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Taxa de investimentos brasileira, em 16,2%, segue anêmica

Desenbolsos privados não decolam por carga tributária, má qualidade da educação e temor de crises fiscais

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São Paulo

Não existe milagre do crescimento sem investimento em máquinas, tecnologia, inovação e expansão de fábricas.

Os países cujas economias se expandiram de forma acelerada nos últimos anos —antes da catástrofe do coronavírus— evidenciam essa antiga constatação da literatura acadêmica.

China, Índia, Vietnã, Irlanda e Botsuana são exemplos de nações que cresceram perto ou acima de 5%, em média, entre 2010 e 2019.

As taxas de investimento desses cinco países —tão diversos entre eles— em relação aos seus PIBs (Produtos Internos Brutos) foram de, respectivamente, 45%, 33,7%, 27,8%, 26,6% e 32,8% nesse período.

No mesmo intervalo de tempo, o Brasil teve expansão econômica pífia de 1,4% ao ano, em média. O resultado não é surpreendente considerando que o país mobilizou investimentos equivalentes a apenas 18,4% do PIB nesse período.

Das cerca de 170 nações para as quais o FMI (Fundo Monetário Internacional) tem dados, o Brasil costuma estar entre os 20 com os níveis mais baixos desse indicador.

A série histórica das contas nacionais brasileiras calculada pelo IBGE com sua metodologia atual começa no início de 1996. Nos 99 trimestres registrados desde então, a taxa de investimentos brasileira atingiu ou ultrapassou 20% em apenas 20 ocasiões. Seu teto em todo esse período foi 21,5%.

Os dados divulgados nesta quinta-feira (3) pelo IBGE mostram que o país saiu com força da crise causada pela pandemia da Covid-19, ainda que tenha frustrado as expectativas do mercado, que esperava um crescimento mais robusto do PIB.

A questão, que explica por que toda a numeralha aqui citada sobre taxa de investimento importa, é: o que esperar daqui para a frente?

Uma combinação entre má gestão da economia e baixo apetite da sociedade brasileira por reformas – que mexeriam em privilégios adquiridos – são a principal causa do desempenho econômico fraco brasileiro.

O temor recorrente em relação a crises fiscais, o ambiente de negócios complexo, a alta carga tributária e a baixa qualidade da educação são alguns dos fatores que explicam porque os investimentos privados não decolam no Brasil.

Houve avanços para evitar o colapso das contas públicas nos últimos anos, como a adoção de um teto para controlar os gastos do governo e mudanças nas regras do regime de aposentadorias.

Mas, até agora, a taxa de investimentos brasileira segue anêmica.

A saída do fundo do poço da pandemia foi suficiente apenas para levar o indicador de volta para 16,2%, exatamente o mesmo patamar baixo do terceiro trimestre de 2019 e de 2018.

A confiança empresarial dependerá de novos passos para resolver os antigos problemas, mas também de medidas para atenuar os novos trazidos pela pandemia.

Há incertezas grandes em relação a ambos.

Não está claro que haja apetite político para avançar em reformas importantes, como a administrativa e a tributária em 2021, quando as atenções em Brasília já estarão voltadas para as eleições do ano seguinte.

Tampouco parece haver segurança, dado o desencontro de declarações oficiais em relação a vacinas, de que o Brasil será um dos países que avançará rapidamente na difícil tarefa de imunizar sua população.

Enquanto isso não ocorrer, a necessidade de distanciamento social e a impossibilidade de renovação do socorro emergencial à população vulnerável, no contexto do elevado desemprego, frearão o consumo.

No contexto da incerteza em relação à crise sanitária, a desigualdade na aprendizagem de crianças e jovens, outro problema antigo do país, se agrava a cada dia.

Sem uma ação política bem coordenada nas frentes de saúde e educação, que aumentem a confiança nas perspectivas futuras do país, dificilmente o motor do investimento —crucial para o crescimento econômico— acelerará.

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