Fusão Oi-Portugal Telecom vira alvo da CVM

Autarquia acusa oito sócios e 28 executivos de irregularidades no processo de união das teles

Nicola Pamplona
Rio de Janeiro

A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) acusa oito sócios e 28 executivos e conselheiros, atuais ou antigos, da operadora de telefonia Oi por supostas irregularidades nos processos de fusão com a Portugal Telecom, em 2013, e de aumento de capital da companhia, em 2014.

As acusações são fruto de duas investigações abertas pela autarquia em 2016. Apoiada pelos governos petistas, a fusão teve como justificativa criar uma supertele transnacional, com negócios no Brasil, em Portugal e na África.

A operação, porém, é vista por minoritários como um empurrão para o pedido de recuperação judicial da Oi, em 2016, para tentar equacionar uma dívida de R$ 65 bilhões, em valores da época.

Entre os acusados pela CVM, estão, além da Oi, o BNDESPar (o braço de participações do BNDES), os fundos de pensão dos empregados do Banco do Brasil, da Petrobras e da Caixa, a Andrade Gutierrez e a Pharol, novo nome da Portugal Telecom.

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Loja da Oi na avenida Paulista, em 2016 - Silvia Zamboni - 3.ago.16/Folhapress

Executivos e conselheiros que estiveram na empresa durante os processos também fazem parte da lista.

Entre eles, está o presidente atual da companhia, Eurico Teles, que liderou a negociação com credores para aprovar o plano de recuperação.

Procurados, Oi, BNDESPar, Andrade Gutierrez e os fundos de pensão dos empregados do Banco do Brasil (Previ), Petrobras (Petros) e Funcef (Caixa) disseram que ainda não foram notificados e não vão comentar o assunto.

A CVM não divulgou detalhes dos inquéritos contra a Oi e seus sócios. Em um deles, acusa sócios e conselheiros de violação de deveres fiduciários —isto é, tomar decisões que não representam os melhores interesses dos acionistas— no processo de fusão.

No outro, acusa 20 executivos e conselheiros de irregularidades no processo de aumento de capital realizado em 2014, "inclusive no que concerne à avaliação de ativos".

A fusão da Oi com a Portugal Telecom envolveu a transferência de ativos das duas empresas para uma nova companhia. Minoritários acusam os portugueses de aportar ativos superavaliados, como concessões na África, e passivos com vencimento no curto prazo.

Além disso, parte dos ativos era de títulos de empresas do próprio grupo controlador da Portugal Telecom, o grupo Espírito Santo, que acabou pedindo falência logo depois, reduzindo o valor do aporte da empresa portuguesa na operação. 

A Portugal Telecom acabou sendo vendida à francesa Altice, e seus antigos controladores permaneceram na Oi por meio do veículo de investimentos Pharol, também alvo da acusação da CVM. A empresa foi palco de batalhas societárias após o fracasso da fusão.

Os inquéritos foram iniciados após representação de minoritários. Eles também pediram investigação sobre o caso ao Ministério Público Federal e à Polícia federal.

"Em última análise, foi a fusão que levou a Oi à recuperação judicial", afirma Aurélio Valporto, da Associação dos Investidores Minoritários, entidade autora dos pedidos de investigação.

Neste momento, a CVM aguarda a defesa dos acusados no processo.

Em meio ao processo de recuperação judicial, a Oi teve prejuízo de R$ 1,3 bilhão no terceiro trimestre de 2018, 25 vezes a mais do que o verificado no mesmo período do ano anterior. Ao fim do trimestre, a dívida da companhia era de R$ 10,976 bilhões.

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