Descrição de chapéu desmatamento

Fundo do parlamento britânico financia desmate ao investir na JBS, diz ONG

Empresa nega que seus produtos tenham ligação com irregularidades e questiona a qualidade de relatório

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São Paulo

O fundo de pensão do parlamento britânico financia o desmatamento da Amazônia através de investimentos na JBS, segundo um relatório publicado nesta terça-feira (25) pela ONG britânica Feedback, a partir da análise de dados divulgados anualmente pelo governo do Reino Unido.

Segundo o relatório, o parlamento investe em um fundo da gestora Blackrock, chamado iShares, que aplica US$ 67 milhões (R$ 356 milhões) nas 35 maiores empresas do setor de carne e laticínios do mundo. Desse total, US$ 8 milhões (R$ 42,5 milhões) vão para a JBS.

Maior produtora de carne do mundo, a brasileira é o destaque do relatório por suas implicações com o desmatamento na Amazônia e no Cerrado, através da compra de gado provenientes de áreas desmatadas ilegalmente, reveladas por investigações e monitoramentos independentes das cadeias produtivas, como já mostraram as iniciativas Mighty Earth e Trase.

Após sofrer pressões internacionais de investidores, a JBS anunciou no último mês o compromisso de zerar o desmatamento da sua cadeia produtiva até 2025.

Logo da JBS em parede
Fábrica da JBS em Greeley, no Colorado (Estados Unidos) - Shannon Stapleton/Reuters

Em nota, a JBS refutou a informação de que seus produtos tenham ligação com desmatamento e questionou a qualidade do relatório.

“A JBS não tolera desmatamento em sua cadeia de fornecimento, conforme Política de Compra Responsável de Matéria-prima, aplicada a todos os seus fornecedores”, diz o texto da nota. “O relatório em questão contém falhas graves”, reforçou. A Blackrock não retornou ao contato da reportagem.

​Além da crítica ao financiamento da JBS, o relatório aponta problemas nos critérios da gestora Blackrock por investir em produtoras de petróleo como a ExxonMobil, Shell e British Petroleum.

O fundo de pensão do parlamento britânico não detalha os valores investidos no fundo da Blackrock, mas a análise aponta que mais de 40% dos ativos do fundo de pensão estão distribuídos em sete fundos da Blackrock.

“Este tipo de alerta mostra que os compromissos do fundo do parlamento de contribuir para chegarmos a emissões zero em 2050 são um tanto vazios”, afirma Jessica Sinclair Taylor, responsável pelo relatório da Feedback.

As informações do relatório são usadas pelos ambientalistas britânicos para pressionar o parlamento a responsabilizar o setor financeiro na nova legislação ambiental que deve ser aprovada neste ano.

A proposta pretende atribuir às importadoras a tarefa de rastrear suas cadeias de fornecimento e garantir ao governo que não estão contribuindo com a ‘importação de desmatamento’, principalmente através de produtos com alto risco de conexão com o desmate, como carne bovina, soja, óleo de palma, cacau e borracha.

“O esforço da União Europeia para acabar com o desmatamento é melhor; o parlamento europeu já recomenda uma regulamentação que inclui o setor financeiro na responsabilidade de provar que não financia o desmate. Se o Reino Unido não o fizer, terá uma lei ultrapassada antes mesmo dela vigorar”, afirma o relatório.

A pressão ambientalista conta com o fato de o Reino Unido sediar neste ano dois encontros globais que devem pautar a questão climática: o encontro do G-7, em junho, e a COP do Clima da ONU, em dezembro.

Membros do parlamento britânico que acessaram as informações do relatório afirmaram estar surpresos com o destino do seu fundo de pensão.

“Esta nova evidência prova que o projeto [de lei ambiental] deve ir mais longe ”, disse Neil Parish, Membro do Parlamento (MP) do partido conservador.

“Estou chocada por saber que as próprias pensões dos parlamentares estão financiando empresas que têm sido repetidamente ligadas não apenas ao desmatamento, legal e ilegal, mas também a péssimas condições de trabalho nas fazendas brasileiras”, disse Kerry McCarthy, parlamentar do partido trabalhista.​

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