Redes de fast-food não se comprometem com bem-estar de frangos, diz ONG

Burger King, Starbucks e Subway tiveram nota ruim; McDonalds, KFC e Pizza Hut, muito ruim

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São Paulo

Grandes empresas de refeições não se comprometem com o bem-estar dos frangos que compram para servir em seus restaurantes. As maiores e mais populares redes de fast food internacionais tiram nota vermelha nesse quesito, segundo análise e ranking divulgados nesta segunda-feira pela ONG World Animal Protection (WAP), presente também no Brasil.

O estudo é o “Botando Ordem no Galinheiro 2018” (“The Pecking Order 2018”, em inglês), avaliação inédita do comportamento dessas empresas em relação aos criadores de aves. Em resumo, a análise da WAP verifica se as múltis da fast food têm metas para exigir de seus fornecedores uma criação que leve em conta o bem-estar das aves. O estudo dá seis notas, de “Muito Bom” a “Deficiente”. Segundo a WAP, as nove empresas avaliadas não passaram de “Ruim”, a quarta pior nota (menos de 43 pontos de 90 possíveis).

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Pintinho em área de engorda em granja - Adriano Vizoni/Folhapress


 

Burger King, Starbucks e Subway ficaram com nota “ruim”; McDonald’s, KFC, Pizza Hut e Nando’s com “muito ruim”; Domino’s  PLC e Inc tiveram a nota mais baixa. As avaliações têm caráter global e utilizaram dados publicados pelas próprias empresas, segundo a WAP.

Cerca de dois terços dos 60 bilhões de frangos abatidos por ano no mundo são criados de maneira industrial intensiva —no Brasil, são 5,5 bilhões de abates por ano. As aves são selecionadas geneticamente para crescer o mais rápido possível. O ganho de peso pode provocar fragilidades e dores nas pernas, o que causa “manqueira”, além de distúrbios metabólicos.

Os frangos são criados em ambientes lotados —cada ave em semana final de vida ocupa a área equivalente a uma folha de caderno universitário ou A4. Além do mais, vivem sob luz artificial por muito tempo e alguns são criados em gaiolas que os imobilizam. A vida nos galpões impede comportamentos naturais dos bichos: empoleirar-se, espojar-se na areia ou ciscar, limites que são estressantes e causam doenças. Por fim, muitas aves não são “anestesiadas” para o abate.

O aumento de massa dos frangos é global. As aves de criação são muito parecidas pelo mundo _as matrizes, avós das aves de abate, são quase todas produzidas por duas múltis globais.

No Brasil também o ganho de peso foi pronunciado. Desde 1997, o peso médio da carcaça depenada e em parte eviscerada aumentou 32%, de 1,8 kg para quase 2,4 kg. O frango na média está pronto para o abate aos 45 dias de vida. A partir dos anos 1990, os criadores notaram os problemas derivados do crescimento rápido e da hiperlotação. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal, está havendo progresso na seleção genética, para um crescimento mais ponderado dos bichos, além de cuidados para tornar os ambientes de criação mais arejados e saudáveis.

Frangos com uma vida melhor custam mais? José Rodolfo Ciocca, zootecnista e gerente da área de animais de fazenda da WAP, diz que as recomendações de sua ONG podem aumentar o custo de produção —frangos que crescem mais devagar e ocupam mais área podem ficar mais caros. Mas a conta é complexa, argumenta.

Condições mais saudáveis também restringem doenças e perdas de aves. Segundo Ciocca a WAP e universidades na Holanda estão perto de concluir um estudo justamente para avaliar esse balanço entre eficiência e bem-estar.

A WAP concorda que existem progressos em algumas regiões do mundo, em particular nos países de origem dessas empresas e onde ONGs fazem campanhas pelo bem-estar animal. Por exemplo, Burger King, McDonald’s, Subway e Starbucks exigem abate humanitário em certos países, diz a WAP. Sete das nove empresas avaliadas (Burger King, KFC, McDonald’s, Nando’s, Pizza Hut, Starbucks e Subway) “usam auditores terceirizados em certas regiões para verificar o cumprimento dos padrões de bem-estar”.

Mas a avaliação geral é muito negativa. “Os resultados mostram negligência quase universal por parte das marcas no âmbito de suas políticas, metas e objetivos de negócio no sentido de melhorar o tratamento de frangos através de suas redes globais de fornecimento”, lê-se no relatório.

A WAP sugere diretrizes às empresas, agora com base no seu relatório anual. O eventual progresso vai aparecer no “Botando Ordem no Galinheiro 2019”.

OUTRO LADO

A Multi QSR, empresa que administra as redes KFC e Pizza Hut no Brasil, afirma que todos os fornecedores das duas redes são auditados para a garantia do bem-estar dos animais.

A Starbucks diz que até 2020 todos os alimentos serão feitos com ovos gerados por galinhas fora de gaiola (cage free), carne de porco de gestação livre de gaiola e aves processadas por meio de sistemas mais humanos. Em 2018 atingiu a meta de usar apenas galinhas criadas sem o uso de antibióticos.

A rede Subway afirma que todos os frangos servidos na rede brasileiros foram criadas livres de confinamento. E que até 2025, 100% dos ovos também virão de galinhas não-confinadas.

De acordo com o Burger King, a marca tem políticas rígidas relacionadas ao bem-estar animal que precisam ser cumpridas para que um fornecedor seja homologado.

A Domino’s Pizza Brasil diz que o relatório não avaliou a operação da marca no país e não traduz a realidade local. 

Procurado, o McDonald's não se manifestou até a noite desta segunda-feira (14).

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