Fundos se animam com petróleo e preveem barril a US$ 80 até o fim do ano

Argumento é que produção não vai acompanhar aumento na demanda com retomada da economia global

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Toronto | Reuters

Os fundos de hedge (de “proteção”, que reduzem ou eliminam os riscos com a variação de preços) estão se animando com o petróleo novamente, apostando que a pandemia e o enfoque ambiental dos investidores prejudicaram gravemente a capacidade das companhias de aumentar a produção.

Tais limitações de oferta elevariam os preços para picos não vistos há muito tempo e os manteriam lá durante dois anos ou mais, segundo vários fundos hedge.

A opinião é uma reversão para os fundos, que venderam a descoberto o setor de petróleo na escalada dos fechamentos globais, dando aos fundos enfocados em energia ganhos de 26,8% em 2020, segundo dados da eVestment.

Devido a suas estratégias de movimento rápido, os fundos hedge são ágeis para localizar novas tendências.

O petróleo Brent, benchmark global, saltou 59% desde o início de novembro, quando surgiram notícias de vacinas bem-sucedidas, depois que as limitações a viagens pela Covid-19 e os lockdowns achataram a demanda por combustível e fizeram despencar os preços dos combustíveis.

Na semana passada, atingiu níveis pré-pandemia, perto de US$ 60 o barril.O WTI, negociado nos EUA, subiu 54%, para cerca de US$ 57 o barril durante o mesmo período.

“No verão [do hemisfério Norte], a vacina deverá estar amplamente aprovada e a tempo para as viagens de verão, e acho que as coisas vão estourar”, disse David D. Tawil, cofundador do fundo hedge voltado para eventos Maglan Capital.

Tawil prevê preços de US$ 70 ou US$ 80 o barril para o Brent até o fim de 2021 e está investindo em produtores independentes de gás e petróleo.

As apostas ocorrem apesar da advertência da Agência Internacional de Energia em janeiro de que um aumento de novos casos de coronavírus prejudicaria a demanda por petróleo neste ano, e uma lenta recuperação econômica atrasaria a plena recuperação da demanda mundial por energia até 2025.

Normalmente, os produtores de petróleo aumentariam a produção com a elevação dos preços, mas uma mudança dos investidores voltados a meio ambiente de combustível fósseis para renováveis e a cautela de credores os pressionam a reagir, segundo fundos hedge e outros investidores.

O ritmo da recuperação da produção nos Estados Unidos, o maior produtor mundial de petróleo, deverá ser lento e não atingirá seu recorde de 2019 de 12,25 milhões de barris por dia (bpd) até 2023.

A produção em 2020 despencou 6,4%, para 11,47 milhões de bpd.A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que também revisou para baixo o crescimento da demanda, porém, ainda espera que cortes da produção manterão o mercado em deficit durante 2021. “Veremos alguns preços de petróleo incríveis nos próximos anos, incrivelmente quentes”, disse Tawil.

A produção global de petróleo cru e condensado caiu 8% em dezembro, em relação a fevereiro de 2020, antes que a disseminação da pandemia se acelerasse, segundo a Rystad Energy. A produção na América do Norte caiu 9,5%, e a da Europa, apenas 1% no mesmo período.

As sanções dos EUA contra a Venezuela e os campos de petróleo em declínio no México mantiveram lenta a produção na América Latina.

Alguns bancos estão prevendo que os EUA, que lideram o número de casos de Covid, alcancem a chamada imunidade coletiva contra a Covid em julho, o que estimularia muito a demanda por petróleo, segundo Jean-Louis le Mee, chefe do fundo hedge Westbeck Capital Management, de Londres, que é uma mistura de futuros de petróleo e equities.

“As companhias de petróleo, pela primeira vez em muito tempo, provavelmente farão um grande retorno”, disse ele. “Temos todos os ingredientes para um mercado extraordinário para o petróleo nos próximos anos.”

Nos Estados Unidos, os fundos hedge aumentaram sua alocação para a Exxon Mobil Corp em 21.314 ações no terceiro trimestre, o registro mais recente nos EUA compilado pela Symmetric.io.Os fundos hedge acrescentaram 9.070 ações das grandes americanas ConocoPhilips e 4.144 da Chevron Corp no mesmo período.

Em outros lugares, a atividade a descoberto em BP PLC caiu em 16 milhões de ações em 4 de fevereiro, mas aumentou ligeiramente na grande do petróleo europeia Royal Dutch Shell Plc em 1,9 milhão de ações, segundo dados da FIS’ Astec Analytics.

Alguns investidores continuam céticos sobre as companhias de petróleo canadenses, entre as mais intensivas produtoras de carbono do mundo, embora elas estejam se recuperando mais depressa da pandemia que os Estados Unidos.

Posições a descoberto atuais aumentaram em 10 de 14 companhias de petróleo canadenses no índice de energia de Toronto durante as segundas duas semanas de janeiro, segundo registros vistos pela Reuters.

A produção de xisto dos EUA não vai se recuperar rapidamente, dado o capital necessário e a dívida que os produtores carregam, emprestando apoio aos preços do petróleo, disse Rafi Tahmazian, gerente sênior de portfólio na Canoe Financial, em Calgary.

O setor de serviços em campos de petróleo da América do Norte, com que os produtores contam para perfurar novos poços, foi dizimado, disse ele.“Eles estão decapitados na capacidade de crescer”, disse Tahmazian. “O lado da oferta está quebrado.”

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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