Fetiche da industrialização prejudica a exploração de recursos naturais, diz chefe da Petrobras

Castello Branco disse que explorar commodities pode contribuir para desenvolvimento econômico

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Belo Horizonte

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, afirmou nesta terça (10) que a exploração de recursos naturais enfrenta preconceito no Brasil e é prejudicada por um "fetiche da industrialização", que cobra investimentos em produtos de alto valor adicionado.

Castello Branco, que já foi diretor da Vale, falava para uma plateia do setor de mineração em congresso em Belo Horizonte. Ele defendeu também privatizações de estatais, argumentando que o excesso de empresas públicas no país gerou ineficiências na economia. O executivo deixou o evento sem falar com a imprensa. 

Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras em evento em Curitiba, em julho de 2019 - Rodolfo Buhrer - 25.jul.19/Reuters

"O Brasil é certamente uma fortaleza global de recursos naturais. Um enorme riqueza na agricultura, na mineração e no petróleo. Todavia existem preconceitos contra a produção de commodities, sempre existe o apelo por valor adicionado", afirmou.

A estatal tem enfrentado críticas por se desfazer de atividades como refino e petroquímica, com o objetivo de focar suas atividades na exploração de petróleo. Até agora, a companhia vendeu US$ 15,7 bilhões (R$ 65 bilhões pela cotação atual) em ativos.

Na Vale, disse Castello Branco, também havia questionamentos pelo foco na extração do minério -- durante os governos petistas, houve pressões para que a mineradora entrasse em projetos de siderurgia e construísse navios no Brasil. 

"Infelizmente, o fetiche da industrialização tem prejudicado a realização do potencial de crescimento da exploração de recursos naturais", afirmou. "A Petrobras depois, de descobrir o pré-sal, saiu investindo em refinarias no Brasil, comprando refinarias nos Estados Unidos, no Japão, querendo investir em indústria de transformação, e o resultado disso todo mundo sabe.

"Alvos da Operação Lava Jato, grandes projetos desse período, como a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) se tornaram fontes de prejuízo para a estatal.

Castello Branco argumentou que atividades como mineração e exploração de petróleo demandam pessoal qualificado e tecnologia complexa. "Eu posso dizer que produzir petróleo em águas ultraprofundas é muito mais complexo, muito mais sofisticado do que produzir automóveis, por exemplo."Ele argumentou que a Noruega, por exemplo, desenvolveu uma indústria fabricante de equipamentos submarinos a partir da descoberta de petróleo no Mar do Norte, que ajudou o PIB per capita do país a ultrapassar o da Suécia.

"A Noruega, em 1969, tinha um PIB per capita que era igual a 60% da Suécia, o país mais desenvolvido da Escandinávia, com um padrão de vida igual ao dos Estados Unidos. Hoje, a Noruega tem um PIB per capita que é 1,5 vez a da Suécia. Através da exploração de uma boa e velha commodity."

Já a Austrália, disse, "é cinco vezes mais rica do que o Brasil" mantendo seu foco na exploração de minérios. O país lidera a produção mundial de minério de ferro e de carvão siderúrgico.

"Seria de se esperar que, seguindo esse apelo por valor adicionado, a Austrália criasse uma poderosa indústria siderúrgica. Não. A Austrália optou por ser exportadora de minério e metais e investir em capital humano, criar uma poderosa indústria de serviços técnicos especializados, equipamentos, investir em tecnologia da informação."

Em sua palestra, o presidente da Petrobras reforçou pontos que vêm sendo defendidos pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como as privatizações. “Um dos problemas é que o Brasil possui 392 estatais [entre federais e estaduais]”, afirmou, defendendo que a venda dessas empresas vai melhorar a eficiência da economia brasileira.

No caso da Petrobras, disse, a venda de ativos tem potencial para criar três novas indústrias privadas: de refino, de exploração de petróleo em terra e águas rasas e de distribuição e transporte de gás natural — setores em que a estatal está reduzindo sua presença.

Guedes tem repetido em entrevistas que gostaria de privatizar todas as estatais. No fim de agosto, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, disse que o governo estudaria também a venda da Petrobras.

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