Dólar salta mais de 3% e volta aos R$ 5,32; Bolsa cai 1,7%

Aumento no número de casos de coronavírus traz a aversão a risco de volta aos mercados

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São Paulo

O dólar saltou 3,26%, a R$ 5,32 nesta quarta-feira (24), o maior valor desde quinta passada (R$ 5,37). O turismo está a R$ 5,43. Já o Ibovespa recuou 1,66%, a 94.377 pontos, em uma sessão de aversão a risco global.

Investidores repercutem o aumento de casos de coronavírus nos Estados Unidos, a piora na perspectiva do FMI (Fundo Monetário Internacional) para o crescimento econômico e a intenção americana de tarifar importações europeias. Além disso, o fim do semestre leva a realização de lucros e trocas de ativos nas carteiras.

“Há uma preocupação de fim de mês, com teorias de que vai haver uma venda relevante de ações nos EUA. Investidores tentam antecipar movimento de virada de semestre e a preocupação os fez colocarem os ganhos recentes no bolso”, afirma Jorge Junqueira, sócio da Gauss Capital.

Cédulas de dólar
A cotação do dólar volta a subir com o aumento de casos de coronavírus em estados dos EUA - Jorge Araújo / Fotos Públicas

Na terça (23), pela segunda semana consecutiva, os estados americanos do Texas, Arizona e Nevada estabeleceram recordes em suas epidemias de coronavírus, e dez outros estados, como Flórida e Califórnia, registraram altas nos números de infecções, com recordes diários de novos casos. Em Houston, no Texas, a ocupação das UTIs está em 97%.

Isso fez as autoridades enrijecerem as regras sobre aglomerações e insistir para que as pessoas fiquem em casa e sigam as diretrizes de distanciamento social.

“Mais que uma segunda onda, é uma continuidade da primeira onda em algumas regiões. É de se esperar alta nos casos em locais que reabriram, não tem nada surpreendente ainda. Nova York segue como um bom exemplo”, diz Junqueira.

O número de novos casos em Nova York segue em queda e o estado atingiu sua menor porcentagem de resultados positivos em testes de Covid-19 desde março, mas as autoridades de saúde estão monitorando de perto os pontos onde persistem os maiores índices de infecção, como alguns bairros de baixa renda na cidade de Nova York, que entrou nesta semana na fase 2 do plano de reabertura, com a volta de trabalhadores aos escritórios e serviços de restaurante em espaços externos.

O número total de casos confirmados de coronavírus em todo o mundo ultrapassou 9,1 milhões, com mais de 2,3 milhões deles nos Estados Unidos, enquanto o número de mortos no país superou 121 mil, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins.

Investidores temem que o crescimento nos casos interrompa a retomada das atividades, que se refletiu na melhora de dados econômicos preliminares de junho.

Nesta quarta, o FMI afirmou que o coronavírus está provocando danos mais amplos e profundos à atividade econômica do que imaginado anteriormente, levando a instituição a reduzir mais sua estimativa para a produção global em 2020.

O FMI disse esperar agora que a produção global sofra contração de 4,9% este ano, ante recuo de 3% estimado em abril, quando usou dados disponíveis conforme as restrições aos negócios ainda não estavam com força total.

A recuperação em 2021 também será mais fraca, com crescimento global de 5,4% em 2021 ante 5,8% previsto em abril. O Fundo disse, entretanto, que um grande surto de novas infecções em 2021 pode diminuir a expansão no ano que vem para apenas 0,5%.

A expectativa agora é que o PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos recue 8% e o da zona do euro 10,2% em 2020, mais de dois pontos percentuais a menos do que na previsão de abril para ambos. Para o Brasil, a previsão é de queda de 9,1%.

A China —país em que as empresas começaram a reabrir em abril e as novas infecções foram mínimas— é a única grande economia que deve apresentar resultado positivo em 2020, agora com expectativa de crescimento de 1%, ante ganho de 1,2% projetado na previsão de abril.

Outro ponto negativo para investidores é a proposta do governo de Donald Trump de tarifar mais US$ 3,1 bilhões em importações do Reino Unido, França, Alemanha e Espanha. Essa seria uma resposta americana na disputa em torno dos subsídios europeus à Airbus, considerados irregulares pela Organização Mundial do Comércio (OMC).

Além disso, os estoques de petróleo nos EUA subiram muito mais que o previsto, batendo recorde pela terceira semana seguida. O preço barril de Brent (referência internacional) despenca 5,3%, a US$ 40,38. O WTI (referência americana) tem queda de 5,6%, a US$ 38,11.

Em Nova York, S&P 500 e Dow Jones caíram 2,5% e 2,7%, respectivamente. Após oito sessões seguidas de altas e dois recordes seguidos, a Bolsa de tecnologia Nasdaq cedeu 2,2%

No Brasil, a maior queda da sessão foi da Cielo, que despencaram 13%, a R$ 4,70, após a Superintendência-Geral do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) suspender, na noite de terça, o acordo entre o WhatsApp, Cielo e instituições financeiras que permite pagamentos e transferências de valores diretamente entre usuários do aplicativo.

O Banco Central tomou decisão semelhante e divulgou comunicado ordenando as bandeiras de cartão de crédito Visa e Mastercard, usuárias do sistema, a suspenderem a operação de pagamentos dentro do novo sistema.

Anunciada em meados de junho, a parceria envolve o Facebook, controlador do WhatsApp, e a credenciadora Cielo, responsável pelo processamento financeiro das transferência.

Gol e Azul também reistraram fortes quedas, com recuos de 8,4% e 6%, respectivamente.

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