Brasileiro gosta tanto de coração de frango que não sobra para exportar

No churrasco, na farofa e até em hambúrguer, iguaria é unanimidade nacional; Sul chega a importar

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Ribeirão Preto (SP)

Toneladas deles são servidas diariamente em churrascarias por todo o país. Nas filas de espera, é o petisco mais pedido. Há quem prefira na pizza, numa farofa e até no hambúrguer.

Não importa a forma como é servido, o coraçãozinho de frango é uma iguaria nacional. O consumo entre os brasileiro é tão intenso que se trata da única parte do frango que não é exportada.

O Brasil produz cerca de 6 bilhões de frangos por ano, segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), dos quais 70% se concentram no Sul —região que chega a importar corações para suprir a demanda local.

Por questões de logística, é mais fácil comprar da Argentina do que de alguns estados do Nordeste ou Norte.

Apenas Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, onde comer coraçãozinho faz parte do hábito cotidiano, consomem ao menos 4,2 bilhões de unidades anuais.

Mas outras regiões também se rendem ao prato.

Nas nove casas da rede de churrascarias Fogo de Chão são consumidos de 3 a 4 toneladas de corações por mês, segundo Cássio Silva, diretor operacional da rede no país.

A carne é uma das “cinco mais” da rede, que tem a picanha como líder na preferência.

“Quando temos fila de espera, o coração é o primeiro aperitivo a ser pedido. Nos Estados Unidos [onde a rede tem  40 unidades], não é assim. Servimos pouquíssimo, mais para brasileiros”, diz Silva.

O coração lá é considerado um subproduto do frango, diz José Antônio Ribas Junior, presidente da Acav (Associação Catarinense de Avicultura) e diretor da Seara.

Já no Sul do Brasil, qualquer lanchonete serve um x-coração —hambúrguer de coração.

Corações de frango servido na churrascaria Fogo de Chão, em São Paulo - Gabriel Cabral/Folhapress

Em Porto Alegre, a churrascaria Freio de Ouro compra 200 quilos por mês —cada quilo tem de 80 a 100 unidades. “Se faltar, o cliente reclama”, disse o gerente Marco Antônio Rodrigues Junior.

Um pacote de um quilo de coração chega a custar R$ 18 ao consumidor final, praticamente o dobro do preço de comercialização em polos avicultores.

“As crianças gostam muito e compramos para churrascos semanais”, diz o professor universitário Adalberto Gomes, de Franca (SP).

Os corações que eventualmente não consumidos são destinados à produção de rações animais.

Além do alto consumo interno, há outro motivo para o país não exportar o miúdo: a ausência de um mercado comprador.

“Não exportamos porque consumimos muito, mas também por não ter quem peça. Poderíamos desenvolver um mercado na Ásia, talvez a Tailândia poderia comprar, mas hoje não é um produto que esteja na nossa pauta de exportações. Se tiver [alguma exportação], é algo residual, irrelevante”, disse  Ricardo Santin, vice-presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

A opinião é compartilhada por Ribas Junior, para quem os hábitos locais são os definidores das vendas. “Pé de frango é muito valorizado lá fora, em sopas ou crocantes, enquanto aqui não é assim. Da mesma forma ocorre com o coração.”

Outros miúdos têm mercados fáceis no exterior. Pés, patas e asas de frango são muito vendidos à China, enquanto fígado e moela são enviados ao Oriente Médio e à Europa.

O Japão compra cartilagem de joelho do frango para consumo humano.

“Da ave, tudo se aproveita, menos o grito. Essa variedade é um dos segredos do Brasil, que consegue fazer a divisão do frango para várias partes do mundo. Isso dá sustentabilidade ao negócio e complementa o mix de produtos”, disse Santin.

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