Em crise, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes pôs 101 automóveis à venda em agosto do ano passado.
Na compra, diretores e assessores do próprio sindicato foram agraciados com um desconto de 40% em relação à tabela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Com a benesse, que também foi estendida aos funcionários do sindicato, a entidade abriu mão de uma receita adicional de cerca de R$ 1,8 milhão.
Foi do presidente do sindicato, Miguel Torres, a decisão de conceder esse desconto, seguindo uma lista de prioridades também fixada por ele.
Por esse critério, tiveram preferência os diretores do sindicato, seguidos por assessores que trabalham com carros e, por fim, os demais funcionários da entidade.
Entre os beneficiados está o próprio presidente do sindicato. Torres pagou R$ 43,9 mil por um Duster Dakar 2016 avaliado em R$ 73 mil pela tabela de julho do ano passado.
Rodrigo Carlos de Moraes, diretor do sindicato e filho do secretário-geral da entidade, José Carlos Moreira, adquiriu um Honda City 2017 por R$ 39,4 mil, avaliado em R$ 65,6 mil.
O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, por sua vez, desembolsou R$ 28,2 mil pelo HB20 da Hyundai de 2015.
Reunidos em julho do ano passado, os diretores do sindicato decidiram dar um desconto de 20% na venda dos carros para os integrantes do sindicato.
Dias depois, no entanto, Torres decidiu ampliar esse desconto para 40%. Como quatro carros já tinham sido vendidos 20% abaixo do valor da tabela, parte do dinheiro teve que ser devolvida aos seus compradores.
Noventa e sete carros foram vendidos segundo esse critério. Os demais foram encaminhados a concessionárias. Em geral, os diretores compraram os carros dos quais já dispunham. O pagamento foi feito à vista ao sindicato.
Para as atividades sindicais, a entidade contratou uma cooperativa para aluguel de automóveis. Filiado à Força Sindical, o sindicato dos Metalúrgicos tem 61 diretores com direito a salário que varia de R$ 10 mil a 12 mil, além de dois funcionários e um carro. Um de seus assessores também tem direito a carro.
Pela tabela Fipe, a frota do sindicato poderia valer R$ 4,5 milhões. A venda dos carros rendeu R$ 2,7 milhões.
Procurada, a tesoureira do sindicato, Elza de Fátima Costa Lopes, disse ter acatado a decisão de Torres.
Procurado desde quinta-feira (31), o comando do sindicato não se manifestou.
“Foi ordem do presidente Miguel Torres”, afirmou Elza.
Ex-mulher de Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, Elza também comprou um carro com 40% de desconto. Ela pagou R$ 44,7 mil por um Elantra 2016 avaliado a R$ 74,4 mil.
Para cobrir suas dívidas, o sindicato também vendeu para uma cooperativa de créditos o prédio anexo à sua sede. O edifício foi vendido a R$ 6 milhões. Mas sindicalistas afirmam que valeria mais.
A venda do imóvel foi aprovada em assembleia, mas ocorreu sem licitação.
Desde o ano passado, o sindicato enfrenta uma série de reveses. Foi, por exemplo, obrigado a pagar mais de R$ 3,1 milhões a um metalúrgico, cuja indenização entrara há um ano no cofre do sindicato sem que o trabalhador tivesse sido informado.
Há também dívidas trabalhistas. Desde 2017, com a redução de recursos destinados aos sindicatos, já foram demitidos pelo menos 72 funcionários e desligados outros 40 colaboradores da entidade.
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