Descrição de chapéu MPME

Conheça agora algumas tendências que vão influenciar o consumo

Pesquisa do Observatório de Sinais aponta a volta da estética futurista e a sofisticação dos produtos sustentáveis

Renan Marra
São Paulo

A descoberta recente de um lago com água líquida em Marte, o anúncio do governo Donald Trump de um plano para criar uma força espacial e o lançamento de sondas cada vez mais sofisticadas extrapolam a ciência e influenciam tendências de comportamento e de consumo.

Relatório do escritório de pesquisa de tendências Observatório de Sinais aposta em um novo momento “space”, em que o imaginário futurista se integra ao dia a dia, marcando presença na cultura, na moda e nas vitrines.

De acordo com o observatório, projetos que parecem ter saído do desenho “Os Jetsons”, como o plano de criar carros voadores já anunciado por marcas como Toyota, Google, Uber e Embraer, vão inspirar as estratégias de empresas de diferentes segmentos nos próximos anos.

“As marcas devem mapear o presente para trabalhar com o futuro”, diz Dario Caldas, sociólogo e diretor do Observatório de Sinais. “Todos esses vetores trazem o imaginário futurista para o primeiro plano e povoam, de certo modo, a cultura e o consumo.”

Essa tendência futurista é cíclica e já esteve outras vezes em alta, como na década de 1960, com a corrida espacial protagonizada pelos Estados Unidos e pela União Soviética, e na década de 1990, com a influência da música eletrônica. É, portanto, uma tendência vintage, diz Caldas.

O movimento se manifesta em diferentes setores da sociedade, afirma ele. Na cultura pop, por exemplo, está no clipe de “Jogando Sujo”, da cantora Ludmilla, que usa acessórios com cores metálicas em um cenário que lembra as paisagens sombrias do filme distópico “Blade Runner”.

Já na moda, vem ganhando força com lançamentos que envolvem materiais sintéticos, como o plástico, formas aerodinâmicas e cores branca e metálicas. Coleção da marca Rosa Chá, por exemplo, tem  releituras de macacões, saias e calças com efeitos holográficos e cor metalizada.

Caldas aponta como criadores dessa estética os estilistas clássicos Pierre Cardin, 96, André Courrèges (1923-2016) e Paco Rabanne, 84. 

“Agora, tudo isso se atualiza, mesclando-se, de um lado, com o streetwear —como os tênis enormes, o velcro e o neoprene— e, de outro, com tecnologia de materiais mais confortáveis, jogando a favor do consumidor.”

Em julho, o estilista britânico John Galliano apresentou em Paris uma coleção inspirada nas “novas tribos de neonativos digitais”. Modelos desfilaram com superposição de peças, roupas com velcro e celulares atados na cintura e nos tornozelos.

Se, por um lado, a tecnologia permite ao homem conhecer um pouco mais da vastidão do universo, o estudo do Observatório de Sinais mostra que, no espaço doméstico, a miniaturização avança de forma rápida. Hoje, é possível encontrar nas grandes cidades apartamentos de até dez metros quadrados.

A tendência, chamada pelo estudo de “micronano”, apresenta um desafio aos designers na criação de móveis adequados para esses espaços minúsculos.

Cozinhas e banheiros são as áreas mais sensíveis, e cabe aos arquitetos criar projetos compactos, funcionais e atraentes, diz Caldas. Com isso, caixas e nichos organizadores estão em alta.

O estudo reitera ainda a exigência por produtos ecologicamente corretos em que a sustentabilidade seja cada vez menos visível, com a tendência “verde que te quero cool”.

“Antes você via o produto sustentável na prateleira e ele tinha uma carinha de papel reciclável. Agora está mais difícil de identificar, a sustentabilidade está na matéria-prima, nos modos de trabalho e na forma que o produto é fabricado”, afirma Caldas.

Segundo o observatório, até pouco tempo a sustentabilidade era expressa com linguagem estética bem definida e limitada, e os produtos eram feitos de materiais rústicos, sem preocupação com acabamentos e detalhes. Hoje, diz o estudo, os produtos sustentáveis são sedutores.

A sustentabilidade não está mais naquilo que se vê, mas mais incorporada em todos os processos de produção de uma mercadoria. Recentemente, o designer Adolfo Correa apresentou uma coleção de peças feitas com plástico retirado dos oceanos, cujo material não é facilmente identificado a olho nu.

Se há preocupação com o ambiente, há também com o bem-estar individual. Na tendência “wellnessmania”, a indústria do sono é relevante, e acessórios como pijamas, máscaras e protetores de ouvido ganham espaço.

Já o estilo “grotesco” é mais popular entre os consumidores jovens ou questionadores, que procuram fugir dos padrões sociais legitimados. Essa tendência se expressa em objetos com aparência extravagante, que flerta com o ridículo, diz a pesquisa.

Ainda segundo o estudo, para uma marca ter sucesso ela tem de considerar quatro pontos: aproximação com as artes, produção de conteúdos culturais, oferta de experiências ao consumidor e interação com a rede social.

“Antigamente, na moda, a preocupação era fazer uma coleção legal para vender. Agora essa coleção tem de ser legal para vender e também instagramável”, diz Caldas. 

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