Operação da PF sobre Trump Hotel mira filho de ator e neto de ex-presidente brasileiro

Esquema teria começado em 2012 e foi relatado em delação premiada

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Brasília e Rio de Janeiro

A Polícia Federal deflagrou nesta terça (29) operação que investiga esquema de pagamento de propinas a diretores e ex-diretores do BRB, banco estatal de Brasília, em troca de investimentos em projetos como o do extinto Trump Hotel, no Rio de Janeiro, hoje LSH Lifestyle.

O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, determinou as prisões preventivas (sem prazo para expirar) de dez pessoas e as temporárias (cinco dias, prorrogáveis) de mais quatro, além de mandados de busca e apreensão nos endereços dos investigados. A maioria é de dirigentes atuais ou já está afastados do BRB.  

Como antecipou a Folha, entre os investigados estão também Diogo Cuoco e Adriana Cuoco, respectivamente filho e nora do ator de telenovelas Francisco Cuoco. Eles são suspeitos de lavar dinheiro para o esquema. Diogo foi alvo de um mandado de prisão preventiva e Adriana, de busca e apreensão.

Outro alvo é Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, neto do general João Baptista Figueiredo, último presidente brasileiro na ditadura militar (1979-1985). Também foi expedido mandado de prisão preventiva contra ele, que estaria morando no exterior.

O hotel LSH Lifestyle, antigo Trump Hotel, no Rio de Janeiro
Piscina do hotel LSH Lifestyle, antigo Trump Hotel, no Rio de Janeiro - Divulgação

Segundo documentos da operação, obtidos pela reportagem, R$ 40 milhões em subornos foram pagos a dirigentes do BRB para que eles liberassem recursos de fundos de pensão de estatais e de órgãos públicos, administrados pelo banco, e da própria instituição financeira para os projetos que davam prejuízo e não passavam por análise técnica adequada, entre eles o do hotel. “Esses crimes geraram prejuízo em investimentos que somam aproximadamente R$ 400 milhões”, afirmou o procurador Frederico Siqueira. 

Entre os investigados estão o presidente licenciado do BRB, Vasco Cunha Gonçalves, recém nomeado para presidir o Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes), além dos diretores Nilban de Melo Júnior (Financeiro e de Relações com Investidores) e de Serviços e Produtos, Marco Aurélio Monteiro de Castro.

Os dois primeiros são alvo de mandados de prisão preventiva e o último, de temporária.

Segundo pessoa com acesso ao caso, que corre em sigilo, Diogo é alvo de um mandado de prisão e Adriana, de busca e apreensão.

Outro alvo é Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, neto do general João Baptista Figueiredo, último presidente brasileiro na ditadura militar (1979-1985). Também foi expedido mandado de prisão contra ele, que estaria morando no exterior.

Paulo Renato se associou em 2013 ao presidente americano, Donal Trump, para explorar o hotel de luxo, na Barra da Tijuca. A Trump Organization —propriedade do mandatário— cedeu sua marca para o empreendimento até 2016, mas se retirou do negócio depois que ele passou a ser investigado.

Segundo documentos da operação, obtidos pela Folha , ao menos R$ 16,5 milhões em subornos foram pagos a dirigentes do BRB para que eles liberassem recursos de fundos de pensão de estatais e de órgãos públicos, administrados pelo banco, e da própria instituição financeira para os projetos que davam prejuízo e não passavam por análise técnica adequada, entre eles o do hotel.

Entre os investigados estão o presidente licenciado do BRB, Vasco Cunha Gonçalves, recém nomeado para presidir o Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes), além dos diretores Financeiro e de Relações com Investidores, Nilban de Melo Júnior, e de Serviços e Produtos, Marco Aurélio Monteiro de Castro.

Os três são alvo de mandados de prisão.

A operação se baseia nas delações premiadas de executivos da Odebrecht, do corretor Lúcio Bolonha Funaro, operador de propinas para o MDB, e do empresário Ricardo Siqueira Rodrigues. Este último montou, em sociedade com Paulo Renato, o Fundo de Investimento em Participações (FIP) LSH para captar dinheiro para o hotel.

Aos procuradores da força-tarefa Greenfield, responsável pela investigação na Procuradoria da República no Distrito Federal, Rodrigues resumiu o funcionamento do banco estatal de Brasília da seguinte forma: “Tudo no BRB é extorquir. Não é depois. Hoje. Qualquer negócio lá tem que ter pedágio. Por isso que o BRB é um banco totalmente – como é que se chama? – inoperante do ponto de vista de mercado. O objetivo lá é cobrar pedágio”.

Houve busca e apreensão na sede da instituição nesta terça. A operação foi batizada de Circus Maximus.

A sede da instituição é alvo de mandado de busca e apreensão nesta terça. Nesta terça, a Procuradoria confirmou, em nota, o cumprimento das medidas judiciais no DF e mais três estados (ES, RJ e SP). A operação foi batizada de Circus Maximus.

Segundo as investigações, Rodrigues negociava as propinas com o empresário Henrique Neto, dono da Biam DVTM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários) e pai do ex-diretor da BRB DVTM Henrique Leite, também investigado por se beneficiar dos pagamentos. Há mandados de prisão contra os dois.

O esquema teria começado em 2014. A partir de 2015, teria sido reestruturado pelo então chefe do Conselho de Administração do BRB, Ricardo Leal, que havia sido tesoureiro da campanha do recém-eleito governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), e que nomeou parte dos dirigentes do BRB envolvidos na investigação, ligados ao partido.

Relatório da operação diz que houve pagamentos indevidos para liberar, via BRB, recursos do Instituto de Gestão Previdenciária de Tocantins (Igeprev-TO), do Regime de Previdência Social do município de Santos, do Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul (IPERGS) e de fundos próprios do BRB, entre outros.

O documento sustenta que as propinas eram pagas por meio de entregas de quantias em espécie, não raro com a emissão de notas fiscais frias por empresas que simulavam serviços para justificar as saídas dos recursos das empresas pagantes. Uma delas era a Globomix Servicos de Concretagem, de Diogo Cuoco.

Rodrigues contou que os valores eram levados aos destinatários por funcionários de doleiros. Ele disse também que usava um avião particular para transportar notas do Rio de Janeiro para Brasília, evitando voos comerciais.

Os investigadores sustentam que Vasco Gonçalves e Nilban Júnior receberam propinas até por meio de um convite para curtir o camarote do Rock in Rio 2015. “A própria atração, cujo custo para acesso ao camarote VIP certamente possui valor econômico acima de qualquer patamar que possa ser considerado um valor irrelevante, constitui vantagem indevida”, diz relatório da investigação.

Em outro episódio, relatado por Rodrigues, Nilban teria solicitado o custeio de comes e bebes para o casamento da filha. “Me interessava me aproximar. E aí eu fiz o pagamento. Se eu não me engano, o valor foi de R$ 50 mil para a empresa que prestou o bufê”, disse o colaborador. A festa e seus mimos estamparam as colunas sociais de Brasília.

Depois que o hotel ficou pronto, em maio de 2016, Rodrigues vendeu participação de R$ 50 milhões, embora tenha feito investimento pessoal de apenas R$ 800 mil. A investigação diz que, a exemplo dele, os sócios enriqueceram indevidamente.

“Essa desproporcionalidade [de valores] demonstra desde logo que os aportes dos investidores se converteram em benefício indevido aos agentes Ricardo Rodrigues, Arthur Soares Filho [conhecido como Rei Arthur] e Paulo Figueiredo Filho. Os dois últimos fizeram aportes nominais iniciais da mesma grandeza que Ricardo Rodrigues”, diz documento da operação.

Segundo o delator, os sócios tinham conhecimento geral sobre o esquema ilícito. “Paulo Renato Figueiredo Filho exerceu a administração do hotel LSH Barra por boa parte do período em que foram pagas notas fiscais falsas necessárias para a geração de dinheiro vivo que seria empregado no pagamento de propinas”, narra o relatório sobre o caso.

A operação também mira pagamento de propinas para a construção do edifício Praça Capital, em Brasília, caso relatado por delatores da Odebrecht.

Procurado pela Folha, o governo do Distrito Federal não se pronunciou. O BRB afirmou que "apoia e coopera integralmente com todos os órgãos competentes que conduzem a operação". "O banco informa que a operação corre em segredo de justiça e todas as informações são repassadas exclusivamente às autoridades policiais. O BRB adotará todas as medidas judiciais cabíveis visando preservar o banco e suas empresas controladas", acrescentou, em nota.

Também por escrito, a defesa de Henrique Neto e Henrique Leite informou que "repudia o decreto de prisão cumprido na data de hoje [terça]". "A decisão causa perplexidade, visto que ambos já haviam se colocado à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos. Aparentemente, a investigação preferiu dar crédito unicamente a delações espúrias de pessoas presas e que buscam, a qualquer custo, alguma perspectiva de liberdade", diz o comunicado, assinado pelos advogados  Pedro Ivo Velloso e o Ticiano Figueiredo.

A Folha ainda não conseguiu contato com demais investigados ou seus representantes.

ESPÍRITO SANTO

O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, se disse surpreso terça-feira (29) com o mandado de prisão contra o recém-nomeado presidente do banco do Estado, Vasco Cunha.

Presidente licenciado do BRB, Gonçalves assumiu na segunda-feira a presidência do Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes), após ter seu nome aprovado pelo Banco Central.

Segundo Casagrande, Vasco Cunha foi aprovado sem qualquer ressalva. O substituto interino deverá ser indicado ainda nesta terça-feira.

“Fui pego de surpresa. Seu nome foi aprovado na semana passada. Estou compreendendo melhor os fatos para designar um substituto ao longo do dia”, disse Casagrande.

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