Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Caixa tem propostas prontas de corte de custos para apresentar ao novo governo

Futuro do comando da instituição ainda não foi definido por equipe de Jair Bolsonaro

Anaïs Fernandes
São Paulo

A Caixa Econômica Federal resolveu seu problema de capital e tem propostas prontas de redução de custos para apresentar ao novo governo, afirmou Nelson Antônio de Souza, presidente do banco estatal, nesta quarta-feira (14) ao divulgar o balanço do terceiro trimestre.

"A redução dos custos dialoga com o novo governo, e a Caixa tem sim muitas propostas prontas para apresentar. Vamos apresentar tudo isso", disse Souza.

O banco registrou um lucro líquido recorrente (livre de efeitos extraordinários) em nove meses recorde de R$ 11,5 bilhões. A meta orçamentária era fechar 2018 com lucro de R$ 9 bilhões, perto dos R$ 8,6 bilhões registrados em 2017.

Nos últimos dois anos, a Caixa passou por graves problemas de escassez de recursos que ameaçaram o enquadramento do banco dentro de regras internacionais de instituições financeiras mais sólidas para assumir riscos.

Chegaram a ser cogitadas ajudas financeiras externas, como repasse do Tesouro Nacional ou do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), mas a cúpula do banco manteve a posição de assumir um plano de contingência com forte corte de despesas e reestruturação da carteira de crédito.

Em nove meses, as despesas com pessoal caíram 7%, ante o mesmo período de 2017, enquanto as receitas subiram 8,7%. O saldo da carteira de crédito para habitação avançou 2,7% no terceiro trimestre, em relação ao ano passado, mas a carteira comercial, mais arriscada, retraiu 17%. 

A Caixa tem até o próximo ano para se adequar às regras de capital mais rígidas previstas em Basileia 3, um sistema de determinações financeiras internacionais criado para garantir solidez a bancos.

O índice de Basileia da Caixa, que mede quanto um banco é capaz de emprestar sem comprometer seu capital, atingiu 19,8% no terceiro trimestre, um crescimento de 4,6 pontos percentuais em 12 meses. O mínimo exigido para 2019 era de 11,5%. 

O que preocupava mais, no entanto, era outro indicador, o capital de nível 1, que até setembro do ano passado estava em 9,5%, no limite do mínimo exigido, mas agora foi para 13,3%.

Souza disse já ter comunicado oficialmente o Banco Central e o Ministério da Fazenda de que o banco não precisará de aportes, operações subordinadas ou devolução dos dividendos.

"Havia dúvidas se conseguiríamos chegar a 2019 com o nível mínimo. Mas conseguimos de maneira orgânica, sem recorrer à captação de outras fontes. O Tesouro Nacional tem outras prioridades para seus recursos que não a capitalização de bancos públicos. Eles têm que viver com suas próprias pernas", diz Arno Meyer, vice-presidente de finanças e controladoria da Caixa.

Segundo ele, a carteira de crédito caiu como parte da estratégia para fazer frente à restrição de capital, mas, como ela não existiria mais, a expectativa é que o crédito da Caixa volte a crescer, com sinais já no quarto trimestre deste ano. A retomada deve ser impulsionada pelo segmento de pequenas e médias empresas.

Meyer reconhece que a taxa de crescimento apresentada pelo banco não é sustentável por muito tempo, mas diz que o patamar de lucro em dois dígitos veio para ficar.

"Não vai crescer isso o tempo todo, a taxa vai se ajustar, vai cair ao longo do tempo nos próximos anos. Mas o valor deve se estabilizar em um patamar bem mais elevado, justamente pelo corte que fizemos na carteira comercial, que é a mais rentável. Agora temos liberdade para expandir justamente aí", afirma.

Souza também reconhece que reduções de custos na intensidade do que tem sido feito não se sustentam por muito tempo, "porque chega uma hora que começa a comprometer o próprio serviço prestado", afirma.

"Mas ainda temos gordura, vamos diminuir sim despesas, tem espaço para isso e para melhorar processo. A Caixa é um banco muito grande, temos como trabalhar isso, ainda não esgotou", disse.

Questionado se havia sido convidado pela equipe econômica do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) para continuar no cargo, Souza se limitou a dizer que é um técnico.

"Eu sou um técnico. Logicamente, continuo fazendo o trabalho. Já peguei várias mudanças de governo, realmente não estamos com o radar nesse item. Queremos fechar 2018 dentro da linha que estamos trabalhando", afirmou.

Ana Paula Vescovi, atual secretária-executiva do Ministério da Fazenda e presidente do conselho de administração da Caixa, tem sido cotada para assumir o banco, mas a manutenção de Souza também não é descartada.

Sobre uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo afirmando que a equipe de Bolsonaro planeja um pente-fino no que teria classificado como "aparelhamento" dos bancos federais em gestões do MDB e do PT, com funcionários supostamente apadrinhados politicamente, Souza disse que, se esse tipo de situação existe dentro da Caixa, ele desconhece.

"Se tem, objetivamente, eu desconheço. Pode até ter, mas desconheço. Nós trabalhamos de um ponto de vista de quem tem de ter competência e entregar, tem de ter resultados. A pergunta é importante, mas como CEO [presidente] do conglomerado Caixa, eu entendo que despertamos para isso antes na linha de governança corporativa e gestão de risco", afirmou.

Em relação a afirmações de Bolsonaro da véspera, sobre um corte mínimo de 30% dos cargos comissionados, Souza também ressaltou que a Caixa já vem trabalhando nessa linha.

"A Caixa já pensa assim. Já tomamos essa providência com o processo seletivo inédito para contratação de vice-presidentes. Temos também em andamento o estudo de uma consultoria sobre reestruturação. No programa de demissão voluntária, em que foram desligados 8.600 empregados da Caixa, se eles tinham cargos, foram extintos juntos", disse.

Desde o fim do ano passado, a Caixa se viu envolvida em uma série de investigações sobre supostas irregularidades cometidas no banco, como corrupção e favorecimento de grupos políticos e empresas, que culminaram com a destituição de vice-presidentes da instituição e troca de comando.

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