Em carta a Bolsonaro, economistas defendem questão ambiental

Texto pede controle do desmatamento e de reconhecimento de áreas quilombolas e indígenas

Taís Hirata
São Paulo

Um grupo de 104 economistas preparou uma carta, endereçada ao próximo governo federal, de Jair Bolsonaro (PSL), com propostas de reformas econômicas, políticas sociais e de defesa do ambiente.

As sugestões incluem, como esperado, medidas consideradas importantes pelo mercado: simplificação tributária, reformulação do sistema previdenciário, medidas de controle fiscal e autonomia do Banco Central.

Mas há também propostas para questões sociais, de combate ao desmatamento, de educação e de segurança pública, entre outras áreas.

Nelas, os economistas defendem, por exemplo, políticas de combate à pobreza, de controle do desmatamento e de reconhecimento de territórios quilombolas e indígenas —com sugestões para aprimorar os programas existentes.

Entre os economistas que assinam a “Carta Brasil” estão Bernard Appy (que ficou conhecido por sua proposta de reforma tributária), Cláudio Frischtak (sócio da consultoria Inter.B), Alexandre Schwartsman (consultor, ex-diretor do Banco Central e colunista da Folha) e Márcio Holland (ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no governo Dilma Rousseff e pesquisador da FGV).

Também integram a lista Octavio de Barros (ex-economista chefe do Bradesco), Naercio Menezes (Insper), Elena Landau (ex-diretora do BNDES) e Ana Carla Abrão (consultoria Oliver Wyman e ex-secretária da Fazenda de Goiás).

“É um grupo amplo, há economistas que participaram de campanhas de diferentes candidatos. Conseguimos encontrar um denominador comum, com propostas baseadas em evidências empíricas e estudos”, afirma a economista do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) Silvia Matos, uma das integrantes do grupo.

Ela conta que a ideia do documento surgiu antes das eleições, em um grupo de WhatsApp com cerca de 200 economistas.

A publicação ficou para depois do segundo turno para evitar a impressão de apoio a algum candidato, diz.

Nem todos os membros que contribuíram para a discussão assinaram a carta.

É o caso, por exemplo, de economistas que hoje integram a equipe econômica de Bolsonaro, como Paulo Coutinho, da UnB, e Luciano de Castro, da Universidade de Iowa (EUA).

Os principais pontos de divergência em relação às propostas que têm sido apresentadas por Bolsonaro são aquelas nos campos social e ambiental.

“A questão da sustentabilidade tem sido pouco discutida. Ajuste fiscal é urgente, mas também vemos a importância de políticas sociais e de sustentabilidade, que talvez um economista mais liberal possa não ver”, afirma Matos.

“Há convergências [com o programa de Bolsonaro], mas pautamos outros pontos. A função do Estado é também a redução da desigualdade”, diz.

Entre as propostas do grupo estão a unificação de programas de transferência social, como o Bolsa Família e o BPC (Benefício de Prestação Continuada), a priorização dos recursos a famílias com crianças e jovens (que poderiam receber benefício adicional condicionado a metas de educação) e a avaliação mais frequente dos programas sociais.

Já a parte macro e microeconômica do programa elaborado pelos economistas apresenta mais pontos em comum com as propostas que têm sido debatidas por Paulo Guedes, futuro ministro da Economia de Bolsonaro.

Uma delas é a desvinculação completa do Orçamento público, que hoje prevê despesas mínimas com saúde e educação.

A carta também defende a eliminação parcial da estabilidade de funcionários do serviço público, a privatização de estatais deficitárias e a unificação da gestão econômica do governo no Ministério da Fazenda.

O documento não detalha uma reforma da Previdência, mas defende uma reforma do atual sistema de repartição, acompanhada de um plano de transição ao regime de capitalização no futuro.

Na parte de reforma tributária, apresenta-se a proposta de Bernard Appy, com a criação de um IVA (imposto sobre o valor agregado), que prevê a substituição de cinco tributos que hoje incidem sobre o consumo de bens e serviços por um imposto unificado.

A carta também propõe integrar a tributação da renda de pessoas físicas e jurídicas. 

Os economistas ainda propõem a redução dos subsídios fiscais dados a companhias e tributar lucros e dividendos, mas, ao mesmo tempo, reduzir a tributação das empresas para não desestimular seus investimentos.

A carta, que tem 88 páginas com o detalhamento das propostas, será apresentada e discutida nesta segunda-feira (12), em um evento no Rio de Janeiro.

As propostas da carta a Jair Bolsonaro

Macroeconomia 
- Autonomia do Banco Central
- Responsabilidade fiscal
- Abertura comercial
- Reforma da Previdência

Infraestrutura 
- Ampliar participação de setor privado
- Autonomia decisória e financeira a agências reguladoras
- Privatização de estatais

Políticas sociais
- Redução da pobreza
- Rearranjar Bolsa Família e estimular transição de beneficiados para mercado de trabalho formal

Sustentabilidade 
- Combate ao desmatamento
- Comprometimento com reconhecimento de territórios quilombolas e preservação das terras indígenas
- Consolidar matriz elétrica sustentável

Quem assina a carta:

  1. Alexandre Rands
  2. Alexandre Schwartsman
  3. Alexsandre Lira Cavalcante
  4. Almir Bittencourt
  5. Ana Carla Abrão
  6. Ana Cristina Lima Maia
  7. Ana Luiza de Holanda Barbosa
  8. André Magalhães
  9. Andre Portela
  10. Aod Cunha
  11. Bernard Appy
  12. Bruno Funchal
  13. Bruno Ottoni
  14. Carlos Brunet Martins Filho
  15. Carlos Eugenio Lustosa
  16. Carlos Góes
  17. Carlos Manso
  18. Cezar Santos
  19. Christiano Penna
  20. Cláudio Considera
  21. Cláudio Frischtak
  22. Cleveland Prates
  23. Cristiane Alkmin J. Schmidt
  24. Cristina Terra;
  25. Daniel Suliano
  26. Débora Gaspar Feitosa
  27. Dércio Chaves
  28. Edgard Pereira
  29. Eduardo Zylberstajn
  30. Elena Landau
  31. Emerson Marinho
  32. Ernesto Lozardo
  33. Eveline B. S. Carvalho
  34. Felipe França
  35. Fernando Filho
  36. Fernando Genta
  37. Fernando Veloso
  38. Flávio Ataliba Barreto
  39. Francis Petterini
  40. Francisco Soares de Lima
  41. Frederico Alencar
  42. Genaro Dueire Lins
  43. Guaracyane Lima Campelo
  44. Guilherme Irffi
  45. Guilherme Valle Moura
  46. Gustavo Loyola
  47. Henrique Félix
  48. Hugo Figueirêdo
  49. Jaime de Jesus
  50. Jimmy L. de Oliveira
  51. João Mário de França
  52. Joisa Dutra
  53. José Guilherme de Lara Resende
  54. José Márcio Camargo
  55. José Oswaldo Jr
  56. Leandro Piquet Carneiro;
  57. Leonardo Oliveira
  58. Lucia Helena Salgado
  59. Luiz Renato Lima
  60. Maia Júnior
  61. Manuel Thedim
  62. Marcelle Chauvet
  63. Marcelo Eduardo A. Silva
  64. Marcelo Fernandes
  65. Marcelo Pessoa
  66. Marcelo Savino Portugal
  67. Márcio Corrêa
  68. Márcio Garcia
  69. Márcio Holand
  70. Marco Bonomo
  71. Monica Viegas
  72. Naercio Menezes
  73. Nicolino Trompieri Neto
  74. Octavio de Barros
  75. Osmar Lanes Jr
  76. Otaviano Canuto
  77. Paulo Correa
  78. Paulo Hermanny
  79. Paulo Pontes
  80. Pedro Cavalcanti Ferreira
  81. Pedro Fernando Nery
  82. Rafael Barbosa
  83. Raquel Sales
  84. Régis Façanha Dantas
  85. Renato Fragelli
  86. Rene Garcia
  87. Ricardo Pereira
  88. Roberto Ellery
  89. Rodrigo de Moura Teixeira
  90. Rodrigo Peñaloza
  91. Ruy Ribeiro
  92. Sabino S. Porto Júnior
  93. Samuel Pessôa
  94. Sandra Rios
  95. Sergio Aquino
  96. Sérgio Guimarães Ferreira
  97. Silvia Matos
  98. Tarcisio Godoy
  99. Tiago Cavalcanti
  100. Vinicius Carrasco
  101. Vitor Hugo Miro
  102. Vitor Pereira
  103. Walter Novaes
  104. Witalo Paiva
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