Mais uma vez, a Petrobras se encontra sob risco por conta de surtos populistas que ameaçam trincar a barragem da responsabilidade.
Esse filme é velho, e o que espanta é a incapacidade de aprendermos com os erros do passado.
A Petrobras é uma empresa de capital aberto, controlada pela União, que detém a maioria do capital votante da empresa. Tem milhares de acionistas, dentre os quais muitos pequenos que colocaram seu FGTS, por acreditar nas melhores práticas de gestão.
Cada vez que a assombração de manipulação de preços reaparece, perdem não apenas os acionistas, mas principalmente os cidadãos contribuintes brasileiros, os principais sócios da empresa. São menos dividendos, menos impostos e menos investimentos.
A política de preços da Petrobras é a mesma de qualquer empresa que comercializa commodities, sejam elas petróleo, minério de ferro, carne ou café. Submete-se aos preços internacionais e ao câmbio.
No governo Dilma a empresa chegou à beira do precipício, essencialmente por conta dos subsídios aos preços dos combustíveis, estimados em cerca de R$ 100 bilhões (isso mesmo, bilhões).
No afã de atender uma categoria, não pode o governo colocar em risco todo um trabalho de recuperação da empresa. A questão dos caminhoneiros não passa pela Petrobras.
Dentre todos os custos do setor, o maior dele está associado a um mercado saturado, com excesso de oferta de frete, decorrente do baixo desempenho da economia e de mais caminhões do que o mercado de carga rodoviária demanda. No governo do PT instituiu-se um programa de subsídios para a compra de caminhões, em um momento em que o modal rodoviário já deveria ser repensado (veja-se que a prevalência da política sobre a razão não conhece ideologia).
Em outros termos, o problema é estrutural e não conjuntural. Temos mais caminhões e caminhoneiros do que o necessário.
A dura realidade é que a profissão de caminhoneiro está em extinção no mundo. Nos Estados Unidos é a profissão que mais emprega (cerca de 3 milhões de caminhoneiros) e, segundo estimativas de especialistas, caminhoneiros não existirão mais em até 20 anos.
Gastar dinheiro em estradas de melhor qualidade, por exemplo, reduz o consumo de combustível e traz economia maior do que um corte de 9% no preço na refinaria (metade disso no preço da bomba). Além de melhorar, claro, as condições de segurança para todos os usuários.
E, não menos importante, não há como justificar subsídios a combustíveis fósseis líquidos, em um movimento na contramão do que ocorre no mundo, em processo de transição para combustíveis menos poluentes.
Em resumo, ou se aponta a busca de soluções na direção certa, ou mais uma vez a Petrobras irá sofrer as consequências de um problema que não é seu. E, para piorar, a empresa poderá dizer adeus ao seu programa de vendas de refinarias, que dará ao mercado a competição e a transparência necessárias em relação ao mercado de combustíveis.
Portanto, caro leitor, como acionistas diretos ou indiretos da Petrobras, é necessário brigar pela preservação de nosso patrimônio. Não por conta de um nacionalismo bobo, mas pela lógica de que uma empresa forte e saudável, privada ou estatal, é o que interessa para o país.
Assim como se resistiu à captura corporativa da Petrobras, não é admissível que esta captura agora se dê por conta de uma categoria profissional. Não pode o governo caminhar para escorregar numa casca de banana à vista de todos.
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