Descrição de chapéu The New York Times

Americanos brancos são principais beneficiários do corte de impostos de Trump

Constatação surge com base em uma nova análise sobre o corte de impostos de US$ 1,5 trilhão

Nova York | The New York Times

Os cortes de impostos que o presidente Donald Trump colocou em vigor no ano passado ajudam os americanos brancos desproporcionalmente, ante os negros e os latinos, uma disparidade que reflete a duradoura desigualdade racial na economia dos Estados Unidos, e as escolhas feitas pelo Partido Republicano ao preparar a lei.

A constatação surge com base em uma nova análise sobre o corte de impostos de US$ 1,5 trilhão (R$ 5,6 trilhões), com o uso de um modelo desenvolvido pelo Instituto de Tributação e Política Econômica, uma organização de pesquisa de inclinações progressistas, e divulgada em um relatório conjunto com a Prosperity Now, organização sem fins lucrativos cujo foco é ajudar os americanos de baixa renda a conquistar riqueza e estabilidade financeira. É a primeira análise detalhada da lei a avaliar seu efeito sobre as diferentes raças.

Os americanos brancos ficam com 77% da renda total dos Estados Unidos, mas recebem 80% dos benefícios dos cortes de impostos, para pessoas físicas e jurídicas, gerados pela nova lei, constatou a análise. Os negros recebem 5% dos benefícios, ainda que respondam por 6% da renda nacional. Os latinos, com 8% da renda do país, recebem apenas 7% dos benefícios.

No total, os brancos receberão US$ 218 bilhões (R$ 816 bilhões)em cortes de impostos neste ano. Negros e latinos, somados, receberão US$ 32 bilhões (R$ 120 milhões).

A análise começa pela simulação dos efeitos da lei sobre os americanos por faixa de renda, com base em dados tributários históricos. Quanto a isso, as conclusões do estudo acompanham de perto análises de distribuição conduzidas pelo Centro de Política Tributária e pelo comitê conjunto de tributação, o órgão do Congresso que calcula os efeitos dos cortes. As duas organizações constaram que a vasta maioria dos benefícios da lei fluiria para os 20% de americanos nas faixas mais elevadas de renda.

O modelo do instituto de política econômica estende essas análises ao combinar dados tributários com dados raciais e étnicos da Pesquisa de Finanças do Consumidor, conduzida pelo Fed (Federal Reserve), o banco central dos Estados Unidos. Foram precisos meses para acumular os dados.

A divisão racial que a análise aponta é em boa medida produto das vantagens financeiras que as pessoas brancas detêm há muito tempo. Elas ganham mais que os negros e latinos, em média, e a probabilidade de que estejam entre as pessoas de mais alta renda do país é muito mais alta. Isso significa que estão em melhor posição para se beneficiarem de uma lei que produziu benefícios maiores para as pessoas de renda mais alta, tanto em termos numéricos quanto percentuais, do que para os americanos de renda média e baixa.

"A renda média dos contribuintes brancos é significativamente maior que a dos contribuintes negros e latinos", disse Meg Wiehe, diretora assistente do instituto de política econômica. "Isso é um propulsor importante".

Como resultado, o corte de imposto médio para um domicílio americano branco é mais de duas vezes superior ao corte para um domicílio negro ou latino. O estudo constatou que o grupo que recebe o corte médio mais alto é o dos americanos de ascendência asiática, que desfrutam da renda mais alta entre todos os grupos étnicos.

Parece, porém, que mesmo entre as pessoas de renda mais alta, a lei beneficiou mais os brancos do que outros americanos –provavelmente porque os cortes de impostos afetam os contribuintes individuais de maneira diferente, a depender de como eles ganham seu dinheiro.

Os contribuintes brancos de alta renda, por exemplo, têm probabilidade maior de serem donos de empresas individuais, e de pagarem impostos sobre os lucros dessas empresas usando o código tributário para pessoas físicas. A nova lei incluiu uma dedução especial de 20% para essa categoria de renda, sujeita a algumas limitações. A isenção para isso não se aplica a pessoas de alta renda que recebem a maior parte de seu dinheiro em forma de salários, por exemplo atletas profissionais.

A redução média de impostos, como proporção da renda anterior aos impostos, para um branco ou asiático no 1% mais alto da distribuição de renda, foi de quase 3%, ante 1,7% para os latinos e 1,2% para os negros.

"Mesmo que você seja parte de um domicílio negro ou latino bem sucedido, do 1% mais elevado de renda, e que tenha feito sucesso, tenha se saído maravilhosamente bem", disse David Newville, diretor de políticas públicas federais na Prosperity Now. "Ainda assim não receberá os mesmos retornos que um domicílio branco, com essa lei".

Os autores do relatório apontam que o Congresso estruturou os cortes diferentemente, de maneiras que visam aos contribuintes de renda média e baixa de modo mais direto. Também enfatizam que, ao direcionar mais dinheiro para os brancos, a lei pode exacerbar a disparidade já severa de patrimônio que existe entre as raças nos Estados Unidos.

Em setembro, o Serviço de Recenseamento americano reportou que a renda mediana para os domicílios brancos/não hispânicos em 2017 foi de US$ 68.145 (R$ 213 mil); para os domicílios negros, foi de US$ 40.258 (R$ 149 mil); para os hispânicos de qualquer raça, foi de US$ 50.486 (R$ 188 mil).

Domicílios brancos/não hispânicos representam dois terços dos domicílios dos Estados Unidos, de acordo com os números do recenseamento. Já os grupos dos domicílios negros e dos domicílios hispânicos respondem cada qual por 13% dos domicílios totais do país.
 
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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