Conheça alguns experimentos dos vencedores do Nobel de Economia

Entre os estudos dos pesquisadores estavam testes feitos na área da educação, saúde e do comportamento

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São Paulo

Atualmente há 700 milhões de pessoas no mundo vivendo com rendas extremamente baixas. Além disso, por ano, cinco milhões de crianças de até cinco anos morrem por doenças que poderiam ser evitadas ou mesmo tratadas.

Foi este o contexto dado pela Academia Real Sueca de Ciências ao anunciar os vencedores do prêmio Nobel de Economia deste ano.

Esther Duflo, Abhijit Banerjee e Michael Kremer foram laureados por desenvolverem pesquisas experimentais em países em desenvolvimento (onde há populações pobres), estudando a causa da pobreza global e a melhor forma para combatê-la. 

Na sua apresentação, a academia lembra que já houveram pesquisas anteriores que semearam teorias importantes para entender os mecanismos por trás da pobreza e até sobre meios para tentar combatê-la. Mas faltavam estudos experimentais que pudessem orientar políticas

​Conheça algumas dos experimentos executados pelos três pesquisadores nas áreas de educação, saúde e tendências comportamentais.

Abhijit Banerjee e Esther Duflo, dois dos três laureados do Nobel de Economia, com os vencedores do prêmio de 2016 e o de 2014, Bengt Holstrom e Jean Tirole, respectivamente
Abhijit Banerjee e Esther Duflo, dois dos três laureados do Nobel de Economia, com os vencedores do prêmio de 2016 e o de 2014, Bengt Holstrom e Jean Tirole, respectivamente - Brian Snyder - 14.out.2019/Reuters

Mais livros, cuidado da saúde e o desempenho escolar no Quênia

Nos anos de 1990, Michael Kremer e coautores lançaram uma série de pesquisas experimentais no Quênia. Os estudos analisavam se, por exemplo, mais livros didáticos ou o maior cuidado de crianças com vermes poderiam impactar o ensino. 

A simples oferta de mais recursos, segundo as conclusões, mostrou ter um impacto limitado na qualidade da aprendizagem. Eles perceberem que mais livros didáticos não melhorava o rendimento médio dos estudantes, mas aprimorava o desempenho dos mais capacitados.

Em relação à saúde, ao ampliar o cuidado dos estudantes, houve um aumento da presença deles em sala de aula, mas não houve uma melhora em seus rendimentos.

Outro experimento, iniciado em 1998, proveu incentivos financeiros aos professores para melhorar as notas dos alunos em determinados testes. Os professores poderiam ou estimular um ensino de longo prazo ou ensinar o conteúdo específico para a prova.

O que mais ocorreu foi a última opção: os professores gastaram mais esforços para preparar os alunos para as provas específicas, atreladas aos incentivos financeiros. Já os testes que não tinham relação com os incentivos continuaram com notas iguais.

Dias extras, estudo com jogos e aprendizagem na Índia

Com base nos resultados das pesquisas no Quênia, Banerjee, Duflo e coautores passaram a desenvolver, em 2000, um estudo experimental semelhante na Índia. 

Entre suas conclusões, eles perceberam que os estudantes não aprendiam mais por ficarem dias extras na escola. Também notaram que muitos dos alunos eram a primeira geração de uma família a estudar, então os pais não conseguiam acompanhá-los ou não sabiam quando o filho não conseguia aprender o conteúdo.

Com auxílio de uma ONG em escolas indianas, os pesquisadores criaram programa para ajudar crianças com desempenho muito baixo. Eles fizeram testes tanto com a contratação de profissionais quanto com a adoção de jogos de computadores, e perceberam que as duas intervenções tiveram resultados positivos.

Cuidados básicos da saúde e preços

Kremer e coautores também fizeram um estudo sobre a tecnologia utilizada para obtenção de água. Depois de perceberem que muitas pessoas utilizavam nascentes infectadas por fezes humanas e de animais, eles desenvolveram um programa de proteção desses locais. 

O resultado foi que a intervenção reduziu a presença da Escherichia coli (bactéria que indica a presença de fezes, ou coliforme fecal) em dois terços nessas águas, além da incidência de diarreia em crianças ter ficado 25% menor na relação com grupos em que estavam em locais sem tal proteção. 

Outro estudo feito por Kremer e um coautor também mostrou como pessoas com baixa renda são mais sensíveis aos preços de remédios. 

Com um programa feito em escolas com medicamentos subsidiados para cuidar de crianças com vermes, eles observaram que 75% dos pais buscavam o remédio quando ele era gratuito. Em outro local, em que o custo era de US$ 0,40 (ainda com subsídio), apenas 18% dos pais o buscavam.

Tendências comportamentais de fazendeiros

Duflo, Kremer e outro coautor tentaram entender também o porquê de fazendeiros na África subsaariana não adotarem tecnologias modernas que trazem retornos e produtividade, como fertilizantes.

Ao analisar fazendeiros do oeste do Quênia, eles perceberam que o seu uso não é necessariamente simples e que a sua adoção passa a não ser lucrativa se não for aplicada de maneira correta. Mas não era esse o motivo do baixo uso de fertilizantes, havia uma tendência comportamental.

Os pesquisadores perceberam que os fazendeiros não se planejavam para comprar o insumo quando tinham dinheiro, logo após a colheita. Quando necessitavam do produto, já perto do plantio, não tinham mais renda para pagar pelo material. 

No estudo, os economistas, então, compararam dois grupos: um que recebeu subsídios temporários para comprar fertilizantes, e outro que tinha sempre o material subsidiado. Quem mais adotou o produto foram aqueles que tinham o benefício em apenas em um período limitado.

Com isso, eles chegaram a conclusão de que os fazendeiros se preocupavam com questões mais pontuais e urgentes, que não poderiam ser postergadas, o que pode servir como um guia para a criação de políticas nesses locais.

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