Bolsas caem após ata do Fed revelar debate sobre aperto da política monetária americana

Algumas autoridades avaliam mudança, que aumentaria os juros, frente a recuperação econômica do país

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São Paulo

A ata da última reunião de política monetária do Fed, o banco central americano, causou volatilidade nos mercados nesta quarta-feira (19) e levou as principais Bolas globais a fecharem em queda.

O documento mostrou que algumas autoridades do Fed pareciam prontas para começar a avaliar mudanças na política monetária dos Estados Unidos com base no rápido e contínuo progresso da recuperação econômica, o que levaria a uma alta nos juros locais e a uma redução na injeção de liquidez no mercado, prejudicando ativos de renda variável.

painel na B3
Painel na B3, em São Paulo; Bolsas fecham em queda nesta quarta (19), após ata do Fed - Paulo Whitaker/REUTERS

A discussão sobre uma possível mudança na atuação do Fed levou os principais índices de Wall Street a encerrarem o dia em baixa. O Dow Jones desvalorizou-se 0,48%, o S&P 500 recuou 0,29%, e o Nasdaq teve leve queda de 0,03%.

A reunião da autoridade monetária, porém, foi antes de serem divulgados os dados de emprego em abril, que vieram bem abaixo das expectativas, o que reforça a necessidade de estímulos. Além disso, o Fed ainda vê a crescente inflação como transitória.

Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, a inflação derivada da alta nos preços de matérias-primas deve ser transitória, mas o aumento dos preços decorrente da recuperação econômica pode escalar por mais tempo.

"Está implícito na ata que o Fed não quer ser o primeiro a gritar 'fogo'; eles sabem que isso seria desastroso em diversos níveis", diz Perfeito.

O Ibovespa acompanhou o viés negativo e fechou em queda de 0,27%, a 122.636,30 pontos. A Bolsa também foi pressionada pela queda nos preços das commodities.

A Vale caiu 2,05%, na esteira do declínio dos preços do minério de ferro na China nesta quarta. CSN fechou em baixa de 3,98%.

As ações preferenciais (mais negociadas) da Petrobras recuaram 0,76%, pressionadas pela queda dos preços do petróleo no exterior, onde o Brent –contrato de referência da companhia– encerrou a sessão com perda de 3%, a US$ 66,66 o barril.

A Cyrela cedeu 4,03%, tendo de pano de fundo relatório do Credit Suisse elaborado após encontro com executivos da construtora, no qual, segundo relato dos analistas do banco, a companhia reafirmou visão positiva para o setor, apesar de observar alguma desaceleração no desempenho de lançamentos e custos de mão de obra acima do esperado.

As ações ordinárias (com direito a voto) e preferenciais (sem direito a voto) da Eletrobras subiram 4,17% e 3,62%, respectivamente, renovando máximas históricas, em meio à repercussão positiva entre analistas de mudanças propostas à medida provisória de privatização da elétrica, que a Câmara dos Deputados deve votar nesta quarta. No setor, Cemig avançou 5,07%.

BRF valorizou-se 4,56%, acelerando a recuperação em maio após queda de 17,6% em abril. De pano de fundo, os preços da soja em Chicago recuaram, enquanto o milho terminou quase estável após recuar mais cedo.

Dólar volta a ultrapassar os R$ 5,30

O dólar fechou em alta de 1,18%, a R$ 5,3150, com o fortalecimento global da divisa americana após a ata do Fed.

"O aumento das expectativas do mercado de alta nos juros americanos de curto prazo deve levar a um cenário de maior saída de capital das economias emergentes, como o Brasil, rumo aos títulos públicos estadunidenses, considerados os investimentos de menor risco no mundo", afirma Paloma Brum, analista de investimentos na Toro.

Tal movimento enfraqueceria o carry trade, prática de investimento em que o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, no caso, os Estados Unidos, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior, como o Brasil.

Nesta quarta, o rendimento dos títulos do Tesouro americano com prazo de dez anos subiu para 1,678% ao ano.

Com juros mais altos nos EUA, o dólar tenderia a subir ante o real, o que pressionaria o BC local a subir mais a Selic, levando o mercado de ações a sofrer maiores ajustes.

"Acho que foi um susto e que, no fim, o Fed vai manter sua postura acomodatícia na política monetária", disse Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.

Caso o juro americano siga próximo de zero, o caminho seria de mais valorização para o real, especialmente pela retomada da economia local e trajetória de alta na Selic.

Contribuindo para um clima de aversão a risco nesta quarta, as criptomoedas bitcoin e ether estavam a caminho de registrar a maior perda diária desde março do ano passado, na esteira da decisão da China de proibir instituições financeiras e de pagamento de fornecer serviços de criptomoeda.

Empresas relacionadas a criptomoedas, como Coinbase Global, as mineradoras Riot Blockchain e Marathon Digital Holdings, viram suas ações recuarem drasticamente no pregão.

(Com Reuters)

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