Dólar fecha abaixo de R$ 3,90 em segundo dia de euforia com pesquisas que dão vantagem a Bolsonaro

Ibovespa chegou a subir mais de 4% e superar o patamar de 85 mil pontos durante a manhã

Tássia Kastner
São Paulo

O segundo dia de euforia do mercado financeiro com o desempenho de Jair Bolsonaro (PSL) nas pesquisas eleitorais levou o dólar a fechar abaixo dos R$ 3,90 pela primeira vez desde 14 de agosto. A Bolsa brasileira engatou o segundo pregão de alta e voltou aos patamares registrados em maio. Nesta quarta-feira, será divulgada nova pesquisa Ibope de intenção de votos.

A moeda americana terminou o dia em queda de 1,16%, a R$ 3,8890 e ficou entre as divisas emergentes que mais ganhou força ante o dólar, atrás apenas do peso argentino. Durante a manhã, a moeda chegou a cair mais de 10 centavos, negociada a R$ 3,8240 na mínima.

Já a Bolsa brasileira disparou mais de 4% na manhã, para acima dos 85 mil pontos. O Ibovespa, o principal índice acionário do país, ganhou 2,03% e terminou o dia a 83.273 pontos. O volume financeiro no pregão somava R$ 21,39 bilhões. Em duas sessões, o ganho acumulado foi de 5,9%, puxado pelas ações de empresas estatais. 

O Banco do Brasil se valorizou 21,5% em dois dias na Bolsa e ajudou a puxar o desempenho do setor bancário e a Bolsa. 

As ações preferenciais da Petrobras, que têm peso ainda maior na composição do Ibovespa, acumularam alta de 13% nos dois pregões. Com a valorização, a Petrobras voltou a ser a empresa com maior valor de mercado na Bolsa, a R$ 330 bilhões.

Em relatório, a corretora XP citou cinco ações que poderiam se beneficiar do cenário otimista para o mercado trazido por Bolsonaro. Entre elas, estão Petrobras e Banco do Brasil, com potencial de alta estimado em 30%;

Ainda entre as estatais, a Eletrobras também acumulou ganhos expressivos nos últimos dois dias. Os papéis ordinários subiram 18,7%, enquanto os preferenciais ganharam 19,5%.

O CDS (Credit Default Swap), espécie de seguro contra calote da dívida do país, chegou a recuar mais de 7% nesta quarta. Fechou com queda de 4%.

A poucos dias para o primeiro turno das eleições, que ocorre neste domingo, investidores viram crescer as chances de Bolsonaro derrotar Fernando Haddad (PT) na disputa à presidência. O capitão reformado é visto como mais disposto a propor reformas que o mercado considera necessárias para o reequilíbrio das contas públicas. 

A preferência por Bolsonaro se mantém mesmo com críticas de importantes órgãos de imprensa internacionais e agências de classificação de risco, que projetam riscos para a economia com a eleição do candidato do PSL.

Analistas destacam também que Bolsonaro começa a aglutinar a seu redor partidos que até então estavam ao lado de Geraldo Alckmin (PSDB), que não decolou na preferência dos eleitores mesmo tendo o maior tempo de TV entre os candidatos à Presidência.

Pesquisa Datafolha divulgada na noite de terça-feira (2) mostrou que Bolsonaro tem 32% das intenções de voto, alta de 4 pontos percentuais na comparação com o levantamento divulgado na sexta-feira passada (28). A disparada ocorreu após semanas de estagnação e em um momento em que o capitão reformado vinha sofrendo com reportagens negativas na imprensa e protestos nas ruas.

Fernando Haddad (PT), por outro lado, estagnou nas intenções de voto e viu sua rejeição disparar, também de acordo com o Datafolha. O levantamento mostrou ainda que os dois candidatos líderes nas pesquisas voltaram a empatar no segundo turno, com vantagem a Bolsonaro (dentro da margem de erro).

"O mercado faz uma conta para cada candidato e, como aumentaram as chances de vitória de Bolsonaro, passou a ajustar o preço dos ativos a esse cenário", disse o economista-sênior do banco Haitong, Flávio Serrano.

Desde terça-feira (2), investidores começam a projetar a possibilidade de que Bolsonaro vença a disputa ainda no primeiro turno, o que também ajuda a impulsionar o mercado. No Datafolha, ele tem 38% dos votos válidos (descontados brancos e nulos). Para vencer no primeiro turno, é preciso 50% dos votos válidos mais um.

Na visão do gestor Frederico Mesnik, sócio-fundador da Trígono Capital, o viés para a Bolsa será positivo se as pesquisas mantiverem a vantagem para Bolsonaro. 

"No entanto, as operações na bolsa no momento são de 'tiro curto', com muitos investidores comprando de manhã para vender à tarde. O enfraquecimento do índice mais à tarde refletiu isso: muitos preferiram zerar posições e colocar dinheiro no bolso para esperar por nova pesquisa", disse.

Com Reuters

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