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Bitcoin despenca por medo de repressão regulatória

Autoridades chinesas sinalizam medidas de repressão ao uso de moedas digitais

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Thomas Hale Tabby Kinder Philip Stafford
Hong Kong e Londres | Financial Times

Os mercados de criptomoedas oscilaram em meio a transações caóticas, e as ações relacionadas a eles caíram depois que as autoridades regulatórias chinesas sinalizaram medidas de repressão ao uso de moedas digitais, cujas cotações dispararam este ano.

O bitcoin caiu em até 30%, para US$ 30.101 (R$ 158,9 mil), antes de recuperar parte das perdas e reduzir a queda a menos de 8%.

Outras moedas digitais também foram atingidas pelas vendas pesadas, com o ethereum, uma das criptomoedas de melhor desempenho no mês passado, perdendo um quarto de seu valor antes de recuperar parte das perdas e fechar em queda de cerca de 16%.

Mais de US$ 8,6 bilhões (R$ 45,4 bilhões) em posições de criptomoedas foram liquidadas nas últimas 24 horas, de acordo com números da bybt.com, que fornece dados sobre criptomoedas.

A oscilação surgiu depois que o Banco Popular da China (banco central) alertou as instituições financeiras contra aceitarem criptomoedas em pagamento e contra oferecerem serviços e produtos relacionados a elas, o que intensificou a preocupação dos investidores de que as autoridades podem apertar a fiscalização dessa classe de ativos que opera quase sem controle.

Elon Musk, presidente-executivo da Tesla e entusiasta vigoroso das criptomoedas, mudou de ideia na semana passada sobre aceitar bitcoins como pagamento na compra de carros da Tesla, por motivos ambientais, o que também agravou as preocupações em longo prazo sobre essa categoria de ativo.

Em tuíte na quarta-feira, Musk indicou que a Tesla reteria bitcoins em longo prazo, e não venderia as posições que detêm na moeda.

Representação virtual do bitcoin; criptomoeda despenca por medo de pressão regulatória - Dado Ruvic - 22.abr.21/Reuters

Cathie Wood, fundadora da Ark Invest, administradora de fundos que investiu pesadamente em companhias relacionadas a criptomoedas, também reiterou seu apoio ao bitcoin.

“Estamos vivendo um período de preocupação, de abandono de modelos, mas, sim, nossa convicção continua forte”, disse à Bloomberg Television.

As condições de mercado eram altamente voláteis, com o preço do bitcoin oscilando de maneira muitas vezes selvagem. A Binance e a Coinbase, duas das bolsas de criptomoedas mais conhecidas, passaram ambas por problemas técnicos em seus mercados, quando usuários tentaram vender posições.

Outras criptomoedas também caíram, entre as quais o dogecoin, uma criptomoeda encarada como piada, que registrou queda de mais de 40%.

Os títulos americanos vinculados às transações e aos preços de criptomoedas também caíram na abertura do mercado, antes de se recuperarem.

As ações da Coinbase caíram em até 12%, para um recorde de baixa, e as da MicroStrategy, uma empresa de software transformada em investidora de bitcoin, caíram em 15%. A Marathon Digital Holdings, mineradora de criptomoedas, registrou queda de 13%. A Galaxy Digital Holdings, companhia de investimento do empreendedor Michael Novogratz, caiu em 12%.

Moedas virtuais “não são moedas verdadeiras” e “não deveriam e não podem ser usadas como moeda nos mercados”, afirmou o banco central chinês em um comunicado divulgado na noite de terça-feira (18). A instituição se referiu a uma recente alta de preços como “especulação”.

O desdobramento reflete a campanha da China para limitar a atividade institucional com criptomoedas, enquanto o país se prepara para lançar sua moeda digital. Outros mercados, como o dos Estados Unidos, mantiveram-se comparativamente abertos a envolvimento institucional.

“Parte disso é que eles têm seu yuan digital, parte é falta de controle em termos de saídas de capital, e parte é uma tentativa de proteger as pessoas contra trapaças”, disse Paul Haswell, sócio do escritório de advocacia Pinsent Masons, de Hong Kong, sobre as medidas de repressão chinesas.

A pressão da China sobre as criptomoedas ganhou ímpeto em 2017, quando as autoridades fecharam as bolsas de bitcoin do país, que antes respondiam pela maior parte das transações mundiais.

Os planos do governo para um yuan digital, que ofereceria ao banco central um registro de todas as transações cambiais em tempo real, poderiam criar um mecanismo rival de pagamento eletrônico para competir com as vastas plataformas de tecnologia financeira do Ant Group e do Tencent.

Nos Estados Unidos, as autoridades facilitaram a compra de criptomoedas pelos investidores pessoa física, e permitiram que ações de bolsas de criptomoedas fossem cotadas em mercados públicos.

Grandes instituições financeiras americanas como o Goldman Sachs e o JPMorgan Chase estão estudando oferecer investimentos em moedas digitais para seus clientes de administração de patrimônio.

Mas as organizações de fiscalização financeira apontaram para a necessidade de maior proteção aos consumidores.

Em sua mais recente revisão de estabilidade, o BCE (Banco Central Europeu) afirmou que a volatilidade de preços do bitcoin o torna arriscado, e também apontou para “a emissão exorbitante de poluentes que sua mineração gera” e seu “potencial uso para fins ilícitos”. Mas os riscos para a estabilidade das instituições financeiras na zona do euro eram limitados porque a exposição delas era baixa, acrescentou o BCE.

O preço do bitcoin disparou em 300% nos últimos 12 meses, a despeito da recente onda de vendas. O BCE apontou que a alta nos preços do bitcoin eclipsou bolhas financeiras famosas do passado como a “mania das tulipas” e a bolha da Companhia dos Mares do Sul, nos séculos 17 e 18.

“Não me surpreenderia que outras autoridades regulatórias e econômicas fizessem o mesmo [que as chinesas em termos de restrições], nas próximas semanas, alertando os investidores sobre o risco de transações especulativas e sobre a volatilidade dos mercados de criptomoedas”, disse Henri Arslanian, vice-presidente mundial da área de criptomoedas na consultoria PwC.

“A realidade é que estamos vendo a entrada contínua de investidores institucionais e operadores institucionais nessa área, e é improvável que isso se desacelere no futuro previsível”.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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