IBGE reduz questionário do Censo e prevê corte de 26% de verbas em 2020

Presidente negou que enxugamento tenha relação com a necessidade de economia

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Rio de Janeiro

O IBGE informou nesta terça-feira (28) que o Censo de 2020 encolherá em relação à pesquisa feita há dez anos.

O questionário básico, adotado em todos os 71 milhões de domicílios do país, diminuirá de 34 para 25 perguntas.

Já o formulário aprofundado --que é aplicado a uma amostra (grupo selecionado de entrevistados)-- foi reduzido de 102 para 76 perguntas.

O IBGE estava discutindo há dois meses a redução dos questionários e, por isso, foi alvo de críticas de pesquisadores e de servidores do próprio órgão, que temem que as mudanças afetem a qualidade do resultado da pesquisa.

A presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, reconheceu que o Censo sofrerá uma redução no orçamento previsto para 2020, de R$ 3,1 bilhões para uma expectativa próxima de R$ 2,3 bilhões.

No entanto, ela negou que o enxugamento das perguntas tenha relação com a necessidade de economia.

"Nunca houve ordem para diminuir o número de perguntas do questionário, a única coisa que há é um quadro de restrição orçamentária", afirmou. "O IBGE tem autonomia para decidir como vai se adequar a este contexto".

Guerra afirmou que todos os órgãos de governo estão sofrendo cortes, não apenas o IBGE. Mas ela enfatizou que, mesmo sem restrição orçamentária, a diminuição do questionário seria feita em razão da chegada de novas tecnologias à rotina das pessoas.

"Países estão caminhando para questionários mais simples e otimizando formas alternativas de coleta de dados, não há como ser diferente", afirmou Susana.

Com a redução no número de perguntas, o diretor de pesquisas do IBGE, Eduardo Ríos-Neto estima que o tempo de duração da entrevista do questionário básico seja reduzido de 7 minutos para pouco mais de 4 minutos. Já o questionário aprofundado deverá ter duração de 18 minutos.

Segundo ele, isso facilita a operação em campo e reduz custos e é um dos elementos mais relevantes na coleta de informações.

O principal fator de mudança para a economia de tempo, de acordo com Ríos-Neto, foi a retirada da pergunta sobre o rendimento total de cada integrante da família no questionário básico. Apenas o responsável pelo domicílio responderá sobre seu rendimento.

Ele afirmou que os dados usados para as pesquisas acadêmicas sobre desigualdade e pobreza utilizam informações captadas no formulário aprofundado. O questionário básico, disse ele, é usado para abastecer pesquisas mestras do IBGE, que derivam das informações do Censo.

Servidores do instituto e pesquisadores, porém, afirmam que haverá perda na qualidade da captação do rendimento. Muitas vezes o chefe de família não tem a principal renda da casa, como lares em que há aposentados ou com mães que recebem benefícios do Bolsa Família.

"Em todas as discussões, nunca me foi apresentado nada [nenhuma exigência] de orçamento e para essa tarefa o parâmetro econômico não foi considerado, mas a qualidade do questionamento", afirmou o diretor.

O questionário por fim apresentado tem mais perguntas do que chegou a ser fechado com o corpo técnico do IBGE, cuja versão aprofundada chegou a ter 112 perguntas. Na última versão discutida pelo conselho consultivo, nesta segunda (27), o número fechado seria de 70 perguntas. Mas Ríos-Neto afirmou que as discussões levaram a uma revisão principalmente em questões de mobilidade do trabalhador. Das seis perguntas reincorporadas, quatro dizem respeito a como as pessoas se deslocam de casa para o trabalho.

Também foram reincorporadas perguntas sobre pessoas que dividem o mesmo domicílio e não são casadas formalmente. É o caso de casais do mesmo sexo, amigos e outras relações informais. O diretor de pesquisas afirmou que o questionamento é útil para fundamentar pesquisas sobre fertilidade e condições de habitação. A pergunta sobre estado civil saiu do Censo.

Outra parte da pesquisa que deixou a pesquisa foram as dúvidas sobre emigração. Segundo Ríos-Neto, demógrafos já usavam informações de registros administrativos da Polícia Federal para este levantamento.

Guerra afirma que o conselho diretor do IBGE aprovou o formato mais enxuto do Censo na manhã desta terça-feira. Agora, serão feitos testes e, em setembro, os questionários serão levados a uma operação experimental em Poços de Caldas (MG). 

As críticas, contudo, deverão seguir nos próximos dias. O sindicato dos servidores afirma que levar o questionário à fase experimental sem a execução de piloto é uma "irresponsabilidade", que pode acarretar em erros na captação dos dados da mais importante pesquisa do país.

Além disso, o IBGE ainda não apresentou publicamente a versão final do questionário, o que segundo Ríos-Neto será feito nos próximos dias. 

O Censo tem a missão de visitar todos os lares do país, para saber quantos são os brasileiros e como eles vivem. Essas informações são usadas para a definição de critérios de políticas públicas, como a distribuição de recursos do Fundo de Participação dos Estados e Municípios. O Ministério da Saúde, por exemplo, está aplicando o conceito de população para a inserção de médicos do programa Mais Médicos.


 

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