Descrição de chapéu petrobras

Centrão pressiona por Bento Albuquerque na Petrobras para ganhar Ministério de Minas e Energia

Base de presidente quer ministério de Albuquerque, que assumiria petroleira em troca; equipe econômica articula 'operação abafa'

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) quer a saída de Roberto Castello Branco da presidência da Petrobras. Bolsonaro defendeu a mudança em reunião, na quinta-feira (18), com um grupo de ministros.

A estratégia do presidente é pressionar o executivo a pedir demissão até a reunião do conselho da petroleira, que deve discutir o tema e foi marcada para a próxima terça-feira (23).

Para amigos, Castelo Branco afirmou que não deixará o comando da estatal por vontade própria, o que levou o presidente a defender uma ofensiva sobre os conselheiros da empresa.

Na tentativa de impedir o derretimento das ações da companhia diante da ingerência do governo na empresa, os ministros Paulo Guedes (Economia) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) começaram uma 'operação abafa' para demover Bolsonaro da troca.

A incerteza sobre o destino da empresa mobilizou a nova base aliada do presidente no Congresso, que viu a chance de assumir outro ministério —eles já comandam Cidadania e Comunicações.

Desta vez, eles defendem a transferência do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, para a Petrobras. A alternativa conta com apoio entre militares do governo.

Em seu lugar, o Senado indicaria um nome para o posto do ministro. O mais cotado é o do ex-ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, que é do DEM, mesmo partido do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

Embora o DEM não seja do centrão, o nome de Coelho Filho tem o respaldo de integrantes do bloco partidário. O ex-deputado federal é filho do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE).

A fritura de Roberto Castello Branco começou nas últimas semanas diante da alta do preço dos combustíveis. Os caminhoneiros chegaram a ameaçar com uma nova paralisação.

Na reunião da quinta-feira (18), Bolsonaro manifestou insatisfação com o que chamou de falta de transparência e previsibilidade da empresa estatal.

Segundo assessores palacianos, o presidente defendeu no encontro que a empresa seja comandada por um nome que se importe menos com a reação do mercado financeiro e mais com o mercado consumidor.

Para ele, Castello Branco tem errado ao desconsiderar as reclamações dos caminhoneiros, que têm ameaçado deflagrar uma nova greve nacional por causa dos novos aumentos no preço do diesel.

Não é a primeira crise entre o presidente da República e o comando da estatal. Em 2019, a empresa chegou a recuar em um reajuste no preço do diesel após interferência de Bolsonaro.

A iniciativa levou a estatal a perder R$ 32 bilhões em valor de mercado em apenas um dia.

Naquela ocasião, Castello Branco defendeu que uma nova paralisação de caminhoneiros provocaria prejuízos à economia.

"Faz parte da minha atividade como administrador não só olhar para os retornos mas olhar para os riscos", afirmou à época.

Na quinta-feira (18), logo após o anúncio de reajustes de 15% no preço da gasolina e 10% no preço do diesel, lideranças dos caminhoneiros voltaram a se queixar, culminando com a reação do presidente em sua live semanal.

As críticas recentes de Bolsonaro aos reajustes dos combustíveis geraram reações também das outras petroleiras que operam no país, que divulgaram um posicionamento por meio do IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás).

As empresas defendem que a liberdade de preços é fundamental para a atração de novos investimentos em logística e refino de combustíveis.

Embora a União seja controladora, a Petrobras é uma empresa com ações negociadas na Bolsa e segue a regra de uma corporação privada. Os diretores e o próprio presidente são escolhidos pelo conselho de administração.

Na terça-feira (23), o colegiado se reúne para discutir a composição da diretoria, cujo mandato vence em março.

Se quiser interferir, Bolsonaro terá de convencer o conselho da empresa a destituir Castello Branco. Pode ainda convocar uma assembleia de acionistas para renovar o colegiado, já que a última palavra é dos conselheiros.

Nesta sexta-feira (19), com as ameaças feitas por Bolsonaro, as ações preferenciais da Petrobras fecharam em queda de 6,52%, a R$ 27,36 cada. As ordinárias (com direito a voto) recuaram 7,61%, a R$ 27,19. O Ibovespa cai 0,9%, a 118.115 pontos, pressionado pela queda da estatal.

Analistas avaliam que a queda ainda foi “tímida” diante da iniciativa dos ministros Paulo Guedes (Economia) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) em segurar Castello Branco na Petrobras.

Ambos participaram da reunião em que Bolsonaro defendeu a saída de Castello Branco. O ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) também estava presente.

Segundo relato feito à Folha, no encontro, Guedes se manifestou contrário a uma mudança e apontou ao presidente os efeitos negativos que ela provocaria no mercado financeiro, como a acusação de interferência indevida.

Desde quinta-feira (18), Guedes tem tentando demover Bolsonaro da saída de Castello Branco. A opinião do ministro tem o apoio de Bento, que comanda a pasta à qual a Petrobras é vinculada.

Tarcísio começou então a trabalhar em um plano para conter a ameaça de paralisação. A unificação de todos os tributos do diesel seria uma das formas de reduzir a pressão diretamente sobre os preços ao evitar tributação em cascata.

Outra medida é a adoção em todo o território nacional de uma guia eletrônica de transporte que também acaba com encargos ao longo da cadeia do transporte.

A chamada DTE (Documento de Transporte Eletrônico), hoje em teste no Espírito Santo, será nacionalizada por meio de uma medida provisória a ser editada nas próximas semanas.

Tarcísio também decidiu incorporar nas 11 novas concessões de rodovias previstas para este ano a obrigação de construção de áreas de descanso superequipadas com banheiros equipados e assistência médica, por exemplo. Seriam 50 ao todo em todo o território nacional.

Mesmo assim, a cúpula militar do Palácio do Planalto resiste a Castello Branco, associado à linha liberal. Na avaliação dessa ala, a Petrobras precisa de um nome mais afinado a Bolsonaro.

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