O que esperar da CES 2019: de alto-falantes e vasos sanitários inteligentes

Em Las Vegas, explosão de aparelhos produz mais esquisitices do que grandes avanços

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Las Vegas | Financial Times

A promessa eram carros voadores. Em lugar disso, temos “vasos sanitários inteligentes”.

O convescote anual de tecnologia Consumer Electronics Show (CES) é um evento estranho. Promovido como um vislumbre do futuro, ele muitas vezes se torna uma corrida ao fundo da cadeia de suprimento de Shenzhen. É o que mostra o novo vaso sanitário Numi 2.0, da Kohler, que oferece comando de voz, via sistema Alexa, sobre o aquecimento do assento, a descarga e a iluminação “dinâmica”.

A explosão de aparelhos que acontece em Las Vegas a cada janeiro tende a produzir muito mais esquisitices do que grandes avanços, de telas curvas de TV a refrigeradores comandados pela internet, travesseiros robotizados, roupas de baixo “inteligentes” e bagagem autoguiada.

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Robô ANYmal, que faz entrega e é operado de forma autônoma, aparece na conferência de imprensa da Continental durante a CES 2019 - AFP

O alerta da Apple quanto ao seu faturamento serviu para sublinhar o estado lastimável do mercado de smartphones, a busca pela próxima grande novidade está se tornando cada vez mais urgente. A realidade virtual e os carros autoguiados, ambos muito alardeados nos últimos anos, continuam a parecer perspectivas bem distantes, e a inteligência artificial é mencionada com tanta frequência na CES que isso parece desvalorizar todo o conceito.

Mesmo assim, está se tornando claro que assistentes virtuais como a Alexa vêm ganhando terreno junto aos consumidores, e todo o setor está se preparando para uma grande campanha de promoção das redes sem fio “5G”, este ano.

Cerca de 180 mil participantes estão se preparando para o bombardeio sensorial que sofrerão nos 225 mil metros quadrados de espaço para exposição. Abaixo, veja os assuntos que devem despertar mais obsessão na CES 2019.

5G

Se a indústria de bens eletrônicos de consumo tem uma mensagem que deseja que os participantes levem, ao partir da CES este ano, é a de que o 5G “chegou”. Executivos de fabricantes de chips como a Qualcomm e a Intel, operadoras de telefonia móvel como a AT&T e Verizon, e empresas de tecnologia como a IBM terão como foco, em suas palestras, as novas redes sem fio, que prometem velocidades mais altas, menor consumo de energia e a chegada da “internet das coisas”.

Cidades americanas como Los Angeles e Houston já estão vendo testes das primeiras redes 5G, e os fabricantes de smartphones, entre os quais a Samsung, prometeram lançar aparelhos que funcionem com essa nova tecnologia, nos próximos meses,

Mas para que o 5G justifique a hipérbole ensurdecedora, precisa produzir algo mais do que acesso ultrarrápido ao YouTube, em telas minúsculas. Se a CES não mostrar novos tipos de aparelhos convincentes que possam explorar as redes 5G, a nova tecnologia poderia perder o ímpeto.

Alto-falantes inteligentes e assistentes virtuais

Alto-falantes inteligentes como o Echo, da Amazon, e o Google Home são os sucessores mais próximos que o setor de tecnologia encontrou para o smartphone. A Amazon, por exemplo, anunciou ter vendido “dezenas de milhões” de aparelhos Echo no ano passado.

A Amazon continua a liderar o mercado, mas o contra-ataque do Google foi lançado com uma grande campanha de marketing na CES do ano passado: anúncios do Google Assistant, criado pela líder nos serviços de busca da internet, ocuparam outdoors, empenas de edifícios e as laterais dos trens monotrilho de Las Vegas.

O esforço parece estar dando resultado: de acordo com o grupo de pesquisa eMarketer, a fatia de mercado do Echo nos Estados Unidos deve cair para menos de dois terços pela primeira vez este ano, com o Google Home conquistando 31% das vendas. A eMarketer estima que 74 milhões de pessoas usarão um alto-falante inteligente este ano nos Estados Unidos, o equivalente a mais de um quarto da população adulta do país.

Combinar a Alexa e o Google Assistant a uma variedade cada vez maior de aparelhos domésticos vem sendo um tema da CES, nos dois últimos anos. Televisores estão se tornando um foco para os esforços da Amazon, que está tentando combater os esforços da Roku para se tornar um portal para a “TV conectada”.

Agora, Amazon e Google esperam libertar seus robôs da “casa inteligente” e permitir que circulem, com integração a fones de ouvidos, “óculos inteligentes”, carros e até mesmo bicicletas.

Veículos elétricos

Os carros autoguiados ainda não avançaram de suas pistas de testes na Califórnia e Arizona para o resto do mundo, mas isso não significa que o transporte foi excluído do mapa da CES.

Haverá mais robôs de entregas, drones [aeronaves de pilotagem remota] e skates elétricos no evento desta semana, além de novas formas de entretenimento de bordo e tecnologia de assistência a motoristas, para os carros convencionais. Os palestrantes peso pesado incluem Elaine Chao, secretária do Transporte dos Estados Unidos, e John Krafcik, presidente-executivo da Waymo.

O rápido crescimento que a Bird e Lime, startups que oferecem scooters elétricas compartilhadas, conquistaram no ano passado abriu as portas para um novo frenesi de sistemas de transporte de curto alcance. A Segway-Ninebot, da China, cujos veículos são usados por quase todos os serviços de scooters compartilhadas, vai mostrar sua nova scooter “Model Max”, projetada para ser mais resistente e confiável em todo tipo de condição climática.

Tony Ho, vice-presidente da Segway-Ninebot, previu que a nova geração de veículos elétricos de duas rodas virá equipada com sensores que alertariam as empresas caso eles caiam, ou mesmo com “navegação semiautônoma”, caso estejam estacionados indevidamente. “”Essencialmente, o que estamos fazendo agora é transformar os dispositivos de micromobilidade em robôs”, ele diz.

Consequências da onipresença da tecnologia

A CES sempre pareceu bem separada do mundo real. Mas mesmo Las Vegas será incapaz de escapar ao debate sobre o impacto da tecnologia na sociedade, e sobre as pessoas que a usam – da segurança e privacidade a como a guerra comercial do presidente americano Donald Trump pode afetar os 15 mil chineses cujo comparecimento no evento é esperado.

No ano passado, um alerta de acionistas da Apple quanto aos efeitos do vício em smartphones sobre a saúde, divulgado pouco antes da CES, não produziu resposta significativa da parte dos executivos do setor de eletrônica.

Desde então, recursos de monitoração do tempo dedicado a apps e controles mais rigorosos para uso pelos pais foram acrescentados ao iPhone e ao sistema operacional Android. Fabricantes menores produziram alternativas simplificadas de smartphone, como o Palm e o Light Phone, projetadas para manter os usuários conectados sem distrai-los.

"Há uma compreensão crescente de que o vício em celulares e seu uso obsessivo estão se tornando uma questão social importante", disse Ben Wood, analista da CCS Insight.

Mas ele acrescentou que não se pode determinar com que seriedade as empresas de tecnologia estão encarando o problema. "Mais hardware não é a resposta, mas parece ser a reação do setor no momento".

Tradução de PAULO MIGLIACCI 

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