritores devem ser irrealistas, porque, no fim, são essas pessoas que estarão certas."

Mesmo com o risco de que as ideias mais radicais do autor não passem de sonhos irrealizáveis, vale a pena conhecê-las e ver como são expostas em estilo envolvente. O livro lembra que, apesar do pessimismo atual, muito foi conquistado e vale a pena imaginar novas metas com ousadia.
 

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